Vicente me acorda cedo no dia seguinte, com batidas escandalosas na porta. E quando eu digo cedo, quero dizer cedo. O sol ainda nem tinha nascido, e ele já parecia pronto para acordar metade da cidade se fosse preciso para me arrastar dos cobertores. Eu preciso de no mínimo vinte minutos para me tornar uma pessoa descente e suportável pela manhã. É por isso que estou especialmente propensa a bater a porta na cara dele quando me levanto para atendê-la.
— Bom dia! — ele diz, transbordando alegria e energia às cinco horas da manhã.
Vicente não cansa nunca?
— Não é dia ainda. — aponto.
Ele sorri, aquelas duas marquinhas despontando em cada uma de suas bochechas. Meu coração revira e me apoio na porta.
Droga de covinha.
Ele aperta os olhos em minha direção.
— Por que você está sempre fulminando minha covinha?
O problema com a sua covinha é que quero beijá-lo toda vez que ela aparece.
— Ela te deixa convencido.
Vicente sorri ainda mais, e preciso desviar o olhar de seu rosto.
— Boa noite, Vicente! — cantarolo, fechando a porta.
Antes que eu possa encostá-la no batente, o pé dele a intercepta e relaxo minha força contra ela com medo de machucá-lo. Inclino a cabeça, questionando.
Ele passa o rosto pela fresta, encarando-me como se soubesse exatamente como me convencer a fazer qualquer que seja a coisa que o levou a interromper meu sono.
— Vem comigo.
Nego avidamente.
— Sem chanc...
— Eu fiz café pra você.
E, simples assim, ele me compra.
Então agora nós estamos há mais de trinta minutos seguindo uma trilha deserta e um pouco escondida, o gosto do café ainda no fundo da minha língua. Eu não sei o que ele pôs naquilo, mas pra alguém que odeia café, o dele é bom demais.
A luz faz coisas bonitas aqui. Sinto meus dedos coçarem por um papel e lápis de cor.
— Nós encontramos esse lugar ontem, eu e Pietro.
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Último Som
Romance"A vida inteira, meu mundo foi feito de sons. Cores se convertiam em notas, formas tornavam-se acordes. E tudo convergia em uma melodia infindável, incomparável. Minha alma. A música me reivindicou, me tomou pra si, me escolheu. Tudo o que vejo é m...