Deixa eu te avisar que ainda dá tempo de você parar e analisar se quer continuar. Porque não estamos falando de ponto de vista, mas de metanóia, metamorfose, uma mudança radical, 180 graus. Se você é ou já conheceu um cristão superficial, então o furacão pode estar se aproximando, sente o vento forte? É a mão de Deus mexendo com a sua realidade, transformando tudo. Tá ligado naquele filme "Matrix"? Quando o personagem principal, o "New", tem duas opções: tomar uma pílula para enxergar o mundo como ele realmente é, ou outra pílula para continuar vivendo na ilusão. A conversão é assim. É o momento em que você decide se quer viver na realidade ou na ilusão.
A verdade ou a mentira.
A vida ou a morte.Eu tava com tremedeira e frio na barriga quando Natalia me apresentou o grupo de evangelismo. Não havia apenas jovens, mas vi um casal com dois filhos pequenos e um senhor de idade também. Éramos doze ao todo. O clima estava quente, mas ninguém reclamava, pelo contrário, vieram supridos com muita água e alguns sanduíches naturais e frutas. Tudo distribuído em mochilas. Disseram que fariam um piquenique no final da tarde.
Eu vi o relógio e não eram nem duas horas. Quanto tempo ficaríamos entregando folhetos? Eu não conseguia nem pensar em falar com alguém sem gaguejar. Minha garganta travou só de pensar.
Em que furada a Natalia me meteu?Conheci Bruna, Jonatas, sr. Otacílio, Gabriela, Thuana, Bruno, Vinicius, Letícia, William, além do irmão de Natalia que eu já conhecia.
Eles se abraçavam dizendo que nossa quantidade era um número profético. Eu não sabia muito bem o motivo. Rapidamente ficaram de mãos dadas e três pessoas oraram, incluindo uma das crianças. Eles resolveram se dividir em três grupos de quatro pessoas para percorrer o bairro até a praça, lá nos encontraríamos para fazer o lanche.
Eu fiquei no grupo do sr. Otacílio, Natalia e Letícia. Nós começamos entregando os papéis para as pessoas que passavam, que não eram muitas, e na verdade eu só acompanhava. Me pediram para colocar nas caixas de correio por onde passávamos, e me senti bem em fazer algo que não precisasse de tanta "preparação". O sr. Otacílio era muito simpático e conversou muito comigo. Sabe que eu gostei daquele velho? Ele falou sobre sua vida, que era viúvo mas era feliz por saber que sua amada estava com Jesus, e que um dia ele a veria de novo. Disse que se Deus não o havia levado ainda, era porque tinha gente pra ouvir o evangelho através dele.- Sabe, Joe, eu acredito que existem pessoas que só ouvirão a mensagem se for você o mensageiro. Pessoas pelas quais você será responsável diante de Deus, no juízo final, se não fizer a sua parte. Lembre de que o seu papel é pregar, o Espírito Santo faz o resto.
-Você acha que meus pais são minha responsabilidade?
- Nossa família sempre será nossa prioridade. Se você investir nos de fora, tem que investir o dobro nos de dentro.
Caminhamos um tempo calados, ele abordou uma mulher que passava e falou sobre Jesus com todo o gosto. Dava pra ver que ele amava aquilo, amava falar de Jesus como se falasse de um doce predileto, e que não era egoísta pra tê-lo sozinho.
Ele queria dividir com o mundo inteiro.Eu ia colocar um dos últimos folhetos num portão, mas não havia caixa de correio, então procurei uma brecha para jogar o folheto através dela. Meu coração disparou quando o portão se abriu na hora em que eu consegui enfiar o folheto num espaço entre uma madeira e outra. Era uma mulher com a idade da minha mãe, branca, cabelo preso e um pouco arrepiado. Seu rosto brilhava com o suor. Ela me encarou assustada, eu estava a alguns centímetros dela, como uma estátua de gelo.
- Procura alguém, garoto? - ela franziu a testa.
- Eu...eu...vim deixar um recado. - minhas pernas tremiam como bambus na ventania.
- Para quem? Se for sobre o pagamento, diga a eles que meu marido vai resolver na outra semana como foi combinado. -
Ela se virou para dentro, bufando, no impulso de fechar o portão.- Espere! - minha voz quase não saiu. - Eu sei quem já pagou a dívida mais alta!
Como aquilo saiu da minha boca? Eu devia estar maluco. E se ela pensasse que eu era mensageiro de algum traficante?
- Como assim?
- Senhora, sua vida vale mais que todas as suas dívidas. Não tem um preço que seres humanos pudessem pagar. Mas eu conheço alguém que conseguiu.
- Não estou entendendo.
Engoli a seco, respirei fundo e uma voz soprou dentro de mim:
"Basta falar sobre mim, não tenha medo de citar o meu nome."
- Foi Jesus Cristo quem pagou. Ele deu a própria vida pra pagar a dívida que era sua. - Falei tão bonito que nem me reconheci.
Ela esboçou um sorriso debochado.
- Ah sim...Olha, garoto, eu sei tudo sobre Jesus, e tenho ele no meu coração, do meu jeito. Não preciso de igreja, nem de pastor, nada disso resolve meus problemas. Deus está comigo sempre, eu tenho fé...- Eu não estou dizendo que você não tenha fé. Mas você ainda vive pagando pelos seus pecados, quando poderia viver feliz com o perdão de Deus.
Ela me encarou com raiva nos olhos e boca trancada, como se fosse avançar encima de mim.
- Você nem me conhece! E são todos iguais! Vocês acham que os crentes são melhores que todo mundo!
Eu não sabia o que responder, parecia ter esgotado o repertório, como se não adiantasse continuar discutindo com ela. Então senti uma tranquilidade enorme, aquela sensação de bala halls queimando no peito. Pra mim, estava me acostumando ainda, mas aquela refrescância era a marca de que Jesus estava agindo.
- Me perdoe, senhora. Eu não quero te magoar, não quero mesmo. Hoje tem culto na minha igreja, e se a senhora permitir, gostaria de levar o seu nome e de seu marido pra gente orar, e pedir pra Deus ajudar vocês pagar esse valor na semana que vem. Eu gostaria de ajudar como eu posso: orando.
Os olhos dela marejaram, as mãos foram à boca e baixou a cabeça por um instante. Depois se ergueu com um olhar de tristeza e um sorriso tímido.
- Você é um doce de menino. Me desculpe. Pode orar sim. Meu nome é Marta, e meu marido se chama Antônio. Onde fica sua igreja mesmo?
Ficava perto dali, então foi até fácil de explicar. Quando o portão se fechou, Natalia estava boquiaberta, ao lado do sr. Otacílio, vindo ambos em minha direção.
- Que milagre mais louco foi esse? - Ela falava baixo, mas não conseguia conter a euforia. - Você sabe quem ela é?
Balancei a cabeça, não me lembrava de ter reparado naquela mulher alguma vez. Nunca fui muito sociável e minha memória era péssima.
- Ela é a Martinha, do Bar do Tony! Ela é a mulher mais barraqueira que eu conheço! Nunca recebeu nossa mensagem desse jeito. Ela e o marido são do tipo "pá virada"! - ela sussurrou última parte.
- Eita! Deus desvirou até a minha pá! É por isso que não devemos julgar ninguém. - o sr. Otacílio falou com seriedade, como se estivesse nos ensinando uma lição. Depois sorriu.
- Eu não te disse? Há pessoas que só ouvirão se vier através de você. Então continue. O tempo é curto, meu rapaz.
Ele se pôs a caminhar em direção a praça, passando os dedos pela cabeça grisalha, pensativo.
- Curto, muito curto... - ele repetia.
E aquilo ficou ecoando dentro do meu coração.
"O tempo é curto, muito curto."
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O dia em que eu pirei
EspiritualMeu nome é Joe e eu pirei de vez. Eu era só um cara de 16 anos nada especial. Tudo começa com ela, Natalia. Ela me levou a experimentar algo misterioso, algo que mudou tudo, abriu todos os meus poros. Agora não posso voltar atrás porque sinto coisa...