02.

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EMMA HALLE

Fecho o box de vidro ao me despir por completo e entro em baixo do chuveiro após ligá-lo na água totalmente fria, fecho meus olhos jogando minha cabeça para trás, deixando com que toda aquela água gelada que caia do chuveiro, molhasse quase toda a extensão do meu corpo por si só sem nenhuma pressa, enquanto eu, me mantinha encostada na parede gelada e úmida atrás de mim. Ainda com meus olhos totalmente fechados, apenas ouvindo o barulho da água escorrendo e indo ao encontro do chão, facilmente meus pensamentos são roubados por flashbacks da minha infância sendo destruída. Era como se um filme trágico, totalmente programado, passa-se lentamente pela minha visão escurecida.

Tudo era diferente, meus pais.. o jeito que eles sempre eram comigo e com Marcus, o jeito que eles cuidavam de nós os dois. Eles eram totalmente diferentes do que eu havia visto em todos aqueles anos e meses dentro da Divisão, o jeito que eles lidavam com as pessoas ao seu redor, principalmente com as pessoas que realmente importavam.
É inexplicável a sensação que eu sinto a cada vez que eu volto para o mesmo dia, para o mesmo momento, vendo eles se afastarem de mim, vendo os meus pais, traírem a minha confiança. A nossa família era unida até a chegada de Luiza e Connor, éramos apenas nós os quatro contra todo mundo.

Agora sou apenas eu, contra eles.

Saber que a Divisão nunca vai parar de "recrutar" adolescentes e crianças, para mais cedo ou mais tarde, tornar-los assassinos á sangue frio, ou fantasmas sem ao menos perceber, os afastando de familiares ou até mesmo matando-os, me corrói por dentro. Saber também que eu não sou a única que foi forçada desde criança a se alto-defender e aprender á lutar por obrigação. Sem ter um sinal de afeto dos seus próprios pais lá dentro, sem ter companhia ou qualquer tipo de afeto emocional, o que foi novo pra mim, ainda sim, me causa dores inexplicáveis.

Sou praticamente arrancada dos meus pensamentos assim que ouço algumas batidas fortes e abafadas vindo da parte de fora do banheiro, no segundo andar da minha casa. Desligo o chuveiro e fico em silêncio apenas tentando escutar algo, para ver se as batidas realmente eram em minha casa e realmente eram. Rapidamente abro o box para pegar minha toalha e enrola-la em meu corpo nú.

— Merda! Espera, porra. — Falo quase resvalando no molhado do banheiro e também na tentativa de fazer com que as batidas cezazem, até porque ninguém merece ser acordada com batidas na casa da vizinha em pleno sábado, às nove da manhã. — Eu já tô indo! — Grito novamente, fechando o box para evitar com que a água que ainda havia alí não se espalhasse pelo resto do banheiro.

Rapidamente enrolo aquela toalha branca em meu cabelo e ponho minha blusa em uma modo totalmente desleixado, em seguida uma calça larga e preta. Eu odiava fazer isso, mas as vezes era necessário e eu também não iria atender a porta sem nenhuma roupa descente. Retiro a toalha do meu cabelo e saio do banheiro as pressas pois eu não queria receber reclamações, mais uma vez, dos vizinhos irritantes que eu tinha.

Caminho rapidamente em direção as escadas, mas paro no meio do corredor, bufo após me lembrar de algo e dou meia volta, corro novamente para o meu quarto e vou até a cabeceira da minha cama para pegar minha arma, nunca se sabe quando alguém vai querer te matar, até mesmo na porta da sua casa. Saio do meu quarto, agora em passos não muito rápidos pois eu ainda não sabia quem estava batendo, destravo a segurança da minha arma e aponto a sua mira para o chão enquanto caminhava pelo corredor, apenas com uma regata branca, justa e uma calça preta larga.

Desço as escadas devagar e ouço alguns barulhos vindo da sala, mas primeiro ando até a porta e olho pelo olho mágico não vendo ninguém. Sinto meu coração dar leves aceleradas e passo meu olhar pelo cômodo que fica perto da porta principal, mas não enxergo nada além dos móveis que vejo todos os dias. Vejo que as batidas cezaram pois também não havia ninguém na porta e começo a dar passos cautelosos até a sala, me aproximo mais um pouco do corredor que dá bem de frente para um dos sofás principais e não hesito em adentrar rapidamente na sala com minha arma apontada para o sofá à minha frente.

OPERAÇÃO DUPLA - Vinnie Hacker Onde histórias criam vida. Descubra agora