SACRIFICE OF THE GODS | kth+jjk

nineteen! Bloody Mary

boa leitura! comentem bastante e nos vemos nas notas finais.❤️

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Angústia.
Uma sensação difusa, uma inquietude metafísica, mas sem linguagem organizada. Uma falta flutuante e um sobressalto iminente.

Jungkook tentava tocar as próprias asas caídas, pouco faltando para se tornarem mera poeira, restando apenas o sangue que não conseguia estancar de suas costas.
O cenário lhe dava náuseas, o cheiro de sangue era desagradável, ajoelhado em frente ao seu próprio crime, só sabia sentir medo e vontade de regurgitar. Quando tocou em uma só pena encharcada da água vermelha, uma tontura arrebatadora balançou seus olhos trêmulos o obrigando a fechar as pálpebras suadas.

Duro como gesso mas mole o suficiente para não se sustentar e encostar-se na parede, sujou-a com dois rastros vermelhos de sua recém cicatriz.
Soluçando alto, abraçou as próprias pernas desnudas pelo short que chegava até o meio de suas coxas. A camisa se encontrava suja no chão ao seu lado, debaixo de uma das asas.

Sozinho, era sua única ajuda, sua única companhia e também seu único mentor.
Não rezaria pois sabia que não haveria deus que ouviria suas lamúrias. O poder anda sempre sozinho porque tem força suficiente para driblar as consequências da vida. Mas de repente sentiu-se tão frágil quanto tinta velha de quadros antigos.

Era tão injusto viver como um ser que não pode ser vulnerável na frente de ninguém.
Por que não ser, afinal? Por que não se permitir ficar triste, com raiva, com medo?

Assistiu às asas se decompondo em poeira à sua frente e um choro entalou sua garganta ao vê-las se diluindo à água que caía do chuveiro. Uma massa branca se formou e foi caindo pelo ralo, sem chance de resgate.
Perdê-las era como arrancar um pedaço de sua persona. O que era um cupido sem suas lindas asas?

Alguém.
Alguém... comum.

A tristeza logo se transformou em nojo, empurrou a tampa da privada com força e arrastou-se para vomitar. Não havia comido em decorrência do mal-estar que durou a tarde toda, então apenas um líquido amarelado saiu de sua boca.
Fez um bico prestes a chorar novamente e puxou um pedaço de papel higiênico para limpar os lábios.

Estava monstruosamente aflito com a ideia de sua mãe perceber que perdera as asas, não tinha desculpa alguma para encobrir — e também não sabia exatamente o motivo de ter acontecido. Mas tinha quase certeza de que tudo começou quando fez sexo com Taehyung dias atrás, com muito mais contato do que a primeira vez.

E naquele momento, além de fraco, estava com uma crise intensa de falta de autoestima. Ganhar aquelas asas na pré-adolescência foi um marco importante em sua vida porque elas o faziam se sentir próximo de suas origens. Sentir aquelas cicatrizes vazias era doloroso para seu emocional. Não queria se olhar no espelho nunca mais.

Já no quarto, vestiu uma camiseta preta caso as cicatrizes não parassem de sangrar e manchassem o tecido e uma calça de moletom velha cheia de bolinhas de linha. Estava exausto, não queria ter que ver sua mãe chegar do trabalho pois sabia que as chances de debulhar-se em lágrimas eram de noventa e nove a cem por cento. Estava sensível e só queria ficar sozinho para assimilar seu castigo recente.

Caminhou até a cozinha arrastando os pés e puxou uma caixa de remédios do armário. A cartela de antibióticos estava pela metade, destacou os comprimidos restantes e enfiou-os de dois em dois na boca enquanto bebia água por cima.
Depois voltou para o quarto e nem se preocupou em tirar a colcha da cama. Deitou-se agarrado a um cobertor fino e esperou a droga fazê-lo dormir rapidamente.

Mas infelizmente ela não permitiu que o sono fosse tranquilo.

Jungkook abriu os olhos novamente tendo à primeira vista a casa de Taehyung com as luzes acesas. Uma risada aguda de criança saiu por uma das janelas e pôde concluir que estava de volta ao passado, dentro de seus sonhos.
Se aproximou cautelosamente da janela e viu Chaeyoung vestindo Taehyung com uma fantasia de princesa por cima do pijaminha amarelo dele. Mas a brincadeira acabou quando sua mãe entrou no quarto para levá-lo ao banheiro para tomar um banho e tirar os riscos de canetinha dos bracinhos gordos dele.