FINALISTA WATTYS 2022 e 2023
Como seria acordar e não estar mais em seu próprio corpo e ainda por cima, tendo a certeza de que nunca poderá voltar?
Carina Acco sentiu a sua vida se esvair, no entanto, ela ainda estava viva, mesmo que o seu coração j...
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No quarto, eu e a Fernanda nos deitamos e por sorte ― dos céus ― eu consegui me controlar e não tocar nela.
Ficamos conversando de mãos dadas no escuro, enquanto o único ponto luminoso parecia ser a lua e as suas estrelas.
― Está vendo como aqui é bem melhor do que lá fora ― Fernanda encheu o quarto com a sua voz doce e com a sua risada muito contagiante. ― Nós não precisamos de mais ninguém para sermos felizes, Lucas.
― Não mesmo ― eu disse e então me virei totalmente para ela. Eu nunca precisei de nada mais além dela, mas a Fernanda sempre havia precisado do amor. E agora, nesta vida, eu também via que precisava mais do que tudo daquele sentimento. ― E é bom que aqui, eu não preciso lhe dividir com ninguém.
― Por acaso, está me reivindicando para você, Lucas Barcellos? ― ela perguntou e parecia respirar um pouco mais apressada, aparentando estar ansiosa para ouvir a minha resposta.
― Talvez eu esteja, sim ― eu disse, soltando um sorriso muito travesso através da escuridão.
E já não dava mais para parar aquele sentimento.
Ele era maior do que a sensatez de me afastar. Ele era mais imenso até mesmo do que a verdade invisível que eu escondia. E ainda era mais gigante do que a lua que iluminava tudo lá fora. Era maior até mesmo do que eu; tanto que me transbordava naquele instante.
Ele só não era maior do que eu e a Fernanda, juntos.
Afinal, era naquele sentimento que nos encaixávamos perfeitamente, assim como se tivéssemos sido feitos no mesmo molde.
Ficamos em silêncio então, apenas apreciando a presença um do outro.
Nós logo nos beijamos no escuro, sem dizer mais nada um para o outro. E aquele foi um beijo leve e intenso, tudo ao mesmo tempo. Havia sido um beijo que dizia "eu te amo", mesmo em silêncio. E também era um beijo tão cheio de calmaria, mas igualmente repleto de turbulências.
Com certeza, foi um beijo cheio de paz, simplesmente por podermos estar tão perto um do outro, mas ao mesmo tempo, aquele toque foi tão cheio de desespero de perder tudo aquilo que a vida me deu de melhor.
Não importava mais nada no mundo para mim, pois eu não conseguia me conectar em nada que não fosse ficar ali, com a Fernanda.
Não dissemos mais nada naquela noite, apenas nos apreciamos e nos saboreamos, naquele beijo quase sem fim.
Nós nos beijamos até sentir que a vida fazia ponte com os sonhos e também com todo o impossível.
E na verdade, fazia.
Eu só não tinha coragem de contar para a Fernanda.
Ao menos ainda, não.
O beijo era tão perfeito entre nós dois, que dormimos ali, com os lábios meio que encostados, com as testas apoiadas uma na outra e as mãos dadas.
E aquela era a melhor sensação de paz do mundo. E o único pesar era o de que não acordaríamos tão bem, assim que amanhecesse.
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