twenty two! Sacrifice of the Gods

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26 de abril.

— Posso ver a foto?

Sora entregou a fotografia à Chaeyoung, que segurou delicadamente com as duas mãozinhas pequenas. Balançou os pezinhos no sofá listrado do Chef's Kiss, onde seus pais comemoravam sabe-se lá quantos anos de casamento. A garotinha sequer sabia escrever alguns números por extenso ainda.

— Então vamos, gente? Estão satisfeitas? — ouviu seu pai perguntar.

— Eu 'tô satisfeitíssima, papai. — Chaeyoung sorriu.

— Então, pé na estrada, mocinha. — apertou a bochecha fofinha da garota.

Chaeyoung esperou pacientemente os pais pagarem a conta do jantar olhando para os desenhos engraçados num quadro na parede. Talvez fosse artístico para olhos mais maduros, mas para ela, parecia uma grande bagunça do tipo que costumava fazer nas paredes de casa quando era criança.

Saíram do restaurante de mãos dadas, Chaeyoung no meio e seus pais aos lados. Estavam discutindo a possibilidade de irem à uma sorveteria tomar banana split com muita cobertura — ideia da filha — e comer os canudinhos de biscoito que vinham enfiados no topo.
Ao passarem ao lado do beco, exatamente no meio da calçada, algo chamou a atenção do olhar curioso de Chaeyoung que soltou as mãos dos pais para pegar.

— Filha, ponha isso no chão, é sujo. — sua mãe lhe lançou um olhar reprovativo. — Isso deve ter caído do lixo.

— É um carrossel. — Chaeyoung tocou os cavalinhos e um som de tilintar ecoou da saída de som. — É um carrossel que toca música.

— Sim, mas devem ter jogado fora. Vamos, vai ter que lavar as mãos antes de tomar o sorvete.

— Posso pegar para mim? Deixa, mamãe. — birrou, vendo os pais se afastarem aos poucos. — Papai, está novinho, não pode jogar coisas novas no lixo. A professora disse que não é bom para a natureza.

— Chae, se jogaram fora, deve ter algum motivo. — Sora suspirou.

— Deixa, Sora. Em casa a gente limpa direitinho, passa um álcool 70. Vem, filha, vamos logo. — seu pai lhe estendeu a mão e Chaeyoung correu até ele dando pulinhos de felicidade.

— Papai, como liga a musiquinha? — ergueu o brinquedo em direção ao homem.

— Deve ter uma manivelinha' aqui. — ele virou o carrossel até encontrar a manivela e deu corda três vezes.

Os cavalinhos começaram a girar em sentido horário tocando uma melodia gostosa semelhante a de um xilofone. Chaeyoung vidrou os olhos arregalados no carrossel até ele parar de tocar e girou a manivela de novo para ouvir mais.

...

A solidão sempre fora um adereço à personalidade dos deuses, em todas as gerações divinas. Talvez não um traço de personalidade, mas um estilo de sobrevivência. E aquilo era muito claro na cabeça sapiente de Jungkook. Odiava ter que enfrentar aquela solidão sozinho, sufocando os próprios sentimentos no peito. Até que finalmente se afogou.
Mas aquele mar não se manteve hipotético como um simples jogo de palavras. Estava deitado rodeado pelo próprio sangue e sua flecha fincada na linha do peito quando abriu os olhos após horas desacordado.
Ao dar-se conta de todo aquele sangue encharcando suas roupas, pôs-se a chorar.

SACRIFICE OF THE GODS | kth+jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora