Capítulo 21

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Vicente está mais relaxado do que nunca quando coloco minha mochila no porta-malas, toda sua energia agitada contida apenas em um sorriso largo que ele não abandona

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Vicente está mais relaxado do que nunca quando coloco minha mochila no porta-malas, toda sua energia agitada contida apenas em um sorriso largo que ele não abandona.

O sol já está alto no céu. Os pais deles saíram muito mais cedo que isso, mas nós dois precisávamos ir à faculdade por motivos distintos, então atrasamos em algumas horas nossa pequena aventura. Agora, vamos encarar a estrada sozinhos.

Ele está batucando os dedos no volante quando me sento no banco do carona a seu lado.

— Cinto de segurança. — advirto, enquanto travo o meu próprio.

— Você vai dar uma mãe muito boa, sabia?

— É, eu sei. Estou treinando com você. — zombo.

Ele faz uma careta de dor fingida.

— Essa doeu, tá bom?

Dou risada, inclinando-me para a frente, meus dedos correndo pelos botões do rádio em busca de uma estação que combine conosco. Paro de mexer quando uma melodia conhecida começa a tocar nos alto-falantes. Esforço-me para ouvir melhor. Parece algo de James Arthur. Can I be Him, descubro, um segundo depois.

Viro meu rosto por sobre o ombro. Vicente me observa e seguro seu olhar. Lentamente, um sorriso se desenrola pelo seus lábios. Ele sussurra o nome da música no momento em que é cantado e tenho certeza de que perdi meu coração e ele foi substituído por algum dispositivo que se movimenta muito mais rápido, muito mais acelerado.

Recosto-me devagar no banco, como se não exigisse muito esforço não olhar para ele. Viro-me para janela antes que ele veja o pequeno sorriso que não consegui conter.

🎼

Eu me lembro de algo minutos mais tarde, quando estamos saindo da Ponte. Procuro algo na bolsa menor que trouxe comigo e pego minha garrafa de água começando a pingar.

Destaco um comprimido da cartela e o engulo com um gole na garrafa.

— O que foi? Está se sentindo bem? — ele pergunta, um tom de preocupação permeando suas palavras.

— Estou bem. — tranquilizo-o — É remédio para enjôo. Eu tomo por causa da Síndrome.

Ele assente, mas ainda há incerteza em sua expressão.

É só uma precaução.

Eu só não consigo parar de me esforçar para evitar um novo encontro com o silêncio, em qualquer uma de suas formas. A possibilidade de uma crise me assusta, mais do que gostaria de admitir.

O carro balança em um ritmo perto de constante e Vicente abaixa um pouco o volume do rádio. Agora consigo escutar a cadência de minha respiração mais alto. Meus olhos pesam à medida que nos movemos.

É só por um minuto, penso, fechando-os, é só por um minuto.

🎼

Um sopro em meu rosto faz minhas pálpebras tremerem, mas mantenho-as abaixadas. Murmuro algo ininteligível e me acomodo. Uma risada toma meus ouvidos, um som conhecido. Meu peito estremece.

— Lu. — um sussurro. Um sopro.
Abro os olhos devagar, a luz fazendo com que minha visão demore a se encaixar, o sono ainda levando o melhor de mim.

— Chegamos. — ele diz.
Isso me desperta.

— Chegamos? Por  que não me acordou antes?

— Você parecia tão calma dormindo. Quase angelical. Não consegui me obrigar a te acordar.

Tudo em mim suaviza.

— Eu queria ver a cidade! — aponto.

— Nós teremos dias, você vai ver tudo o que quiser da cidade. Prometo.

Vicente insiste em carregar todas as malas, concentrando todas em uma mão só e entrelaçando a outra à minha.

O sol esquenta a fachada de traços bonitos e delicados da pousada, fazendo uma gota de empolgação subir pelo meu interior. Hera bem cuidada com flores rosa-escuro sobe pela lateral da parede, escalando para se enrolar à vigas de madeira que criam uma sombra vazada no chão. Ergo os olhos para o letreiro.

Locanda Della Fontana.

— É um nome bonito. De onde veio?
Ele me olha com curiosidade.

— Significa “Pousada da Fonte”, mas se chama assim porque é nosso sobrenome.

Paro, puxando-o de volta comigo.

— Seu sobrenome é Della Fontana?
Sua expressão é confusa e risonha.

— Sim. — confirma, acenando com a cabeça. — O primeiro deles.

— E por que você não usa? Eu nem sabia que sua família era italiana!

— Tá falando sério? — incredulidade colore as palavras — Luísa, você comeu um cornetto logo na primeira vez que foi na minha casa. Tem Itália para todos os cantos lá.

— Eu comi um croissant!

Ele dá risada, daquela forma que ilumina o castanho em seus olhos para um tom mais brando, mais escuro que o mel.

— Aquilo não era um croissant e você tem muito a aprender. — ele começa a caminhar na frente, acenando com a cabeça — Vamos, sua aula está apenas começando.

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