☎☎☎ A realidade. Cara.
Atena abotoava seus shorts jeans com a ajuda de seus dedos compostos por unhas médias, que agora estavam pintadas de um azul persa - a mesma definia seus esmaltes pelo seu humor, sendo o frasco escrito Persian blue para os seus dias infelizes -, sem muita cerimônia ela agarrou uma jaqueta corta vento que utilizava para praticar suas corridas matinais, a mesma que teria em sua composição um tom de cinza meramente decorado com fitas cianas. Seus olhos transitavam pelo seu quarto simples, se alegrando de finalmente estar em seu conforto. A garota foi até a escrivaninha recheada pelos livros mais famosos do momento, sendo em sua maioria literaturas de terror ou suspense, logo a cima um mural repleto de post-it colorido com algumas anotações importantes, mas o que quisera mesmo estava na primeira gaveta, ela puxou de lá o Walkman Sony amarelo e o seu toca fitas. Felizmente, estava tudo devidamente em seu lugar, como uma espécie de ritual para sua própria satisfação mental. Seus cachos estavam soltos, se destacando em meio a sua pele bronzeada e a seu corpo atlético, mas ainda sim imperfeito para a mesma. Ela bufou ao olhar em seu relógio de mesa e se dar conta de que estava atrasada para encontrar Angel e Chass. Seus pés a empurravam para fora do quarto, se atentando a deixar a porta encostada de modo que soubesse caso adentrassem seu quarto. Ela passou pela sala enquanto prendia o toca fitas em sua cintura e, depositava o fone de ouvido em sua nuca, por baixo de toda cabeleira. De relance viu seu irmão assistindo algum programa esportivo enquanto deitado na grande poltrona de couro, mas o ignorou, seguindo para porta principal. Sua mãe teria saído cedo para trabalhar assim como seu pai, então nem mesmo tivera tempo e avisá-los que sairia durante a tarde. Do lado de fora a brisa fresca fez com que seus cabelos voassem levemente, estavam entrando no outono, as árvores já tomaram a cor alaranjada em suas folhas, que muitas das vezes se encontravam ao chão, sendo arrastadas por uma eternidade.
Ela caminhava desinteressada na calçada onde algumas garotas tagarelavam com dezenas de sacolas em suas mãos, ou, onde algumas crianças vez ou outra passavam por si montadas em suas bicicletas coloridas. Em uma das casas verdes estilo vitoriana daquela rua, um senhor se comunicava com seu vizinho enquanto regava as plantas com a longa mangueira amarela. Não morava em uma cidade grande, mas também não chegara a ser no interior, talvez uma cidade com grande poder de influência econômica sobre os outros distritos que se encontravam próximos, mas não era de forma alguma uma cidadezinha do interior lotada de caipiras. Mesmo que não fosse tão ruim, Atena estava louca para poder sair de lá, louca para ir embora e deixar o lugar para trás, deixá-lo em suas lembranças. Sua única esperança seria a faculdade ou talvez uma bolsa esportiva, e talvez por isso se tornara tão ambiciosa sobre o seu futuro; se tornara acorrentada aos livros e suas anotações. Ela suspirava fundo a cada nova rua, vez ou outra sendo esbarrada por algum imbecil que não se desviava ou não prestava atenção no caminho. Irritante. Ao olhar para o semáforo fechado saberia que já estava próxima da praça central, o que a deixava um pouco mais cansada. Nem havia chego e sua bateria social já parecia esgotada. A morena pisava nas folhas secas que preenchiam o asfalto para dar de encontro com o local, observando todos os bancos velhos que enfeitavam o lugar. As lixeiras coloridas. Os postes novos. A grama recém cortada. Definitivamente o prefeito estava se esforçando para agradar os moradores.
A uma curta distância encontrou a loira que acenava para si, sorrindo de uma forma não alegre, mas ainda sim, simpática. Ela foi ao encontro dos dois, cumprimentando-os com um curto mexer de cabeça. Ela queria poder tirar aquele peso de suas costas. Queria poder tirar aquele assunto da sua cabeça.
- Por que parou de me atender? ━ Angel questionou.
Angel estava com olheiras, nem mesmo a calça larga e a curta blusa azul com pequenas florzinhas pareciam brilhar nela; estava aparentemente cansada, cansada como quem não dormira esta noite.
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O Crocitar
HorrorA primeira viagem escolar da turma de 86, destinados a um hotel de luxo da cidade vizinha, onde se encontrara diversos museus pelas redondezas. No ônibus, personalidades desiguais formando bons amigos. No universo, locais diferentes formando audacio...