Capítulo 01

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Rosalie Exposito

Sinto meu rosto queimar como uma brasa do lado direito da face e, por instinto, abaixo os olhos e o rosto para o chão mediante a vergonha e a vontade de chorar que me consomem.

_Vai olhar para outro homem na minha frente de novo? _rosna agarrando meu queixo com violência e ergue meu rosto para olhá-lo.

Mordo a parte interna da bochecha para conter as lágrimas mas é quase inútil.

_Não... _sussurro, a voz rouca e embargada pelo choro.

_Acho bom _rosna soltando meu rosto com violência e me lançando contra o chão do apartamento _é por isso que não saio com você para a rua! Você me envergonha Rosalie _diz irritado e logo para diante de mim e se agacha me fitando com culpa nos olhos, as narinas irisadas tentando esconder a raiva _você não percebe que sem mim você não é nada? _pergunta baixinho, a voz calma e preocupada _olhe para si mesma Rosalie... quem mais a olharia? _sussurra e minhas lagrimas saltam livres, mordo o lábio inferior para me conter mas não funciona.

_Ninguém _sussurro embargada e ele assente, o olhar firme e seguro.

_Ninguém _concorda _eu te amo _declara e força os lábios ásperos contra os meus que não retribuo, o ardor do lábio superior cortado me consumindo por dentro.

Pulo na cama sentindo o suor pingar dos meus cabelos sob a testa, escorrer sob as costas nuas e fecho os olhos para tentar normalizar a respiração ofegante faz meu peito subir e descer desgovernadamente.

O despertador soa aos meus ouvidos e os abro no mesmo instante, saltando da cama desarrumada e rapidamente corro em direção ao banheiro, passando pelo espelho sem nem mesmo encarar meu próprio reflexo e me enfio debaixo da água gelada que arrepia todos os fios do meu corpo no segundo em que o mesmo entra em contato com minha pele quente, arfo.

Pulo a janela do quarto andar do quarto de hotel, ainda era madrugada lá fora, mas isso não me impede de nada, subo na moto estacionada em frente ao prédio e coloco o capacete, o som do motor ecoa pela noite e acelero rumo ao leste na estrada vazia. O sol nascia por detrás dos prédios da cidade quando estaciono minha moto em meio as demais no estacionamento da empresa onde eu supostamente trabalhava. 

    Vejo várias mulheres descerem de seus carros de luxo perfeitamente arrumadas e bem vestidas algumas me lançam olhares de desdém mas não me importo, rapidamente corro em direção ao elevador parcialmente cheio e suspiro encarando minha figura diante do espelho dentro do compartimento: meus cabelos cacheados presos em uma trança lateral levemente desarrumada, minha calça jeans preta úmida da chuva a qual eu havia pego antes de chegar ao centro da cidade, meus tênis brancos completamente ensopados e a jaqueta jeans azul que cobria minha camisa branca também molhada, eu estava um desastre humano.

Salto do elevador no andar de criatividade da empresa, acompanhada de alguns funcionários e recebo mais alguns olhares, sem me importar, corro em direção a minha sala e entro no banheiro privativo para arrumar minha aparência.

_Rosie? _ouço me chamarem ao lado de fora e rosno de frustração.

_Um minuto! _exclamo arrancando as roupas molhadas, substituindo por um vestido tubinho social.

_Victor já chegou e quer você na sala dele! _exclama a voz irritante de uma das funcionárias e pouco me importo em responder.

Solto meus cabelos cujos cachos caem nas minhas costas e rapidamente fito o espelho e retoco meu brilho labial de menta em meus lábios, coloco os óculos de armação transparente e de grau diante dos meus olhos castanhos e pego os saltos na bolsa, ouvindo alguém tentando arrombar a minha porta, pelas batidas fortes que dá na madeira.

_Mais que inferno! _rosno e abro a porta.

No mesmo instante, um punho masculino para diante do meu rosto me fazendo enrijecer e fechar os olhos mas nada acontece.

_Desculpe Rosalie, mas o senhor Yaman está soltando fumaça de raiva a sua espera _afirma a voz conhecida de Hanzel e suspiro de alívio.

_Obrigada _murmuro baixinho e rapidamente me desvencilho da presença do meu colega assediador e pego o Tablet sobre a minha mesa, correndo para a sala de Victor.

VictorYaman era mais um na linha de publicidade, o mais velho no mercado eu diria,mas, assim como eu, Victor era um homem solitário, sem esposa e filhos ou atémesmo um peixinho dourado, mas diferente de mim, Victor era um homem já deidade, a maioria dos acionistas da empresa já tentou arrancá-lo da presidênciaalegando incapacidade mas ele sempre deu seus jeitos duvidosos de permaneceronde está. Entretanto, o maior inimigo de Victor, além da sua vasta obsessão por desconfiança, era o câncer de pulmão que havia se manifestado e se espalhado pelo seu corpo tinha algum tempo.

Para algumas pessoas, eu era mais uma na vasta lista de prostitutas de luxo de Victor, mas a realidade não era bem assim, o homem era um completo lunático por desconfiança, acredita que todos querem mata-lo, mas eu havia conseguido não apenas o cargo de sua diretora de criatividade como também sua completa confiança, mesmo que ele sempre desconfiasse que eu tinha algo de duvidoso.

Assim que salto no andar da presidência, caminho em direção a sala fechada e suspiro antes de abrir a mesma e encarar o homem sentado na poltrona atrás da mesa, uma mascara de oxigênio afirmada diante do rosto negro e magro, o peito subindo e descendo agitados, os olhos negros opacos e sem vida ao serem direcionados a mim, criam um leve brilho, Victor rapidamente arranca a máscara e me lança um dos seus típicos sorrisos de canto pequenos.

_Bom dia minha rosa _murmura com um sorriso cansado, a voz rouca e falha que lhe causa um acesso de tosse por alguns segundos.

_Bom dia Victor, deveria estar em casa _repreendo mesmo sabendo que de nada adiantaria.

_E resistir a tentação que é olhar para você todas as manhãs? _ironiza e semicerro os olhos em sua direção lhe causando uma risada fraca _preciso de um favor _afirma, dessa vez, sério.

_É só me dizer que eu faço o que estiver ao meu alcance _afirmo e ele me lança um sorriso satisfeito.

_Eu sei que sim _diz enigmático e me sintoengolir a seco, sem nem mesmo saber o motivo. 

BonequinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora