Capítulo 50 (Isis)

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∞ Uma Narrativa de Isis ∞

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∞ Uma Narrativa de Isis ∞

Para mim era incrível estar de novo no Caribe; a minha terra natal. Eu me aproximei da casinha pequena em que morei a minha vida toda ― como Cássia ― com a minha mãe.

Me imaginei abrindo aquele portão de ferro corroído pela maresia e entrando ali sem bater. Eu me imaginei sentada à mesa, comendo a refeição maravilhosa que todos os dias a minha mãe preparava no almoço.

Eu imaginei poder abraçá-la sem explicação. Mas agora eu era aparentemente uma estranha.

Toquei a campainha e esperei ser atendida. A minha mãe arrastou as suas chinelas e chegou até a porta.

Como era bom vê-la!

Mas como era triste ver que ela não me reconhecia.

A minha mãe havia envelhecido desde a última vez em que eu a vi e logo me deu vontade de perguntar se ela estava se alimentando bem. No entanto, o que mais me castigou foi o brilho triste que eu vi em seus olhos.

Nem quando ela estivera pior, pronta para morrer, doente e em cima de uma cama, a minha mãe nunca deixou o seu espírito de alegria a abandonar.

Hoje, contudo, o seu semblante estava cinzento e eu sabia que um pouco daquilo, era por pensar que a sua filha estava morta.

Por pensar que eu estava morta.

― Pois não? ― ela disse, com a sua voz calma como a brisa do mar.

― Tenho uma coisa para lhe dizer ― eu disse. ― Poderíamos nos falar por um instante?

― Só não me diga que é mais notícia ruim!

Percebi então a minha mãe abaixar o olhar. Ela parecia exausta.

― Não é não ― eu afirmei e então ela me deu passagem.

Eu entrei então em minha antiga casa e percebi que tudo estava exatamente como era antes.

O sofá simples no canto da parede. Os porta-retratos na estante. A pequena televisão na outra extremidade da sala.

A minha mãe fez um gesto, para que eu me sentasse e então, eu me rendi. Todavia, me segurei para não chorar e correr para o meu antigo quarto e sentir o cheiro das coisas.

Eu nunca mais havia conseguido me sentir em casa, em nem um outro lugar.

O aconchego dos braços da minha mãe é que era o meu lar!

― Sei que vai parecer estranho ― eu disse e então lhe estendi o livro de número um, que era o que contava a história do Pacto e não os seus métodos ―, mas preciso que leia esse livro, antes que eu lhe fale o que vim para dizer.

Percebi as mãos da minha mãe tremem um pouco, mas ela pegou o livro e começou a lê-lo. No fundo, a mulher à minha frente sempre fora muito forte, enfrentando sempre a tudo. Mesmo o pior.

Ela leu cada linha que lhe era ditada e eu vi então a sua sobrancelha se erguer ou franzir, dependendo do trecho em que percorria com os olhos e então percebi, que ela estava mesmo prestando atenção.

A minha mãe acabou de ler e fechou o livro com cuidado, o repousando sobre as suas pernas.

― Esse livro está me dizendo que pessoas podem trocar de corpo? ― ela perguntou e eu acenei afirmativamente com a cabeça.

― Eu sei que a senhora deve estar pensando que sou uma maluca e que eu nem a conheço, ― eu disse e então comecei a olhar para cada cantinho daquela casa com um carinho extremo ― mas eu sou a sua filha, Cássia. Mãe, eu tive que fazer esse Pacto para que a senhora pudesse viver. Pois, mãe, você foi e sempre será o que eu tive de mais sagrado e minha vida.

Eu senti vontade de abraçar ela, mas me contive, dando espaço para a minha mãe digerir aquelas palavras.

― Você pode pensar que sou velha e que teria dificuldades de acreditar ― ela disse e então se levantou, indo se sentar ao meu lado. ― Mas desde o momento em que a mudança aconteceu, eu soube que não era mais a minha Cássia quem estava ali. Eu não tinha explicações, mas era como se você tivesse sido abduzida. ― A minha mãe olhou então para mim e eu vi que ela estava chorando. ― E da mesma forma, eu soube que era você, assim que pus os meus olhos nos seus. Coração de mãe sabe dessas coisas e nunca se engana.

Em seguida eu a abracei correndo, buscando o conforto dos seus braços, assim como sempre havia feito.

― A senhora me perdoa? ― eu perguntei, enquanto a minha mãe acariciava de leve os meus cabelos.

― Eu não tenho do que te perdoar, minha filha ― ela disse e eu pude sentir a sinceridade na sua voz. ― Você correu riscos por mim. Foi além do seu papel de filha e ainda por cima, voltou para o meu colo.

― Para sempre, mãe ― eu disse e então a abracei mais forte. ― Nunca mais vou embora. Porque não tem nada que me faça mais feliz no mundo, do que essa casinha e a senhora.

― Que bom, minha querida ― ela disse, me beijando no alto da cabeça. ― Porque essas duas coisas eu posso lhe garantir que você sempre terá!

Em seguida a minha mãe me levou até a cozinha, para preparar um lanche daqueles.

E eu pensei mentalmente que queria me despedir dos meus amigos, mas que nunca mais iria ver eles, pois não estava mais disposta a sair do meu lugar ali naquela casinha, nunca mais.

E eu pensei mentalmente que queria me despedir dos meus amigos, mas que nunca mais iria ver eles, pois não estava mais disposta a sair do meu lugar ali naquela casinha, nunca mais

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Verdade Invisível - A Chance Para Uma Nova Vida - (Finalista Wattys 2023)Onde histórias criam vida. Descubra agora