Vende-se Liberdade

Seis

"Gostaria que você soubesse que existe dentro de si uma força capaz de mudar sua vida, basta que lute e aguarde um novo amanhecer"

-Margaret Thatcher

-Tá, mas e se a senhora tivesse que escolher entre lutar com um tubarão ou uma onça, qual você escolheria?- Peter perguntava animado para a sua mãe, que ria calmamente das trezentas perguntas de seu filho sobre o que ela preferia.

Pepper não tinha tido um leque vasto de opções depois do marido praticamente implorar que ela fosse em seu lugar comprar algum sapato e alguma roupa para Bucky. Ela somente aceitou porque precisava comprar mais tinta e papel para continuar escrevendo. Era uma escritora amadora na qual nem todos botavam fé, ao menos seu marido e filho diziam que a escrita da ruiva era cativante, mas ela tinha certo receio de publicar algo, falava constantemente que ainda não tinha encontrado a inspiração certa, e jurava de pé juntos que iria publicar alguma coisa, Tony só rolava os olhos e dizia para ela fazer isso antes que os dois estivessem capengas e com a visão mais problemática.

Já Bucky estava sentado em silêncio, focado apenas no balanço da carroça. Não dizia nenhuma palavra, apenas quando a senhora Stark lhe perguntava alguma coisa. Já tinha pertencido a uma senhora viúva certa vez. Tinha sido a sua primeira senhora, e primeira mestre. Era idosa, mas sã o suficiente para conseguir controlar a venda de algodão que seu marido tinha deixado para trás. Era silenciosa, e nunca parecia sorrir. Não enganava seus escravos somente para puni-los em seguida, como o segundo mestre de Bucky, e os alimentava de forma descente, era justa. No entanto, não deixe essas descrições te darem a pequena alusão de que ela não punia seus escravos pelo menor deslize que cometessem. Seu rosto nem mesmo mudava enquanto assistia o espancamento de outros, mulheres ou homens, não havia ninguém que ela passa-se por alto as falhas.

“Basta” Ela falou para um dos homens que batia em Bucky. Ele deixou a cabeça pender, enquanto o poste segurava o peso de seu corpo, e tinha certeza que se não tivesse amarrado firmemente com o mesmo, não teria sido capaz de sustentar o corpo. Enquanto ainda tossia, a senhora usou a sua bengala para levantar o rosto de Bucky. Ela tinha olhos verdes, tão claros que Bucky não podia se esquecer daquele verde por mais que tentasse. “Sabe, eu adoro o cheiro fresco das minhas frutas pela manhã, e eu alimento você bem, não alimento?” Ela questionou e Bucky puxou mais uma quantidade de ar para conseguir responder.

“Sim, mestre” Ele falou com a respiração entrecortada, e um medo avassalador lhe tomando o corpo, conforme ela movia a bengala mais pra perto do pescoço do homem, que na época, poderia ser considerado mais um jovem do que um homem.

“Então pode me explicar o que Joseph encontrou você comendo hoje?” A entonação era cortante, ela já sabia o que ele tinha feito.

“Uma ameixa, mestre” Ele falou derrotado “Me perdoe, E-eu...” Ela levantou a mão para o silenciar e ele olhou para baixo.

“Não roube de mim novamente, entendeu? Eu sou generosa considerando o que você fez. Se roubar de mim novamente, eu te mando pro mesmo lugar que mandou meu marido” Ela puxou os fios do cabelo dele, erguendo mais ainda o rosto do escravizado “E eu te garanto que vou adorar cada segundo disso”.

Quando era novo não entendia o porquê não podia comer das frutas que já tinham caído da árvore, e porquê aquela senhora preferia deixar a fruta estragar antes de dar alguma para qualquer um daqueles escravos. Não demorou muito para entender que na realidade ele não era mais uma pessoa, não era mais ninguém. E como propriedade alheia, a senhora que ditava o que ele comia ou deixava de comer. Costumava lutar mais antes, se indignar mais, mas foi amansado depois de tantas punições.

-E a senhora precisa de ajuda com algo?- O mesmo homem que tinha conduzido a carroça da primeira vez que conheceu um Stark, questionou a ruiva. Mesmo não olhando, Bucky podia sentir o olhar dele direcionado para si. A mulher também percebeu, mas sorriu simpática.