FINALISTA WATTYS 2022 e 2023
Como seria acordar e não estar mais em seu próprio corpo e ainda por cima, tendo a certeza de que nunca poderá voltar?
Carina Acco sentiu a sua vida se esvair, no entanto, ela ainda estava viva, mesmo que o seu coração j...
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Eu não conseguia decifrar onde eu me encontrava. Quando abri os meus olhos ― depois do que parecia o sono mais longo da minha vida ―, tudo estava tomado por um breu e silêncio irritantes. E a sensação de que eu me encontrava em um lugar desconhecido ― sem saber como havia chegado até ali ―, era o único sentimento que habitava o meu coração naquele instante.
Eu parecia o único habitante daquele frio local e aquilo realmente me agonizava.
Esfreguei os meus olhos e as minhas pálpebras ainda pesadas e logo eu já parecia conseguir enxergar com um pouco mais de nitidez, apesar do escuro.
Olhei para todos os lados e percebi que a cor predominante das paredes, móveis e pisos era um branco gelado, que naquele instante, contrastava com o silêncio, dizendo a mim que ali era um lugar mais atemorizante do que eu pensara ao acordar.
Senti arrepios me percorrendo o corpo, fazendo com que somente naquele momento, eu me sentasse sobre a cama. Percebi que começava a tremer e a suar frio, quase acreditando que estava enlouquecendo, ou pior... morrendo.
Eu não conseguia recordar o que havia acontecido antes de eu apagar. Eu não me lembrava de muitas coisas, mas tinha a certeza de que qualquer que fosse o motivo de eu não recordar, havia me levado a estar em uma cama de hospital.
Tentando buscar algo que me devolvesse a minha vida, ― ou pelo o menos, me devolvesse as lembranças que me fariam buscar por meu caminho ― resolvi me levantar e caminhar por aquele hospital.
Coloquei os meus pés no chão e pude notar que o piso branco e cintilante estava mais frio que o meu sangue. E aquele era um bom sinal, pois ao menos eu ainda conseguia sentir as coisas.
Caminhei de maneira receosa e um pouco destrambelhada. Era como se eu fosse cair a qualquer momento, mas acreditei que havia sim, debilidade em mim, pois se eu não conseguia me lembrar de quase nada, era bem capaz de estarem enfraquecidas outras partes do meu corpo também.
Dei mais alguns passos e comecei a acreditar que não só estava sem forças, mas como também se algo muito importante da minha vida começasse a oscilar dentro do meu ser.
Contudo, quanto mais eu temia me perder entre aquelas oscilações e a falta de algo para me agarrar, foi que alguns lampejos da minha memória surgiram em minha mente.
Começava a me lembrar de minha vida da maneira mais amarga que eu poderia: em repentes.
E naquele momento de relembrança, era como se eu me afogasse em um turbilhão de fatos, instantes e sentimentos. Era como se eu colidisse de frente com as minhas angústias, que provavelmente me levaram até ali.
Eu não sabia se era a sensação louca de sair e voltar para a minha vida em instantes, mas eu sentia como se pudesse ver tudo do alto.
Era como se eu pudesse voar, porém, aquele voo não era leve, trazia consigo certo peso, que me fazia cambalear, não aguentando o meu próprio peso.
