☎☎☎ A realidade. Cara.
O mesmo local que antes parecia bem lustrado, agora se tornara fosco, apagado. A beleza do hotel havia se perdido completamente entre as grossas paredes. Os oficiais com suas botas cobertas por lama deixavam suas pegadas em todo o piso, sendo seguidos insistentemente pelo zelador que tentava tirar os vestígios do chão. Continha uma dezena de policiais. Ao lado de fora três carros com sirenes ligadas estacionados bem na entrada, atiçando a bisbilhotice da população que agora fofocavam paralelamente a rua.
- Poderia me mostrar as filmagens da noite anterior? ━ O homem robusto coçou a barba fim de tarde.
- Claro. Me acompanhe, por favor. ━ Uma mulher bem comportada fez menção, ajeitando o uniforme do hotel com delicadeza e formalidade.
Atena, que tinha os braços cruzados enquanto escorada na parede da recepção, observava o homem de sobretudo bege seguir friamente a mulher. Ele aparentava está nos auge de seus 40 anos. Tinha ombros largos e o nariz adunco que apresentava uma cicatriz que seguia da narina até o fino lábio superior, possivelmente o rastro de uma cirurgia de lábio leporino. A morena encarava a nuca do mesmo homem que se virou para ela antes de adentrar o cômodo, revelando mais uma vez os olhos fundos e a falta de massa muscular na clavícula, como se no lugar de ossos tivesse um cabide sob a pele. A jovem desviou o olhar quando encarada com seriedade, retornando a atenção somente após ouvir a porta bater de forma bruta.
- Ele quer ver as gravações. ━ A mulher sussurrou para o funcionário aconchegado na cadeira giratória.
Um senhor de cabelos brancos e uma visível calvície se ajeitou rapidamente na cadeira, juntando seus lábios para assoprar a poeira do teclado daquele IBM PC. As imagens com quase nenhuma iluminação voltavam para trás quando se pressionava um único botão, como um easter egg de listras verdes e falhas na conclusão da imagem, acendendo e apagando de milésimos em milésimos. O botão parou de ser pressionado quando uma imagem do salão surgiu, diminuindo a velocidade das gravações com apenas um toque.
- Aqui está. ━ O senhor chamou o outro com o indicador, pedindo para que assistisse a gravação.
O homem de cabelos escuros - e medianos - semicerrava os olhos para tentar enxergar melhor. Na pequena tela mostrara várias pessoas dançando e se divertindo no que aparentava ser uma pequena pista. Por mais que as gravações não tivessem som, ele poderia imaginar a música alta que estaria tocando, somente pela animação dos hospedes. Ele se atentou a quando uma dupla se aproximou de outros dois jovens no canto do salão, como se os convocassem a algo. Os quatro deram passos curtos para fora da pista antes de um verde musgo cobrir toda a tela do computador encaixotado, trazendo a suas visões apenas um corte seco e inesperado da filmagem.
- Tem outros ângulos? ━ O homem retirou um cigarro da parte de dentro do sobretudo.
- Sim, senhor. Temos câmeras em todos os corredores. ━ Ele saltava de câmera em câmera através do mouse.
As filmagens passavam por vários corredores vazios durante o tempo em que a autoridade riscava o isqueiro, o mesmo na qual pulara a pequena chama usada para acender o item cancerígeno. Em uma das gravações foi flagrado os quatro rondando pelo corredor com circunspeção, um atrás do outro. Ele assoprou a fumaça antes de se curvar sobre o senhor, a fim de encarar o computador mais de perto. Os quatro tentavam abrir todas as portas que viam, pareciam curiosos e apressados. Era difícil decifrar o que acontecia já que a gravação se assemelhara mais a borrões do que a imagens claras.
- Eles estão fugindo de alguém? ━ A mulher que teria permanecido em silêncio até o momento questionou a possibilidade, deixando sua voz escapar como o ciciar de um roedor.
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O Crocitar
HorrorA primeira viagem escolar da turma de 86, destinados a um hotel de luxo da cidade vizinha, onde se encontrara diversos museus pelas redondezas. No ônibus, personalidades desiguais formando bons amigos. No universo, locais diferentes formando audacio...