Capítulo 02

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Daryl De Lucca

O som do ronco do motor soa pelos meus ouvidos quando aumento a velocidade, a curva vazia da estrada faz com que o vento transpasse pelo meu corpo me trazendo a sensação que mais descreve a minha vida, liberdade. Diminuo a velocidade da moto quando vejo as arvores e a vegetação se tornarem mais predominante ao meu redor, até o momento em que paro o veículo no meio do nada.

Saco o aparelho celular do bolso da jaqueta de couro negro e ergo a viseira do capacete enquanto disco o número desejado que chama duas vezes antes de finalmente ser atendido.

_Eu espero realmente que esteja morrendo para que tenha que me interromper _a voz soa divertida aos meus ouvidos, reviro os olhos com impaciência antes que uma resposta adequada a aquele babaca me ocorra.

_O rastreador parou, estou onde ele indica _murmuro e olho ao redor vendo apenas a estrada vazia e árvores ao meu redor _não tem nada aqui.

_Sinto muito informar maninho mais você vai ter que sujar essa sua roupinha de grife _ironiza e ranjo os dentes com impaciência _o desgraçado está no meio da mata, não deve ter ido longe pelos cuidados que os nossos meninos deram a ele _diz com calma e suspiro.

_Quando esse trabalho acabar, eu juro que enterro você vivo seu babaca _rosno saltando da moto.

_Eu também te amo minha cópia do mau _cantarola e rosno desligando na cara no imbecil, tinha um brinquedo para encontrar.

Escondo a moto entre alguns arbustos e me enfio no meio da mata densa enquanto ligo novamente o rastreador, sorrio ao perceber que a noite começava a cair e o que eu procurava se encontrava a apenas quinhentos metros de mim, pulo uma árvore caída no meio da trilha quase imperceptível e vejo um rastro de sangue, me agacho e toco o solo fazendo com que meus dedos descobertos pela luva de couro se sujem do sangue imundo da minha presa.

Caminho por mais alguns minutos e sorrio ao notar movimentação a alguns metros a minha frente.

_Eu vejo você Emet _cantarolo sacando a faca milita r escondida nas minhas costas e ouço um gemido lamurioso, sinto minhas veias saltarem em adrenalina _péssimo brinquedo você _debocho e o vejo se levantar dentre duas árvores e, agarrando o braço direito que quase desgarrava do corpo, corre para longe de mim _isso! Corre cachorrinho _gargalho.

Vejo o homem magro tropeçar entre os próprios pés e tentar tomar o próprio equilíbrio e voltar a correr, suspiro entediado e saco minha arma atirando no braço machucado que vai ao chão fazendo a ferida esporar mais sangue e ele urrar indo ao chão.

_Emet... eu esperava mais de você _murmura decepcionado enquanto ele tenta se levantar do meio do próprio sangue, sem sucesso _achei que você duraria mais _agarro sua perna e o puxo com força para trás.

_Não! _berra _me s-solta! _exclama se debatendo no chão de cascalho e sorrio.

_Como queira _resmungo largando-o com violência e seu corpo se debate com força e ele geme tentando se rastejar _agora sabe como elas se sentiram Emet? _murmuro caminhando em círculos ao seu redor _ainda escuta as vozes delas? Implorando pela vida? _sussurro e o vejo enfiar os dedos do único braço na terra, seus soluços atravessam o silêncio da noite e me trás um prazer imenso _mas diferente de como fez com elas Emet _me agacho agarrando seu queixo e fazendo seu rosto imundo me encarar _vou fazer você acertar suas contas ainda vivo _sorrio maleficamente e o solto.

Agarro seu agora único braço e começo a arrastá-lo pela mata em direção a saída, enquanto assovio e ouço seus gemidos de dor e pedidos de misericórdia, quando chego a autoestrada amarro seu punho em uma corda grossa e amarro a outra ponta contra a garupa e me viro para ele.

_Você caminhou muito para chegar aqui Emet, acho que não vai ter problema para fazer a volta da mesma maneira não é? _vejo sua expressão de horror e sorrio subindo na moto.

(...)

Jogo o saco de merda contra o piso do armazém e suspiro de satisfação ao vê-lo convulsionar pelos pés em carne viva e o braço agora enfaixado, afinal, não queria que o meu brinquedo morresse por falta de sangue.

_Até que enfim não é? _ouço a voz calma masculina e ergo meu rosto para encarar o homem escorado a grade do mezanino, a expressão calma e o olhar satisfeito.

_Se estava com pressa, fazia você mesmo _rebato irritado e o vejo rir.

_Vamos, dessa vez amarre esse saco de fezes direito, temos mais o que fazer do que olhar para a cara linda dele _resmunga e lhe lanço um olhar assassino.

_Vai se foder Danion _rosno e o vejo dar deombros e logo indicar algo atrás de mim.

  Quando me viro, vejo um homem entrar pelas portas entreabertas, as roupas perfeitamente passadas e o jeito que olha para cada canto da nossa humilde casa, demonstra que não era a primeira vez que via algo parecido.

_Vocês são os irmãos De Lucca? _pergunta enfiando as mãos na calça social, a postura falsamente tranquila me deixa alerta.

_Depende de quem pergunta _afirmo cruzando os braços.

_M-me aju...

_Cala a boca Emet _resmungo e piso contra sua perna e o mesmo geme de dor.

_Soube que vocês são os melhores, encontram tudo _afirma e arqueio a sobrancelha para a sua informação _estou aqui porque preciso que encontrem uma pessoa, preciso que me entreguem ela viva _olho em direção ao mezanino e vejo Danion olhar para mim com desconfiança.

_Pessoas especialmente vivas, não são exatamente a nossa especialidade _afirma meu irmão descendo as escadas _é mais trabalhoso, o levando a crer, que é mais caro, não somos sequestradores _diz firme.

_Pago tudo o que quiserem _diz tranquilo e o vejo passar as mãos nos cabelos castanhos, os dedos trêmulos, a postura ereta, os lábios franzidos e levemente trêmulos.

Ele se aproxima e arranca do casaco uma foto e me entrega, encaro seus olhos por uma fração de segundos e não gosto do que vejo, mas me concentro na foto da mulher, o sorriso largo de dentes brancos, os cabelos castanhos encaracolados compridos caídos nos ombros e seios fartos, os olhos escuros tristes e a pele de ébano brilhante contra o flash. 

Entrego a foto para meu irmão que arqueia a sobrancelha.

_Qual o nome? _pergunta Danion e vejo que o desconhecido fecha as mãos magricelas em punho ao ver meu irmão encarar fixamente a foto.

_Rosalie _rosna _Rosalie Bordeaux.

_Iremos pensar e entraremos em contato _digo lhe dando as costas e indo em direção ao homem desmaiado no chão.

_O meu número é...

_Não preciso, já sabemos quem você é _interrompe Danion que lhe indica a saída, vejo-o nos olhar irritado e sair a contragosto mas some _percebeu? _ouço a pergunta e jogo o corpo desacordado do nosso rapaz encima do ombro antes de encará-lo.

_Um sociopata _murmuro _chuto quase que viciado, vamos pesquisar mais antes de aceitar _digo firme.

_É uma mulher cara _diz preocupado.

_Dependendo do que acharmos, interferimos _decreto e me retiro em direção a porta escondida embaixo das escadas _viciados são traiçoeiros _rosno.

BonequinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora