Vende-se Liberdade

Três

Crianças amam simplesmente por amar, e ponto. É triste saber que os adultos não amam de forma pura ou quando não há algo para receber em troca.

Fernando Guifer

Bucky não se deitou na cama para dormir, era uma sensação estranha e mais luxo do que realmente precisava, o chão lhe serviu para dormir. Durante a noite acordou várias vezes, não por causa de pesadelos, desses já estava se acostumando pouco a pouco a ter e não lhe incomodava tanto quanto antes, mas sim pelo fato de estar sem a corrente em seu pescoço. Tateava o local em que antes ficava o objeto, que sensação mais incômoda e prazerosa, sua mente corria a mil, corria da maneira como suas pernas queriam fazer. Tony Stark era um homem estranho, não parecia burro, então certamente tramava algo.

Foi acordado de seus pensamentos com a batida na porta que ouviu. Não sabia o que fazer, as pessoas simplesmente não dão um aviso prévio a um escravo de quando elas requerem o mesmo. Falava algo ou continuava encarando a mesma? Sabia que a pessoa não iria embora e havia aprendido em um curto período de tempo melhor do que não responder alguma ordem, mesmo uma implícita, como abrir uma porta depois de uma batida. Abriu a mesma e logo se ajoelhou, abaixando a cabeça respeitosamente para quem quer que fosse atrás dessa porta. Já era terrível o suficiente que tivessem ido o acordar, um escravo tinha de acordar antes dos outros da casa, disso já se sabia.

-Então você é o senhor James- Ouviu uma voz diferente de todas as outras, levantou apenas os olhos para enxergar quem era- Que estranha coincidência seria eu também ser chamado de James, hm?- O homem deu um sorriso e Bucky estava apenas em silêncio, com seus olhos abaixados. Em sua mente pensava que não era uma coincidência tão grande, não é como se James não fosse um nome comum- É um prazer te conhecer.

Bucky apenas assentiu com a cabeça para mostrar que ouvia, mas não tinha o menor interesse em participar em conversas frívolas. O homem usava um smoking, então provavelmente era o mordomo da casa, muitas vezes eram esses homens que assumiam o papel de porta voz da casa, um alto cargo de um escravo, e esse tal de James podia facilmente mandar e desmandar, até mesmo trazer os relatórios do que tinha acontecido no dia para o mestre Stark. Então não seria sábio ser qualquer coisa menos do que respeitoso com o homem que poderia lhe mandar para o poste receber chibatadas.

-O café da manhã está sendo servido, e seria de enorme prazer a Tony que se juntasse a eles- Ele sorriu novamente, enquanto o escravo no chão estava perplexo. O mestre Stark queria a sua presença no café da manhã? A mente rápida e que agia constantemente para se defender logo fluiu com possibilidades do que teria de performar, se fosse sortudo, seria pedido que servisse a comida dos habitantes da casa. Algumas vezes seus mestres lhe chamavam para entretenimento, para ter alguém para dançar pra eles, ou alguém para rir, algumas vezes só para mostrar a fartura de alimentos que havia na mesa, que fazia o estômago do homem se corroer, e que mesmo assim, ele não teria nenhum pedaço sequer daquele alimento. Era mais provável os homens darem os restos de comida aos animais da casa do que para si.

Pensou na maneira sádica que já tinha visto mestres fazer seus escravos comerem de suas mãos, como um animal, e depois de entregar a comida, dar pequenos tapinhas na cabeça, dizendo “você fez bem”. Era uma cena revoltante, mas não havia nada que pudesse ser feito.

Tinha terminado de jogar a água no rosto, decidiu se considerar afortunado por ter tais regalias, como limpar a face, e estava acompanhando o homem aonde deveria ir. Mantinha os olhos no chão e quanto mais andava, mais escutava conversas e a vida acontecendo. Ouvia também algumas risadas, mas não exageradas e maldosas como costumeiramente escutava, não. Algo pacífico e que se já não fosse tão amargo pela vida, sorriria ao som das risadas.

-Tony- Se espantou com o mordomo chamando o homem pelo primeiro nome- Senhor James se apresenta ao café da manhã.

-Obrigado, Rhodey. Bom dia, Bucky- Mesmo com a cabeça abaixada, Bucky podia sentir na voz do Stark o sorriso em seu rosto. O estômago de Bucky chegava a revirar com os diferentes cheiros que vinha do banquete a mesa, aqueles aromas inebriantes- Vê algo na mesa que lhe agrada?