Capítulo 22

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Rosalie Espósito
  Encaro o rapaz a minha frente e sorrio largamente ao receber a melhor noticia que precisava nas últimas quarenta e oito horas.
_Obrigada _sussurro e ele assente me guiando pelo porto de cargas internacionais, Alexander e os malditos gêmeos não me deram escolha.
  Eu sabia que se voltasse para a Austrália, iriam atrás de mim, mas eu não tinha outra opção, precisava de um artefato importante que havia esquecido em Kowanyama, e conhecia aquele lugar com a palma da mão, mas eu precisava de mais tempo.
  Sou direcionada ao container repleto de estrangeiros foragidos como eu e rapidamente me enfio entre as pessoas, recebendo apenas um saco preto com uma garrafa de água e nada mais, seriam dias de viagem e eu só tinha aquilo, me misturo entre os refugiados e fito uma figura pequena e suja no canto do container, os cabelos imundos cobrindo seu rosto, mas apesar da sujeira, pude notar que a garota branca era apenas uma menina.
  Vejo um homem se aproximar dela e ela rapidamente se encolhe procurando algo ao seu redor, aparentemente querendo se proteger, ajo com rapidez ao vê-lo puxar o braço da menina que resmunga em um choramingo. Rapidamente agarro a garota que se debate contra mim exclamando palavras em espanhol e fito o desconhecido com raiva.
_Se chegar perto da garota de novo, você não sai vivo dessa viagem _rosno e ele rosna se misturando entre as pessoas que olhavam a cena.
_¡liberarme! (Me Solte!) _exclama e fito a garota que tinha os olhos escuros cerrados para mim, como se tentasse mas não conseguisse me ver de fato.
_cálmate, ya estás protegido (acalme-se, você está protegida agora) _afirmo e ela cessa seus ataques relaxando minimamente a postura _fala inglês? _pergunto e ela assente parecendo teimar em tentar me ver.
_Si _murmura _como te chama? _pergunta quando a solto.
_Rosalie, e você menina? _pergunto e ela abaixa o rosto corando furiosamente.
_Dominic... _murmura apertando as mãos umas nas outras.
_Está tudo bem agora Dominic, ninguém te fará mau até sairmos daqui _garanto e ela franze o cenho frustrada _você não consegue me ver? _pergunto e ela morde o lábio superior e suspira.
_Ela quebrou meus óculos... sem eles eu não vejo _confessa baixinho e assinto.
_Ela quem? _pergunto.
_Minha mãe, La Dona _sussurra e arregalo os olhos no mesmo instante.
_La Dona? _sussurro e ela assente.
_A segunda esposa do Don _confirma _ela vai me vender _confessa.
  Puta merda, eu estava em um container de prostitutas, informantezinho hijo de puta!

   Eu não sei quanto tempo passou até sermos informados de que deveríamos colocar os malditos sacos nas cabeças mas quando isso aconteceu, Dominic se agarrou a mim como se sua vida dependesse disso, sabia que estávamos na fronteira com as Torres somente pelo sotaque dos alfandegários e suspiro de alívio.
  Haviam se passado dias que eu estava naquele maldito container e não aguentava mais a fome, e sabia que a garota também não, pois até onde eu sabia, ela estava ali muito mais tempo do que eu, Dominic Belova deveria ter por volta dos dezessete ou dezoito anos, era uma criança ao meu ver.
Quando chegasse a Austrália, precisava dar um jeito na garota, minha vida não era um exemplo de vida para ninguém, mas a vida dessa garota era pior.
_Rosalie... eu não aguento mais _choraminga baixinho em seu idioma e repousa a cabeça sob meu peito, os olhos fechados e os suspiros pesados demais, a menina estava morrendo de fome.
_Estamos chegando Dom, aguente apenas mais um pouco _peço e ela assente fechando os olhos novamente.
  Ouço o som do caminhão rodando pela estrada e sabia que em poucas horas estaria em algum lugar próximo de Sidney, precisava de um plano, para uma ladra como eu, fugir não era problema, mas agora eu tinha mais alguém comigo, alguém fraco e debilitado, o que complicava as coisas.
  Ouço o barulho do caminhão estacionando e vejo o homem que me trouxe para este lugar nojento abrir as portas do container e começar a me procurar.
_Esposito _ouço-o dizer, rapidamente coloco a garota no meu colo que me agarra com seu corpinho pequeno e desnutrido de forma desesperada e caminho entre as pessoas até chegar a porta _só posso te trazer até aqui _declara indiferente.
_O acordado e muito a mais está na sua conta _declaro e ele fita a garota sob mim e arqueia a sobrancelha.
_Você não pode levar uma das mercadorias _declara.
_Não apenas posso como vou _afirmo e ele engole em seco.
_Esse não foi o acordo _afirma irritado e abro um sorriso de escárnio.
_Na sua conta tem o suficiente para você e seu colega decidirem que a garota não sobreviveu a viagem _digo indiferente pulando para o chão e vendo a madrugada, no posto de gasolina _sejam espertos.
  Vejo o russo me fitar com asco e dar de ombros.
_Tanto faz, ela iria morrer de qualquer maneira _diz indiferente _nunca vi vocês em toda a minha vida _declara e assinto quando ele ruma para a cabine do motorista e o caminhão segue um rumo diferente da cidade.
  Fito a menina em meu colo e suspiro depositando um beijo sob os cabelos negros completamente bagunçados, porque agora eu precisava de um plano, Dominic não sabia, mas ela de certo desejaria encontrar-se com qualquer um, menos com uma ladra caçada pelos malditos Bordeaux.
  Caminho pelo posto de gasolina somente pelas sobras e vejo um homem sair de perto da bomba de gasolina, certamente para pagar o que pegou, rapidamente corro em direção ao veículo ao vê-lo entrar na conveniência. Abro a porta do passageiro e deposito o corpo da garota no banco, correndo rapidamente para o banco do motorista e saio cantando pneu no posto, passando pelo dono do carro que corre atrás.
_Desgraçado! _ouço-o xingar e sorrio, mas logo fito a garota adormecida no banco ao meu lado.
_Que merda eu fiz? _sussurro voltando o olhar para a estrada, indo em direção a minha casa.

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