Os gritos, mais uma vez eles ultrapassam o som dos meus fones naquela semana o que poderia ser tão ruim a ponto de fazer alguém gritar dessa maneira?
Passo a mão pelo meu rosto seguindo até o cabelo antes de verificar o horário, quatro da manhã. Olho para o telefone na cabeceira da minha cama e diferente da primeira vez decido não ligar para recepção.
Salto da cama colocando os sapatos de qualquer maneira em meus pés e marcho em direção ao quarto ao lado ainda escutando alguns gritos agora mais baixos.
- S/N! - Bato com força na porta - S/N!
Giro a maçaneta na esperança de que ela tivesse esquecido a porta aberta, mas estava perfeitamente trancada. Volto a meu quarto correndo pegando da minha mochila as duas pequenas chaves perfeitas para destravar aquela porta.
Não tinha como hábito invadir lugares, mas destravar fechaduras era não só um esporte meu favorito como de todos os hackers...o sistema perfeito para invadir era completamente diferente dos sistemas virtuais com esse eu consegue sentir, ver e ouvir.
Destravo a porta e avanço para dentro do quarto, me aproximando da cama encarando seu rosto no escuro completamente molhado por suor e lágrimas, lágrimas essas que ainda corriam por seu rosto.
- S/N, acorde.
Sacodi levemente seus ombros esperando que ela acordasse e aquilo realmente funcionou, mas não dá maneira que eu esperava. Assim que seus olhos se abriram, ou mais especificamente se esbugalharam, senti um forte impacto na lateral esquerda do meu rosto me fazendo perder o equilíbrio para direita.
Um soco! Ela havia me socando quando tudo que eu queria fazer era ajudar ela.
O gosto de ferrugem veio a minha boca comprovando que aquilo realmente havia acontecido. Passo a língua pelo meu lábio inferior sentido uma leve ardência quando ela encontra a superfície cortada.
Ela acendeu a luz ao lado de sua cama e seus olhos me encaram de maneira vazia e raivosa.
- Por quê entrou no meu quarto? - Ela ficou de pé a minha frente cruzando os braços sob o peito e me encarando com um olhar furioso em seu rosto não se preocupando em secar as lágrimas que desciam segundos antes ou, talvez, ela nem soubesse que estava chorando.
- Você estava gritando, bati na porta, mas você não me ouviu.
Aos poucos sua expressão de fúria da lugar a um olhar vazio, seus braços agora estão rentes ao seu corpo e ela encara algum ponto na parede atrás de mim.
- Continua não sendo um motivo para você ter entrado aqui. - Estica a mão para mim - Mas valeu, só não faz isso de novo.
- Claro, claro - Passo o dedo sobre meu lábio - Você vai ficar bem?
- Uhum, espera.
Ela foi até a bolsa e voltou com um pequeno tubo de pomada.
- Vai ajudar a cicatrizar mais rápido.
Esse era o motivo que me deixava tão incomodado na presença dela, mesmo que eu soubesse de tudo sobre ela parecia que na realidade eu não tinha noção alguma de quem ela era. Suas ações simplesmente não faziam sentido e suas mudanças repentinas de humor não me deixavam acompanha-la.
- Obrigada. - Peguei a pomada de sua mão e sai do quarto.
♧♧
Eu deveria me alimentar melhor ou tentar sair no sol e perder o tom pálido da minha pele, em que momento minha vida havia ficado tão bagunçada?
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A garota dos olhos de esmeralda - Duskwood
RomanceA família de S/N sempre passara seus verões em duskwood. Caminhadas ao longo das margens do lago e correr sem destino pela floresta era uma das diversas brincadeiras que a menina fazia com seus amigos de verão. Mas tudo muda quando um inesperado aci...