twenty three! Smeraldo

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Uma nébula cintilante caiu sobre o corpo de Jungkook e se esvaiu no céu escuro. Ao abrir os olhos, se viu sozinho e tudo parecia normal senão o tempo. Havia voltado ao fatídico dia do acidente de carro em que os problemas de Taehyung começaram a surgir. Em que não soube o quanto ainda machucaria seu destinado tentando curá-lo de feridas que nem sequer existiam.

Suspirou, apertou os punhos na barra do moletom e engoliu a saliva amarga antes de caminhar até a janela da casa ao lado. Seu coração batia frenético bombeando o sangue que corria como uma cascata pelas veias. Trêmulo, olhou pela fresta da cortina e cruzou os dedos para que tudo corresse bem. Chovia forte, sua franja grudou na testa com o excesso de água e suas roupas ficaram encharcadas. Mas mal lembrou-se de sentir frio no momento em que viu Taehyung carregar uma bandeja com duas canecas até o sofá onde Chaeyoung estava sentada e enrolada a um cobertor felpudo, assistindo à TV.

Esse final de semana eu vou comprar um filme para colocar naquela câmera analógica que encontrei na bagunça. Acho que ela ainda funciona. Ei, a gente pode comprar aqueles com a borda colorida e fazer um mural na parede. — ela disse, pegando a caneca que Taehyung estendeu em sua direção.

Que brega, borda branca é bem mais bonita. — Taehyung riu e sentou-se ao lado dela.

Qual o problema em ser brega de vez em quando? — Chaeyoung bebericou o chocolate quente e soltou o vapor pela boca.

Nenhum. Hoje em dia nada é feio, é estético. Depende da pessoa.

Chaeyoung não se manifestou, estava segurando a caneca com uma expressão estranha no rosto, olhando além da tela da TV.

O que foi? — Taehyung questionou.

Não sei. Acho que tinha alguém na janela da cozinha. — Chaeyoung inclinou o corpo para frente. — Eu vou fechar essa cortina direito, espera aí. — levantou-se.

— Credo, deve ser aquela secretária louca do seu trabalho que jogou café no cara porque ele não deu o presente de sugestão na despedida de solteiro do filho dela.

— É, eu não fui na festa e nem dei presente depois. Fiquei com medo dela lembrar disso e me enforcar com o fio do mouse. — Chaeyoung espiou a rua pela fresta da janela e depois fechou completamente as cortinas.

— Ela foi demitida, mesmo?

— Não, meu chefe disse que isso foi uma adversidade pessoal e que não ia meter a empresa no meio. Se ela fosse demitida por isso eu tenho certeza que ela venderia até as calcinhas para pagar um processo e tirar dinheiro do velho.

Taehyung riu, bebeu um gole do chocolate quente e encostou a cabeça no ombro da irmã. Balançou a caneca em círculos para resfriar a bebida e abaixou sutilmente o queixo para soprar a borda, o que o fez perceber algo em sua mão. No mesmo instante, sentiu um mal-estar estranho, um aperto no peito indescritível, mas não dolorido. Apenas estranho.

— Desde quando eu tenho uma pinta aqui? — Taehyung segurou a caneca com uma mão para poder olhar a palma da outra e cutucou Chaeyoung. — Olha.

— Nossa, que escura. É praticamente preta. — ela segurou seu pulso. — Fica de olho, se isso crescer pode ser perigoso. Se não, pode ser só uma manchinha. É normal. Eu tenho uma no braço que apareceu bem depois. — levantou a manga da blusa e mostrou ao irmão. — A Sihyeon tem um monte de pintas na mão também, deve ser de família.

— É... — Taehyung murmurou.

Um relâmpago afiado clareou totalmente o céu antes de um trovão que fez a cidade inteira escurecer sem energia. Chaeyoung procurou por uma vela e a levou em cima de um pires até a mesinha de centro da sala onde Taehyung esperava. Ela segurou a vela próxima à cabeça do isqueiro que o irmão acendeu e deixou algumas gotas pingarem na porcelana antes de grudá-la no fundo do prato. Aquele pequeno momento de silêncio causou uma estranha sensação de déjà-vu em Taehyung que inconscientemente tocou a pinta na palma de sua mão.

SACRIFICE OF THE GODS | kth+jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora