CAPÍTULO XIII: P R I N C E S A P A U L I S T A

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A porta fechada dava um ar de derrota nos cinco rostos que a encaravam. A maresia que acalentava a cidade agora parecia apenas um vento frio e chato e nem o por-do-sol parecia convidativo aos entomagos embrulhados que se obrigaram a entrar, frustrados, de volta ao carro.

- Isso não pode ser verdade.

- Cala boca Matheus.

- Que isso, mano?

- Foi mal...Eu só... não consigo digerir.

- Nem eu.

- Nem a pau.

- Eu também não.

- Tem que ter um jeito de impedir essa merda, não é possível! Esse velho tem que estar errado...

O silêncio os cercou mais uma vez, falar era indigesto e as palavras não pareciam certas. Nenhuma delas.

- Eu sei aonde precisamos ir. – Lucas rompeu o silêncio.

- Onde?

- Não é óbvio?– Continuou - Aqueles policias sabiam de algo, eles podem ter armazenado mais pistas no hotel.

- Voltar pra aquele hotel fuleira? Eu tô fora.

- Eu também não volto lá.

- Pra mim também....zoado.

- Qual o problema de vocês?! A vida de todo mundo tá em risco aqui! Vocês vão trocar o seis por meia dúzia?

O silêncio reinou mais uma vez.

- Fala sério. – Lucas mantinha a cara fechada quando bateu a porta do carro.

Na casa não houve conversa, tudo parecia esquisito, apático... A televisão da sala estava ligada mas ninguém assistia, as malas estavam feitas e os rostos sérios se mantinham distantes.

Gustavo chegou na sala com um violão velho e olhou para os amigos esparramados no cômodo.

- É o seguinte, cambada. Já que vai todo mundo morrer mesmo, eu não quero morrer sem meu último luau na praia, falou?

Os risos sem graças cortaram a sala e os quatro se levantaram, pegando toalhas velhas dentro da mala.

- Léo e Chamusca, vê se acham lenha pra gente fazer fogueira, Math, Lucas e eu vamos no mercado comprar cerveja, marshmellow e encontramos vocês na praia.

- fechou.

A praia estava deserta, sem uma viva alma para contar a história. O mar estava arredio, as ondas batiam fortes na areia e arrastavam-se de volta, revoltadas. Chamusca e Léo andavam pela orla, procurando gravetos caídos no chão que pudessem servir para acender um pequena fogueira.

- Se, hm, se o mundo acabar mesmo – Chamusca pigarreou – você...tem alguma coisa que se arrepende de...não ter feito?

As bochechas de Leonardo coraram absurdamente e seus olhos se arregalaram enquanto mantinha-os vidrados em seus pés.

- Uh, eu não sei...você tem?

- Uh, eu não sei...

- Porque a pergunta?

- Por nada...é...besteira.

- Bom, se, o mundo acabar mesmo... eu fico feliz de ter te conhecido...

- Eu também... queria ter...tido mais tempo, acho.

Léo sorriu e sentiu seu celular vibrar no bolso da calça, se aproximou timidamente e deu um beijo na bochecha de Chamusca que soltou todo o ar dos pulmões, surpreso.

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