OPERAÇÃO DUPLA - Vinnie Hacker

18.

EMMA HALLE

Emma ou só Halle. Cresci sendo chamada pelo meu sobrenome, para ninguém perigoso ou qualquer pessoa que não merecesse saber demais sobre mim. Eu já nasci com meu destino traçado a Divisão e nada, nem ninguém, poderia tirar isso do meu sangue ou do meu destino, ninguém poderia tentar mudar meu destino e infelizmente eu sempre soube disso. Mas não custava tentar mudar meu destino e fazer diferente, não é? Entrei na agência BILD já sabendo das consequências e do enorme preconceito que eu iria sofrer lá dentro ou até mesmo se alguém descobrisse do meu passado. Até mesmo por ser uma traidora e uma ex-assassina da Divisão.

Eu sabia de todo preconceito que passaria lá dentro e mesmo assim fui, me joguei de cabeça, tentando mudar o que eu era ou o que me ensinaram a ser, um fantasma, uma arma humana, uma pessoa sem remorsos ou escolha. Eu só não sabia que uma pessoa, para ser mais específica, um agente mal-humorado, loiro e dos olhos cor mel, fosse desbloquear sentimentos reais além do sentimento da dor e raiva, sentimentos os quais eu nunca pedi para sentir novamente.

Acredito que não conseguimos silenciar nossos sentimentos, mas as vezes, traumas conseguem abafar alguns e foi o que aconteceu comigo. Depois de ser abusada e violentada sexualmente, eu não me permiti sofrer mais do que já havia sofrido, eu coloquei em minha cabeça que estava mais do que na hora de abafar toda aquela dor e ser a parte mais perigosa de mim, caçar a parte mais profunda de mim, a famosa Halle, que por anos, me via sendo fria ou sem querer sentir tudo aquilo novamente e agora eu estava na beira do poço, sabendo que a única coisa que me salvaria seria voltar a ser como antes.

Sentimentos me deixam vulnerável, deixam todos nós vulneráveis. Está mais do que na hora de voltar a ser como antes.

Hoje eu estava completando vinte e dois anos, e também cinco anos em que consegui fugir da Divisão, fazendo minha vida se tornar um pouco mais fácil, mas também o próprio inferno.

Faço um coque em meu cabelo ruivo e o prendo com um prendedor grande, terminando de arrumar minha blusa e logo em seguida colocar um casaco, que se estende até meus joelhos. Caminho até meu closet e calço uma bota preta, que combine com meu casaco e o restante das minhas roupas pretas, volto para o quarto e pego minha arma da cabeceira, logo depois pego minhas chaves e olho ao redor, vendo que minhas malas já estavam prontas para viagem.

Suspiro pesado e caminho em direção a porta do meu quarto, fechando a mesma e passando pelo corredor dos quartos, sem ouvir um barulho se quer, apenas o ruído que minhas botas causavam pelo corredor silencioso. Caminho até a escada e começo a descer as mesmas com precaução, logo em seguida vejo que na sala não havia ninguém, nem mesmo Hacker que nesse horário sempre está por aqui. Afasto meus pensamentos barulhentos caminhando até a porta de saída e logo em seguida, saindo pelo portão principal e começando a andar pela avenida.

Depois de um tempinho andando, eu desligo meu celular novamente e sorrio, me permitindo sentir aquele sentimento bom, apenas por ele. O qual nunca, nunca mesmo, havia me decepcionado e eu estava realmente disposta a ser quem eu era antes, a famosa Halle, sem remorsos ou sentimentos reais por pessoas que não devem nem um pouco do que o meu outro lado é, a que por dois meses se permitiu ser quem nunca foi, a que deixava os outros pisarem em você, a que de permitia chorar na frente deles, essa não era eu, nunca foi.

Afasto meus pensamentos depois de ouvir uma buzinada longa e atravesso a rua, sem responder nada para as pessoas que reclamavam comigo por conta de eu ter atravessado a rua sem olhar para os lados. Apoio minha mão sobre a porta de vidro da cafeteria e a empurro para trás, ouvindo a pequena sineta que havia encima da porta balançar e fazer um barulho chegar em meus ouvidos, trazendo a atenção da maioria das pessoas ao meu redor.