Levanto-me da cama, olho à rua, vejo que o tempo arrefeceu e vou vestir o meu uniforme escolar. Calço primeiro umas collants de vidro, a seguir ponho a camisa branca com o típico bordado TXT, a gravata azul escura com riscas brancas, uma outra camisola azul escura de malha fina com os rebordos em branco e um decote em V, por cima. A saia de pregas da mesma cor que vai até um pouco acima da linha dos joelhos e calço mais um par de meias brancas até o joelho.
Ajeito os meus cabelos ondulados e compridos depois vou a cochear até à cozinha tomar o pequeno almoço que a minha tia me preparou. Dirijo-me para a porta apoiada na canadiana, calço os mocassins e espero pela minha tia. Como estou lesionada do tornozelo ela passou a levar-me de carro ao colégio.
Entro na sala de aula e a turma ja está quase toda presente à espera da professora de artes. Arranjo um sítio ao lado da Clara e do Nathan e instalo-me. O Yeonjun também já está na sala, a fazer desenhos perversis no quadro com os amigos. Alguém avisa que a professora está quase a chegar e todos apagam os desenhos correndo para os seus lugares. Todos exceto o Yeonjun. Ele não está nem aí para o que a professora vá achar daquilo e caminha descontraidamente até a sua cadeira. A professora chega e pára para analisar os desenhos no quadro e as asneiras escritas.
Ela vai ao quadro e acrescenta sombras e pontos de luz no pénis lá desenhado começando a fazer uma introdução de forma séria à matéria sobre sombras e relevo.- Talvez deva introduzir o desenho de modelo nú no plano deste ano, uma vez que esta turma tem assim tanto talento. - ela combate a imaturidade dos rapazes com o sarcasmo.
A turma mantém-se em silêncio com a postura séria da mulher. Ela inicia a aula com a teoria da cor e depois dá-nos um exercício para por-mos em prática a matéria. Estava concentrada no meu trabalho até a Clara dar-me um toque pra eu ver algo. Ela acena com a cabeça e viro-me para ver o que era. Era o Yeonjun a chatear o mesmo aluno do refeitório que estava à sua frente, para ele emprestar-lhe materias. O aluno recusava-se e o Yeonjun começou a ficar irritado. Ele olha em volta tentando arranjar outro alvo mais fácil e viro-me rapidamente pra não fazer contacto visual com ele.
Passados alguns segundos volto-me para ver o desgraçado que aturava o Yeonjun e assusto-me ao ver que o rapaz tinha sangue nas costas a escorrer-lhe pela camisa. Tento perceber o que aconteceu e vejo o Yeonjun segurar uma lapiseira com sangue, com o punho bem serrado. Suponho que ele tenha espetado-a no outro aluno e o rapaz continua quieto escondendo o rosto pra baixo com o cabelo.
Será que devo alertar a professora¿ Ou fazer queixa no final da aula¿ Talvez seja melhor eu falar com o ele no final da aula. Se ele quisesse denunciar o Yeonjun tenho a certeza que ele não teria perdido esta oportunidade. Ou então não devia meter-me onde não sou chamada. Possivelmente o Yeonjun depois passava era a massacrar-me a mim e não quero. Mas também não quero ver alguém a sofrer qualquer tipo de bullying à minha frente. Porra... o que devo fazer¿
Os meus pensamentos começam a colapsar com a preocupação. A aula termina e arrumo as minhas coisas depressa pra conseguir apanhar o tal rapaz a sós e falar com ele. Porém ele foi ainda mais rápido que eu e saiu disparado da sala. Tentei alcança-lo mas de canadiana não era fácil e acabei por perde-lo de vista.
Raios... devia ter interrompido a aula para alertar a professora, mas o meu medo não me deixou. Queria ser como a Clara nestes momentos.
Nunca mais o vi tão cedo e a situação acabou por ficar em branco. As aulas prosseguiram e mais tarde decidi ir até à cantina encher a minha garrafa de água. A Clara ofereceu-me companhia mas recusei e fui sozinha. Pelo caminho encontro o Yeonjun sozinho que vinha a caminhar de frente comigo, a olhar para o chão com as mãos nos bolsos e a chutar pedras. Ao cruzar-se comigo chutou-me a canadiana onde apoiava o corpo, fazendo-me cair no chão.
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O rapaz ao lado / Choi Yeonjun
Fiksi PenggemarEmily deixou os pais para trás na Suíça para poder viver uma vida mais saudável e tranquila com a sua tia na França e apesar de ter a vida que sempre ansiou, as assombrações dos traumas da sua infância perseguiam-na. Por alguma razão esses sintomas...