Quatro

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Gente, o de hoje tem menção a estupro (nada muito gráfico, já que eu mesma não me sinto confortável escrevendo nada detalhado quando se trata de algo tão sério quanto isso), mas pode gerar desconforto, já lhe aviso de antemão.
Dito isso, uma ótima leitura e me desculpa pelos erros.

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"Precisamos de negócios que se desenvolvam junto aos seus, não as custas dos seus"

Júlio Lêdo

Foi reclusado para o quarto onde ficava. O quarto ficava no primeiro piso da casa, em um lugar um tanto afastado no final do corredor. Não tinha ninguém com quem dividisse o aposento, mais uma vez criando certo anseio em Bucky, que antes podia dividir um só espaço com outros sete ou mais pessoas, dormindo enfileirados e no chão. Considerou que seu novo mestre era um homem com a fortuna deveras suntuosa para poder gastar com "regalias" -e espero que o leitor entenda o motivo de ser necessário a utilização de aspas- como uma cama para alguém como James. Ninguém comprava uma cama para uma égua se deitar, ou uma cama para se colocar uma cadeira, já que era assim que era considerado, um coiso, não indivíduo, um objeto, não um humano.

Segurava o braço rente ao corpo, e mesmo que não tivesse levado nenhuma surra, sentia o corpo cansado como se tivesse. Não reconhecia o termo de estar mentalmente cansado, já que na maioria dos dias sua mente se passava em branco, apenas registrando a dor, a raiva e suprimia sentimentos de quando havia sido uma vez livre.

Não demorou muito até ouvir a batida na porta, revelando o mesmo doutor do dia anterior. Ele tinha um sorriso no rosto, mas James não gostava de homens que sorriam demais, era a mesma expressão que mestres usavam quando iam fazer algo maligno, ou usar seu corpo até que tivessem o suficiente. Abaixou a cabeça e se encolheu mais uma vez enquanto o homem se aproximava de si.

- O que faz no chão, James? - Veio a voz calma e cuidadosa, o que deveria ser como trovoadas, era como a garoa, uma voz tranquila e mansa que ainda sim conseguiam incomodar Bucky ainda mais. Bucky estava sentado ao lado da cama, com a cabeça encostada na base da mesma.

- Gostaria que eu estivesse em outro lugar, senhor? - Bruce fez uma careta por ter sido respondido com outra pergunta, e mais ainda, sugerindo implicitamente que o homem a sua frente não passava de uma peça de tabuleiro, que podia ser mexida e colocada onde bem lhe agradasse.

-Não pretendo de lhe ditar o que seria melhor, mas como médico sinto ser meu dever lhe recomendar a se deitar na cama atrás de você - Mais uma vez, tomava cuidado para manter a fala em aberto e não como uma ordem - E vai ser bem mais rápido e fácil tratar de seu braço se se sentar na cama, entende?

Bucky assentiu com a cabeça e lentamente se levantou, suprimindo a careta que queria fazer pela dor aguda que sentia no braço. Não se lembrava da quantidade de vezes em que mestres bancaram médicos para tratar da saúde de escravos, isso era feito com uma pequena quantidade de servos, normalmente apenas para os que se deitavam a cama de seus mestres, e mesmo assim, quantas vezes  James não havia presenciado a desesperadora cena de mulheres - Se é que podiam ser consideradas já mulheres formadas e não moças - depois de serem arrastadas pra algum cômodo, tendo de dar a luz sozinhas aos seus filhos? O único apoio que encontravam era de algumas pobres almas que a encorajavam durante o processo, antes de seus filhos e filhas serem tomados ou viverem alguns anos antes de terem o mesmo fim fatídicos que suas progenitoras. James podia ao menos se sentir menos transtornado por saber que não geraria nenhuma criança como aquelas mulheres.

- E o jovem amo? - Se viu perguntando antes que pudesse calar sua boca, porém, quis acreditar que aquela pergunta não seria causa de irritação do outro homem, mesmo que falando antes de ser ordenado ou instruído a tal.

Vende-se LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora