Capítulo 13

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— Você precisa conversar com aquele menino

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— Você precisa conversar com aquele menino. — decreta minha mãe, atravessando a entrada da cozinha.

— Conversar com quem? — finjo-me de desentendida, sorvendo lentamente meu café para fugir da pergunta.

Ela me encara do outro lado do cômodo com os olhos entrecerrados.

— O quê aconteceu? — questiona.
Suspiro, contendo a vontade de me abster da resposta.

— Nada, mãe. Não aconteceu nada.

E é a verdade.

Mas estou evitando Vicente mesmo assim.

Faz uma semana que eu saio absurdamente cedo de casa para escapar da carona que ele me oferece todos os dias e passo todos os intervalos em sala para evitar o risco de encontrá-lo.

É ridículo, mas não consigo agir de outra forma.

Porque ainda não entendi bem o que aconteceu naquela noite no teatro, muito menos todas as minhas reações.

E minha vontade de beijá-lo.

É por isso que não posso vê-lo agora. De jeito nenhum.

— Ele continua vindo todos os dias. — minha mãe diz, fazendo meu peito saltar. — Seja lá o que haja entre vocês, não me parece que você esteja sendo muito justa com ele.

Não estou, e sei disso. Penso sobre isso o tempo todo, compulsivamente.
Respiro pela boca, momentaneamente esquecendo o funcionalmente normal do meu corpo.

— Acho que eu só preciso organizar minhas ideias. — digo, atraindo a atenção dela, que assente.

— Leve o tempo que precisar, mas não magoe ninguém no processo, filha.
Faço que sim, com os pensamentos longe, na casa com vitral na porta e o melhor cappuccino que já tomei na vida.

Balanço a cabeça para me libertar dessa espiral viciosa de pensamentos que eu já conheço bem demais.

🎼

A verdade é que me desacostumei a andar sozinha. Agora, sentada em um banco de praça, sem ninguém a quem observar ou ouvir, me sinto deslocada demais.

Sinto falta de... não sinto falta de nada. Reprendo o rumo de minha própria mente, vagueando por lugares perigosos demais. Os mesmos lugares que me fizeram vir até aqui em busca do mínimo de distração, em pleno sábado.

Estou desenhando pessoas que vejo em meu caderno de couro vermelho, mas isso não é capaz de prender meu foco, percebo, quando esqueço a cor dos cabelos da menininha que rabisquei por último um segundo depois de erguer meus olhos para observar. Fecho os desenhos, deixando-os sobre o colo, e afundo minha cabeça nas mãos, subitamente cansada de ser obrigada a conviver com meus pensamentos.
Sinto vontade de virar uma chave e desligá-los.

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