"Eu sei como você se sentiu
Só de pensar nisso, meu coração dói
Não sei se conseguiria
Segurar sua mão."w o o y o u n g
A varanda do nosso apartamento está longe de ser arrumada e aconchegante como a da outra metade do grupo. Na varanda dos Seongjoong, San e Jongho há plantas e poltronas bonitas dando de frente para uma vista levemente arborizada que traz uma sensação de frescor e ar puro, mesmo no centro de Seul. Já a nossa varanda é apenas um retângulo adjacente ao apartamento. A grade e a tela contra mosquitos formam um mosaico na vista dos outros prédios ao redor e nós não temos nada além de dois banquinhos de madeira baixos demais para que alguém tenha vontade de sentar. Ainda assim, quando preciso clarear a mente sozinho, é pra lá que vou.
É onde estou agora, tomando café porque é cedo demais pra beber algo alcoólico e Yeosang me mataria.
O céu está meio nublado e o cinza dele e dos prédios não atrai meus olhos, mas continuo observando, tentando me ater a pequenos detalhes para acalmar minha mente. Vejo uma vizinha do prédio da frente pendurar roupas num suporte, outra coloca comida para seu gato laranja e no céu um bando de pássaros cortam as nuvens num V espantosamente simétrico.
– Cedo demais. – a voz rouca de um Yeosang sonolento me faz soltar uma risadinha. Seus olhos estão inchados e os fios loiros apontam para todos os cantos.
– Vocês dormiram muito tarde? – pergunto dando uma olhadinha para dentro da sala, onde Mingi, Yunho e Hongjoong ainda dormem estirados entre almofadas no tapete.
– Umas duas da manhã, não muito depois de você. – ele murmura depois de coçar os olhos e esticar uma mão para agarrar a minha que segura a caneca. Puxa em direção ao próprio nariz e assente quando confirma que é só café. – Muito bem. – reviro os olhos.
– Como você tá?
– Como eu tô? Foi você que se abriu pro amor da sua vida ontem. Como você está? – ele pergunta e eu suspiro engolindo o resto do café, amargo e já frio demais.
– Não sei... Mesmo não sendo bom, foi menos pior do que imaginei e agora que não tô tendo uma porcaria de crise de pânico eu meio que me sinto... aliviado por ter contado a ele? Como se o peso tivesse saído de minhas costas.
– Fico feliz, Woo. Acho que foi bom pra você... – ele sorri depois de um tempo e encosta o corpo na parede do lado oposto ao que estou. Olha só por uns segundos para a paisagem cinzenta e então suspira. – Você deveria considerar mesmo um psicólogo, como Hongjoong hyung sugeriu. – diz cuidadosamente e eu sei que é porque tem medo de me ver fugir da conversa de novo.
Mas, diferente de tudo que achei que iria sentir depois de me abrir com San, sinto algo muito mais próximo de alívio. Alguma coisa muito perto do sentimento de... liberdade? Não é como se todo o ódio tivesse sumido ou todas as memórias não mais me perturbassem, pra ser sincero não acredito que isso um dia vá acontecer, mas agora me sinto quase... quase propenso a tentar algo diferente de sufocar sozinho.
– Eu odeio sentir medo, Yeo. – murmuro e faço uma careta para o som rouco da minha voz. – Odeio que meu maior medo seja de algo que sinto que não tenho controle. Mas... Eu sei que preciso controlar isso. – sacudo a cabeça porque não sei se estou fazendo sentido. – Preciso aprender a controlar esse medo porque... Depois de ontem, acho que percebi que ele me machuca mais do que meu pai um dia já fez.
Vejo um sorriso mínimo pintar os lábios de Yeosang e desvio o olhar para a tela à minha frente.
– Sei que preciso de ajuda e eu quero, mas... talvez eu precise só de um pouco mais de tempo. Eu... só...
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FEVER || woosan
Roman d'amourChoi San é fascinado pelas pintinhas e todos os outros detalhes sobre Jung Wooyoung. Apaixonado desde que o conheceu numa calourada há dois anos, esconde o sentimento para não correr o risco de perder o melhor amigo que sempre deixa claro, pra quem...