Cara, o mais surreal disso tudo é que os policiais que vieram pra colocar ordem na situação, agora estavam se rendendo, todos eles! Um por um, se ajoelhando, tomados por um choro alto e dolorido. Os meus irmãos os abraçaram e dois deles voltaram pra Jesus, porque estavam afastados. Os outros quatro já eram membros de alguma igreja, mas nunca haviam presenciado um milagre como aquele.
Outras pessoas pediram oração, e o pastor foi orando, uma por uma, isso levou um tempo. Ninguém mais interrompeu, quem ousaria?
Mais pessoas testemunharam milagres, desde uma leve dor de cabeça até a recuperação total de um AVC, como foi com o Antônio, marido da dona Marta.
Veio também um senhor que não tinha uma das pernas e andava com muletas. Ele foi talvez tão incrível quanto a cura do Gabriel. Eu vi a perna dele crescer, não tem nem como explicar! Era algo como uma ponta de osso coberta de pele saindo do joelho do homem, formando assim a batata da perna e depois os pés, dedo por dedo. Uma mulher até desmaiou quando viu isso.
Uma atmosfera diferente foi transformando o ar que eu respirava. Me sentia leve e pesado ao mesmo tempo.
O pastor então, finalmente, tomou a palavra, e transformou o hospital em uma igreja.
A igreja saiu do concreto e andou entre o povo. Porque a igreja somos nós. Somos nós, cara!
Pra mim, que sou novo nessa doidera, estava surpreso com tudo aquilo, mas pras pessoas que já estavam, a anos, acostumadas com uma religião comportada, sem muitos exageros, participar daquele momento foi libertador.
A palavra do pastor foi só sobre Jesus. Ele falou com um fogo, um calor. Seus olhos brilhavam, parecia que ia se transformar em um foguete. Disse que o que aconteceu ali não podia terminar, e só seria mantido com uma decisão verdadeira de se encontrar com Jesus todos os dias, conversar com Ele, ler sua palavra.
Apaixonar-se por Ele era nosso desafio, nossa meta. Como em um casamento, em que seu objetivo é se apaixonar pela mesma pessoa todos os dias, e fazê-la se apaixonar por você.
Aquelas palavras me deram outra perpectiva sobre Deus, sobre ser cristão. O que significa se apaixonar por ele? Será realmente igual as minhas paixões que eu já tive por aí?
Canatamos uma música muito bonita, que eu pessoalmente não conhecia, mas fechei os olhos e deixei cada palavra fazer parte de mim. A galera formou um círculo imenso com todos se abraçando. O pastor fez a oração final e todos se despediram, ainda meio que flutuando.
Todos que estavam ali e pediram oração foram curados. Todos. Alguns ficaram para constatar a cura através de exames, mas a maioria saiu do hospital pulando, se abraçando e dando "glória a Deus". Eu fiquei, com minha mãe, mas minha sala ficou praticamente vazia. Vários leitos desarrumados, algumas muletas abandonas, cadeiras de roda esquecidas.
O médico me convocou para fazer meu último exame de vista com o oftalmologista de plantão. Ele fez todo o procedimento sem dizer uma palavra.
- Vou assinar sua alta. Você está liberado.
- Estou sem nenhuma sequela, nada?
- Na sua vista? Por enquanto, não. Mas pode levar alguns dias para você sentir alguma outra coisa, então temos que aguardar.
- Ainda falta a ressonância. - disse o outro doutor, que me observava atentamente, o mesmo que me acompanhou durante a semana.
- Sim, é verdade.
Saimos de uma sala para outra, onde recebi um líquido chamado "contraste" na veia e passei pelo tubo ouvindo vários sons esquisitos.
- Nada, também... - o doutor analisou o resultado ainda no computador. - em todos os anos que tenho de medicina, nunca vi algo assim. Veja isso. - ele aponta para uma região da tela. - No início da semana, essa área estava mais clara, indicando um possível rompimento de vasos sanguíneos. É algo difícil de se recuperar. Alguns pacientes levam quase um ano, e têm sequelas severas na visão, memória e as vezes pode levar a um derrame. Mas você... Não tem mais nada aqui. - ele continuou observando a tela, com as sombrancelhas franzidas.
- Cara...quer dizer, doutor, eu também acharia difícil de acreditar se fosse a algumas semanas atrás. Eu até concordaria que tive sorte. Mas hoje, depois que passei a conhecer o Deus que faz qualquer coisa acontecer, só posso dizer que isso é um milagre, e foi Ele quem fez isso.
- Sem querer ser chato, Joe, mas por que aqui? Por que vocês? Tem tanta gente com problemas piores, tantas crianças, e ele escolheu agir aqui?
- Talvez seja porque nós os chamamos aqui... Só acho.
O doutor soltou um pequeno riso.
- Ele veio aqui porque nós quisemos a presença dele, não os seus milagres.
- O resultado oficial dos exames estará pronto em uma semana. É só apresentar esse papel na recepção. - o doutor mudou de assunto e nos levou até a porta, sumindo pelo corredor assim que saímos.
- Tem gente que mesmo vendo um morto ressuscitando continua cabeça dura. - minha mãe me abraçou e beijou minha testa. É uma pena...
- É uma galinha inteira!
Rimos juntos e descemos a rua abraçados. Para nossa surpresa, as calçadas estavam repletas de pessoas conversando e falando alto sobre o que acontecera no hospital. Gente e mais gente impressionada, algumas mostravam alguma parte do corpo que fora curada. A notícia se espalhou rápido e a cidade estava começando a pegar fogo também.
Quando viramos a esquina da minha rua, um carro estava voando em nossa direção. Ele freiou bruscamente e o motorista saiu com a mão na cabeça.
Era meu pai.
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O dia em que eu pirei
EspiritualMeu nome é Joe e eu pirei de vez. Eu era só um cara de 16 anos nada especial. Tudo começa com ela, Natalia. Ela me levou a experimentar algo misterioso, algo que mudou tudo, abriu todos os meus poros. Agora não posso voltar atrás porque sinto coisa...