1. inception

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"Não acho que posso voltar a ser como era,
quando eu não te conhecia.
Depois que encontrei você,
eu te desejo mais,
está fora de controle."

Eu gosto de observar a pintinha do lábio inferior de Jung Wooyoung. Às vezes eu passo minutos inteiros encarando-a sem me dar conta de que pode parecer estranho pra quem vê de fora. Em minha defesa, qualquer um que visse a pintinha do lábio inferior de Jung Wooyoung, da distância que eu estou vendo, também ficaria hipnotizado.

Wooyoung não ajuda nem um pouco com sua mania de nunca parar a boca por mais de um minuto. Ele conversa e conversa sem parar, conta histórias e piadas, cantarola e assobia, e então meus olhos ficam sempre seguindo seus lábios em qualquer direção para qual ele os aponte, como se fossem malditos ratos seguindo o flautista de Hamelin.

Mas não é o caso agora, o que me deixa sem nenhuma justificativa para estar encarando. Tal qual a passagem de um cometa raro, esse é um dos poucos momentos em que seus lábios estão parados e até meio abertos por causa da bochecha esquerda esmagada em seu braço, enquanto ele ressona num cochilo que deveria ser menos profundo para o lugar em que estamos – o restaurante barulhento da universidade.

Vinte minutos atrás, Woo chegou com sua cara de segunda-feira, (o que seria completamente aceitável se hoje não fosse uma quinta) jogou sua mochila no chão e se sentou ao meu lado puxando minha mão para sua cabeça, enquanto acomodava seu rosto contra a superfície fria da mesa. Eu sabia que isso significava ressaca de festa no meio da semana, então nem fiz perguntas. Só movi meus dedos num cafuné em seus cabelos intercalando com massagens esporádicas na lateral de seu rosto. E foi assim que acabei com o braço esquerdo quase paralisado de câimbra e os olhos grudados em sua boca.

Eu poderia passar o resto do dia inteirinho olhando assim pra ele. Não só para a pintinha no lábio inferior, mas para todas as minhas outras partes favoritas de Jung Wooyoung. Como a outra pintinha que fica logo abaixo do seu olho esquerdo, bem centralizada na pele levemente bronzeada em cima da maçã de seu rosto, ou a linha reta do seu maxilar e as curvas para seu queixo e bochecha, ou o osso proeminente do seu nariz e o jeito que ele fica franzido quando ele ri, ou seu cabelo cheiroso que continua macio mesmo depois de tantas descolorações...

– Sanie! – a voz alta de Seonghwa quebra meu pensamento. Seonghwa raramente fala alto. Sua voz é sempre suave e cadenciada, e ouvi-lo aumentá-la me faz arregalar os olhos em sua direção. Ele está sentado exatamente em minha frente, do outro lado da mesa. Hongjoong ao seu lado rindo de mim.

– Hyung, nem vi vocês voltarem.

– Você parecia estar focado em algo mais importante. – é HongJoong que aponta com o queixo na direção de Woo e eu solto um suspiro tirando minha mão de sua cabeça para esticar meu braço dormente. Woo resmunga ainda de olhos fechados e eu sorrio voltando meus olhos pra ele.

– Sanie... – o tom de Seonghwa volta à suavidade e eu sei exatamente o que ele quer dizer antes mesmo que fale.

– Tá tudo bem, hyung. Não se preocupe. – digo tentando abrir um sorriso pra dizer que está mesmo tudo bem.

Talvez você não entenda porque o simples fato de eu fazer cafuné em Woo deixaria Seonghwa preocupado. Às vezes eu também finjo não entender, mas Hwa já me viu chorar vezes demais pra simplesmente ignorar.

Foi ele quem afagou meu cabelo, me cobriu e embalou meu sono todas as vezes que cheguei em casa chorando depois de ver Woo beijar alguém na minha frente em alguma festa. Era ele quem acariciava minhas costas em conforto todas as vezes que Woo ficava interessado em outra pessoa e me fazia ouvir as histórias.

FEVER || woosanOnde histórias criam vida. Descubra agora