𝕯𝖊́𝖈𝖎𝖒𝖔 𝖖𝖚𝖆𝖗𝖙𝖔 𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔

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Saturn - Sleeping at last

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Saturn - Sleeping at last

Há momentos na vida que a dor precisa de um certo espaço dentro de nós. Óbvio que ela vai te deixar triste e dependente, por um tempo o qual você perde o controle, mas ela precisa estar ali, porque às vezes é a única companhia que você pode ter. É a única companhia que você quer ter.
Perder alguém que, pelo mínimo que seja, sentimos um certo apreço, carinho... É quase como perder uma parte de si.
A culpa me consumia cada dia mais e eu podia jurar que iria enlouquecer a qualquer momento. Ele havia partido, de novo. Dessa vez pra valer. Eu não o havia dado a chance de se explicar ou se desculpar. Eu o tinha ignorado. O meu progenitor. O meu pai.

O inverno havia chegado, e com ele a baixa temperatura e as fortes chuvas, assim como aquela que havia caído durante o dia todo.
Me olhei mais uma vez no espelho, mas não consegui me sentir nada além de vazia. Zaylla entrou dentro do quarto e suspirou, caminhando devagar até onde eu estava e me puxou para um abraço, o qual me deu espaço para desabar.
Depois de tantas burocracias e as complicações para um laudo médico, AVC foi a conclusão, finalmente Holand Leroy poderia ter um enterro digno.
O local estava lotado e eu tinha certeza que nem metade daquelas pessoas haviam convivido com o meu pai. O caixão, e doía pensar nessa palavra, estava localizado no centro, rodeado por coroas de flores. Flores brancas, e talvez fossem as preferidas dele, mas eu não sabia. Não tinha como eu saber, eu não me permiti saber.
Minha mãe já estava lá, acompanhada por Sally e Patch. Quando me viu, ela foi até a minha direção e me abraçou apertado, enquanto eu a ouvia chorar. Sally também me abraçou, seguida por Patch.
Algumas pessoas, surpreendentemente, vieram me cumprimentar, outras não faziam ideia do porque aquilo estava acontecendo, mas eu preferia que fosse assim.
Hadan chegou, pouco menos de uma hora depois. Os cabelos estavam devidamente penteados para trás e usava óculos escuros. Parecia estar procurando algo, talvez fosse a mim, porque quando finalmente trocamos olhares, ele veio com passos grandes e rápidos até onde eu estava, me envolvendo rapidamente em um abraço.
Meu rosto afundou no peito de Hadan, enquanto eu mais uma vez me derretia em lágrimas, porém, me sentindo menos pior por estar perto de alguém que sabia mais sobre Holand do que a sua própria filha.
— Não se culpe, jamais — Hadan sussurrou contra o meu ouvido, como se lesse os meus pensamentos.
A voz dele estava rouca, talvez por ter chorado muito. Meu corpo inteiro arrepiou-se e minha barriga voltou a embrulhar. Não entendia como era possível que alguém realmente mexesse tanto comigo.

Aos poucos, com a chuva aumentando, as pessoas começaram a ir embora. Para todos ali, Holand não iria passar de uma lembrança que iria se esvair aos poucos, como os dias de chuva no verão. Era simples para eles. Alguns iam voltar para suas mansões, falar sobre o quanto papai era uma boa pessoa enquanto tomavam vinho e logo ao acordarem já não iam mais lembrar que estiveram num enterro no dia anterior, mas eu sim. Hadan também e talvez as pessoas mais próximas de nós, mas eu sabia que não como Hadan e eu. Jamais como Hadan e eu.
Quando o caixão foi levado, me surgiu um pensamento e um grande aperto no peito, aquele era meu último adeus a Holand e nada era tão desesperador. Minha garganta apertou e senti as lágrimas aumentarem pelas minhas bochechas, enquanto ecos que eu mal podia ouvir escapavam da minha garganta. Eu estava fazendo um show, eu sabia. Me olhavam com pena e eu só pude me acalmar quando Hadan, com relutância de minha parte, me carregou para dentro da sede da funerária.
Enquanto tentavam me sedar insistentemente, e eu relutava, soluçando por tanto chorar, observei um homem de terno entrar pela porta dos fundos da funerária. Ele carregava uma grande pasta em uma das mãos e assim como a maioria das pessoas, não parecia se importar muito sobre quem, como ou porque Holand havia acabado de ser enterrado.
O homem caminhou com relutância até onde eu estava, mas Hadan se colocou na frente dele, o cumprimentando.
— Senhor Campbell — ele disse, enquanto trocava um aperto de mãos com aquele que acabara de chegar.
— Olá, Matthews — o homem alto respondeu, um tanto contrariado, mantendo o olhar em mim.
Minha mãe entrou, enxugando as lágrimas, seguida por Zaylla, Daves, Paul e meus dois irmãos.
— Acabou — ela anunciou, sentando ao meu lado, deixando um longo suspiro escapar de seus lábios.
Meu peito voltou a apertar e pressionei os nós dos dedos contra a cadeira de madeira, em um acesso de ansiedade.
Zaylla correu até o meu outro lado e segurou a minha mão, me olhando nos olhos. Quando os meus voltaram a marejar, ela suspirou e beijou o dorso da minha mão.
— Eu estou aqui, para sempre — ela sussurrou e só então senti meu coração desacelerar.

A conta para casa foi mais difícil do que a chegada no velório. Era como se uma parte, mais da metade, tivesse ficado para trás e talvez isso fosse tudo culpa do remorso.
Ao chegarmos em casa, percebi só então que em um dos carros que nos seguia, vinha o homem alto de paletó. Ele entrou, acompanhando Hadan, que pediu para que ficássemos um tempo juntos.
— Quem é você? — perguntei então, finalmente, enquanto ia até a cozinha. Minha mãe e meus irmãos concordaram, como se fizessem a mesma pergunta.
Zaylla pigarreou, sentando ao lado de Josh no sofá, acompanhada por Daves e Paul. Hadan ficou de pé, ao lado de Campbell.
— Sou Evandro Campbell, advogado do senhor Leroy — ele respondeu somente quando voltei para a sala, levando um copo de água para Hadan, que me agradeceu com o olhar — Eu vim ler o testamento para a família dele — Campbell completou, abrindo a pasta.
Minha sobrancelha franziu em confusão e Hadan passou o braço por cima do meu ombro, me fazendo o abraçar de lado.
— Deve ser do conhecimento de alguns que o senhor Leroy possuía somente a senhorita Bailey Austin Mazon como filha. Teve apenas um casamento realizado diante da justiça, com a sua falecida esposa Emmet Johanne, logo todos os seus bens pessoais, como a suas casas, dinheiro e a parte de Holand da Company Leroy, serão passados para... — Campbell lia uma grande folha de cor amarelada diante de todos nós, que demonstrávamos apreensão em conjunto, exceto por Hadan — a sua única filha, Bailey.
Um grande som oco de surpresa ecoou pela sala. Minha mãe me olhava, com uma expressão de apreensão, tendo os olhos levemente arregalados.
Eu mesma não poderia acreditar no que acabara de ouvir. Hadan me apertou mais contra si, enquanto eu o olhava, mas o mesmo continuava focado na leitura de Campbell.
— Essa deverá cuidar e preservar todos os bens deixados pelo senhor Leroy, o seu pai.
Para o senhor Hadan Matthews foi deixada uma propriedade em Seattle City e uma carta escrita pelo próprio Holand Leroy — Campbell a tirou de dentro de uma pasta, passando-a para Hadan, que a segurou com as mãos trêmulas.
— Os dois deverão comparecer ao banco com a minha presença para assinarem todos os papéis que legalizam a posse de vocês — ele encerrou, fechando a pasta e passando o olhar pela sala.
Todos tinham a mesma expressão. Hadan adiantou-se, então, afastando-se de mim, se ofereceu para acompanhar Campbell até a porta.

— Você é tipo zilhonaria agora — Daves falou, enquanto todos comíamos juntos na grande mesa da sala de jantar que não era usada quase nunca.
Minha mãe não havia dito uma sequer palavra desde que Campbell lera o testamento de Holand.
— Você está vivendo um filme e nós somos os coadjuvantes — Zaylla completou, arrancando uma risada nasalada da minha parte.
— Eu nem sei o que fazer — falei, finalmente. Todos na mesa ficaram me olhando por longos segundos.
Hadan, por baixo da grande toalha que cobria a mesa, segurou a minha mão, me oferecendo apoio.
— Eu sou muito bom com finanças — Josh comentou, se intrometendo, fazendo com que Hadan o lançasse um olhar de repreensão. Zaylla coçou a garganta enquanto Daves segurava a risada, junto de Paul.
— Agora você vai me dar presentes caros, está claramente me devendo muito — Sally disse, finalmente e eu sorri.
Magicamente ter Sally ao meu lado me fazia sentir menos pior. Patch e mamãe seguiram calados e aquele silêncio estava começando a me incomodar.
— O que acha sobre tudo isso, mamãe? — perguntei, vendo todos os olhares revezarem entre mim e ela.
— Está cedo demais para decidir algo — ela falou, simplesmente.
Meus olhos cerraram enquanto todos voltaram a comer, deixando o clima diante daquele jantar pesar bem mais do que todo o enterro que acabara de rolar.
Minha mãe pigarreou e sem dizer uma palavra sequer e saiu, indo até a sala, sendo seguida por Patch. Sally me lançou um olhar apreensivo e eu suspirei, cansada. É claro que os dois fariam uma cena.

 É claro que os dois fariam uma cena

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Eu não tô chorando, vocês que estão.
Espero que deixem a autora viva 😋
⭐️⭐️⭐️!

𝐀 𝐇𝐞𝐫𝐝𝐞𝐢𝐫𝐚 - sofia carson Onde histórias criam vida. Descubra agora