Tudo em minha nova casa era incrível. Na verdade eu acreditei estar em um pedacinho de Hollywood, ao avistar a mansão que eu chamaria de lar.
A casa era exótica, alta, com paredes de vidro intercalando com as de concreto, possuía um jardim muito verde e com flores coloridas e escadas suntuosas, projetadas de uma maneira completamente moderna.
Era simplesmente um luxo!
O lugar ocupava mais de uma quadra e possuía piscina, quadra de futebol, sauna, academia e outras áreas de lazer ali integradas. Não parecia uma moradia, mas sim, um hotel cinco estrelas.
Me esforcei para parecer natural, habituado e até meio entediado com tudo aquilo, mas a verdade era que o meu queixo queria vir abaixo, sempre que eu percebia um detalhe milionário no lugar onde eu iria residir.
Tendo me despedido do “meu” amigo ruivo e perdendo de vista o motorista da casa e Coraline, eu me permiti suspirar, podendo respirar a vida que eu realmente levava; que não era a do Lucas que havia vivido ali há pouco tempo atrás.
Como a curiosidade tomava lugar dentro de mim, resolvi vasculhar cada lugar daquela mansão. Afinal, eu precisava mesmo conhecer, para o caso de alguém me fazer alguma pergunta absurda.
Todavia, com o modo que eu fui conhecendo cada canto, percebi que seria impossível guardar qualquer coisa que fosse. Então caso alguém me perguntasse coisas rotineiras sobre o lar, eu me faria de esquecido e debilitado depois do acidente.
Com o passar dos minutos, comecei a escutar uma música ressoar por toda a casa. Contudo, mesmo alta, a melodia parecia vir dos últimos andares.
Subi os degraus, observando quadros, tapeçaria e outros ornamentos de valor, porém, ao chegar ao último andar, percebi que a porta de onde a música vinha, estava fechada.
Naquele instante, me vendo em um longo corredor, percebi que era ali que deviam estar os quartos. Logo suspeitei que a música estrondosa viesse do quarto de Coraline.
Percorri o resto do corredor, investigando os aposentos. Eu ainda tinha que descobrir aonde seria o meu mundinho privado. No entanto, depois de olhar um por um, tive a certeza que o último e maior deles era o meu.
O ambiente era todo sofisticado, com móveis de madeira nobre e cortinas longas, que cobririam toda a parede de vidro que me permitia ter uma bela visão, me dando privacidade nos momentos que eu quisesse.
No canto do quarto tinha um sofá de couro preto e uma estante com alguns livros. Não muito distante, estava uma mesa toda organizada entre papéis, objetos e até mesmo um notebook de última geração.
Tudo estava em seu lugar, e somente eu, parecia não me encaixar ou pertencer perfeitamente àquela organização.
Mas também estava decidido a me adaptar às possibilidades que aquele aposento me dava.
Como se eu fosse um detetive em cena de crime, comecei a vasculhar armários, gavetas, cheirar roupas, experimentar perfumes, ler planilhas e outros documentos.
Nada daquilo fazia parte da realidade que eu podia lembrar, mas tudo aquilo fazia parte da realidade que eu iria viver. E por isso, eu precisava mais que urgentemente, conhecer ao menos as minhas coisas pessoais.
Depois de certo tempo fazendo uma averiguação do local, percebi que até mesmo ali, o trabalho seria longínquo. Voltei então a observar os aparelhos de última geração que eu possuía ali, somente à minha disposição.
Minhas posses iam de um aparelho de som que mais parecia o de uma balada, um televisor de LED que mais parecia a tela de um cinema, junto com um aparelho de blue ray. No meu criado-mudo, tinha um abajur, que até parecia uma constelação.
Ali também havia diversos controles remotos, aparelhos de telefonia, tablet e até mesmo um despertador digital, muito bonito… Eram tantas coisas, que até me joguei na cama, constatando que o colchão era mais macio que as nuvens do paraíso.
Interessado naquele quarto surreal, eu peguei todos os controles e comecei a apertar todos os botões, como uma criança que viaja de elevador pela primeira vez. E para a minha não mais surpresa, o cômodo era mesmo um mundo.
Todas as cortinas eram eletrônicas. O aposento tinha um sistema de refrigeração e aquecimento tão potentes, que acreditei que aquilo poderia congelar ou esquentar o mundo em segundos.
Ali também havia um sistema de luminosidade, que fazia com que lâmpadas se alternassem, podendo causar efeitos diferentes no ambiente.
Tudo ali era demais. Sem contar que eu não precisaria sair do meu quarto para tomar uma bebida gelada na madrugada, pois em seu interior também tinha um frigobar, assim como uma coleção completa de filmes.
Tudo ali indicava que o velho Lucas não era só muito rico, mas também muito vaidoso, pois o seu guarda-roupa estava repleto de roupas com estilo e de marcas muito bem conceituadas.
Havia uma fortuna ali, o que também deveria ter nos outros cômodos, e ainda mais, no quarto de Coraline, que era uma garota e por ser mimada, com certeza, também devia gastar horrores.
Com a finalização do passeio, fui parar no banheiro. Até ali tudo era impecavelmente caro. O chuveiro parecia uma cascata, a banheira era na verdade, um ofurô luxuosíssimo e tudo ali, parecia feito do mais requintado material, pois não parecia um banheiro, mas sim, um paraíso particular.
Resolvi então me livrar do cheiro impregnado de hospital, porém, logo me lembrei também, que aquele seria o meu momento de maior provação. Aquele era o instante em que conheceria o meu novo corpo, completamente nu.
Arranquei a minha roupa, e sem me encarar no espelho, toquei nas minhas partes íntimas.
A sensação foi ao mesmo tempo estranha e sensacional. O impacto não fora tão grande, mas ao pensar que eu poderia enfrentar novas sensações em relação à sexualidade daquele novo corpo, fiquei um pouco preocupado.
Me encarei no espelho e percebi que não havia nada de tão assustador ali; nada que eu já não tivesse visto nos livros de Biologia. Tudo bem que as páginas dos livros não eram reais e palpáveis. Porém, decidi encarar aquilo de uma maneira divertida, rindo ao tocar novamente nas minhas partes íntimas e pensar que aquilo me pertencia agora.
― Uau! ― eu disse ao fazer firulas com o meu corpo, que não eram possíveis na minha vida como Carina Acco. ― Nada mal! ― eu concluí.
Entrei então no banho, pensando que aquela era a minha oscilação, pois ao passo que eu começava a aceitar a minha situação, eu sabia que viriam coisas que me fariam lamentar e me sentir tão perdido quanto antes.
No entanto, decidi aproveitar aquele momento de calmaria, tomando um banho bem tomado.
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Verdade Invisível - A Chance Para Uma Nova Vida - (Finalista Wattys 2023)
ParanormalFINALISTA WATTYS 2022 e 2023 Como seria acordar e não estar mais em seu próprio corpo e ainda por cima, tendo a certeza de que nunca poderá voltar? Carina Acco sentiu a sua vida se esvair, no entanto, ela ainda estava viva, mesmo que o seu coração j...