Capítulo 34

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PoV. Harry


Louis estava tão cansado psicologicamente, que assim que chegamos em casa, ele capotou na cama.

Eu sentei no braço do sofá da sala, assistindo distraído meus pais andarem pela cozinha, preparando bebidas quentes. Gemma também foi dormir.

A casa estava escura exceto pela única lâmpada no cômodo. As árvores do lado de fora balançavam e a luz da lua entrava quebrada por entre as folhas secas.

Mamãe parou em minha frente e me entregou uma xícara com chocolate quente. Enrolei meus dedos na xícara, mas não bebi. Havia um bolo na base da minha garganta, que apertava cada vez que eu lembrava como o dia teve mudanças drásticas.

— Todas as coisas que aquela mulher disse... - Anne sentou-se a mesa, sua própria xícara na mão - Louis ouvia muito disso? É algo que acontece com frequência?

Pensei em como Nicole foi mais assustadora nas últimas horas do que em qualquer momento que nos encontramos antes.

A forma como suas palavras foram cuidadosas para atingirem pontos específicos nas inseguranças de Louis, em como seu tom de voz não combinava com suas reais intenções. Ela foi manipuladora.

E doía meu peito de lembrar como pareceu ter funcionado. Louis ficou abalado. Mesmo que nada daquilo fosse verdade, ele tinha medo de ser, isso já era o suficiente.

— Eu não sei como ajudar. - falei, minha voz embargando.

Meu pai veio para meu lado, a mão confortável no meu ombro.

— O melhor que você pode fazer, é ficar ao lado dele. - aconselhou - Mostrar estabilidade. Cada pessoa tem sua forma de lidar com as coisas.

Depois de todo esse tempo que conheço Louis, eu notei que ele tinha um mecanismo de defesa. Ele xingava as pessoas, era grosso e frio. Não aceitava conselhos ou sugestões e fazia tudo sozinho.

Quem não o conhecia de verdade, não entenderia o motivo. Ele cresceu com Nicole sendo sua figura "materna". Uma mulher que controlava cada passo das crianças, para serem robozinhos obedientes, a imagem perfeita de uma família rica perfeita. Tudo do jeito dela. Sem desvios. E usava manipulação como arma.

Louis teve que se treinar durante toda a vida, para ir contra ela. Para não ser atingido e nem manipulado. E isso fluiu para sua convivência com todas as pessoas.

Era incapaz de acreditar que alguém realmente queria seu bem. Talvez por isso tenha demorado para perceber que estava apaixonado por mim. Porque nunca cogitou a possibilidade de se apaixonar por alguém.

Tomei metade do meu chocolate e fui tentar dormir também.

Devo ter cochilado por algumas horas, porque o sol nascia quando acordei. Observei os raios gentis do sol tocarem o rosto adormecido de Louis, a boca levemente aberta e o cabelo uma bagunça adorável. Parecia tão frágil. E ainda assim eu sabia que ele era a pessoa mais forte que eu conhecia.

Levantei com cuidado para não perturbá-lo e fui fazer minha higiene matinal. A casa estava quieta, murmúrios eram ouvidos e o som de talheres e objetos sendo movidos. Minha família se adaptou ao clima necessário para Louis e eu agradeci por isso.

Tomei um café da manhã leve e quando ouvi movimento no andar de cima, juntei comida num prato para levar para Louis.

Abri a porta devagar e Louis voltava do banheiro, secando a boca. Depositei o prato na mesa e então estávamos um no outro, inspirando o cheiro familiar de pinheiro e agora pasta de dente.

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