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Pisquei três vezes pra ter a certeza de que tinha sido só um sonho, já é o quarto nessa semana, a mesma filha da puta, antes eu sonhava que matava ela, agora eu sonho várias paradas que fazem minha cabeça latejar.

- Tu tava dormindo quando cheguei, tá bem ai? - ouvi a voz do Tunin e olhei pra porta da salinha onde ele estava - Tu começou a bufar igual boi do nada.

- Tô dormindo direito não. - falei levantando e peguei minha blusa jogando no ombro - O cara lá foi embora?

- Foi nada, tá lá ainda. - falou e neguei ajeitando o boné na cabeça - Tu falou que era filho dele e foi embora mesmo?

- Eu falei que meu pai tava morto pra todo mundo. - falei e ele revirou os olhos - Tu não já entrou em contato com a mulher dele?

- O filho dele deve estar chegando aí pra ver ele. - falou e parei na praça vendo uns meninos jogando bola - Preparado pra conhecer teu irmão?

- Me faz perder a paciência que eu não tô tendo hoje não. - pedi olhando pra ele que riu - Tô falando sério.

- Não brinco mais. - falou sentando do meu lado - Eu aposto no de preto.

- De vermelho. - falei vendo o moleque correndo atrás da bola, driblou o menorzinho de preto, pegou a bola e conseguiu fazer o gol - Quero cem.

- Tu é vidente, não vale. - falou me fazendo rir.

Marquei presença no baile só pra resenhar com os caras e meti o pé pra casa, fiz a minha garrafa de café, peguei o energético e fui bebendo. Tenho feito de tudo pra não dormir, é eu fechar o olho que o rosto da maldita vem.

- Gabriel nos convidou pra uma festa na casa dele sábado. - ouvi minha mãe falando - Falei que íamos.

- Você nem gosta da mulher dele. - ouvi meu padrasto falar e me ajeitei no sofá trocando de canal - Se for pra ficar de cara fechada é melhor ficarmos em casa.

- Não vou ficar de cara fechada. - falou e parei num jogo de basquete - Ele falou que é pra você ir Rodrigo!

- Uhum. - falei prestando atenção no jogo e senti uma porrada na cabeça, olhei pro chão vendo o chinelo dela - Que porra foi essa, como tu conseguiu?

- Você ouviu o que eu falei? - perguntou da porta da cozinha e concordei - Acho bom.

- Anda muito agressiva, tenho dó do Roberto. - falei e ouvi a risada logo em seguida.

Olhei pro cara sentado na praça com um casal perto, estavam só conversando, Marco chegou do meu lado me passando um fino e tirei minha atenção deles pro carro que subia mais devagar que tartaruga, Marco foi lá falar e olhei pra eles de novo, que dessa vez me olhavam.

- É ele pai? - a menina perguntou e vi o cara balançar a cabeça.

- Vai lá falar com os teus irmãos. - Tunin chegou do meu lado e eu já virei o soco na costela dele - Caralho, que mão pesada da porra.

- Tô avisando e não é de hoje pra parar com essa porra! - apontei fazendo ele rir.

Me zoou mais um pouco e neguei vendo os três vindo na minha direção, Tunin já ia saindo mas só encarei ele que sentou de novo, olhei sério pro cara que estava com o casal do lado e olhei pra cada um antes de voltar a olhar pra ele.

- Tá querendo o que? - perguntei logo e ele me olhava meio surpreso, os outros era com curiosidade - Tu não já foi liberado, então mete o pé!

- Eu queria saber da sua mãe. - falou e olhei pro Tunin que olhava pra eles - Ela está bem, como está o seu avô?

- Meu coroa tá morto. - falei fazendo ele me olhar mais surpreso ainda - Minha coroa tá bem.

- Eu sou a Lorena. - a menina falou esticando a mão, fiquei só olhando e apontou pro cara - Esse é o meu irmão Hiago.

- Rodrigo, sua mãe quer saber se você ainda vai amanhã. - ouvi a voz do Roberto e nunca senti um alívio tão grande por ver ele - Tá tudo bem, filho?

- Tudo tranquilo tio. - Tunin falou por mim e o Roberto encarou o Gilberto serinho - Esse aí é o cara que eu te falei.

- Sou o Roberto. - esticou a mão pra ele que apertou - Pai do Rodrigo.

- Esse aí é o meu outro coroa. - falei levantando - Tunin vai acompanhar vocês até lá embaixo.

- Olha, eu não tenho culpa se ele errou com você. - a menina falou e encarei ela - Eu não sabia sobre você, fiquei sabendo hoje e quero muito poder conhecer melhor o meu irmão.

- Teu pai sabia onde me encontrar, se tu nunca soube de mim a culpa é toda dele. - falei apontando pro cara que respirou fundo - Quem fugiu das responsabilidades foi ele, eu nem nascido era menor.

- Quantos anos você tem? - ela perguntou e cruzei os braços - Eu tenho dezoito, Hiago, você vai fazer vinte e cinco ou vinte e seis?

- Eita porra. - Tunin olhou pra mim e depois pro cara esperando a resposta.

- Vinte e cinco. - respondeu.

- Tunin acompanha eles. - falei saindo dali junto com o Roberto que me olhou de lado - Valeu aí.

- Tu é meu. - passou o braço pelo meu pescoço me puxando pra ele me fazendo rir - Era eu que estava em todas as suas fase pra ele voltar agora como se nada tivesse acontecido.

- Cuidando da cria, tá certo. - falei me soltando dele - Conta nada pra ela não, por favor.

Me olhei no espelho colocando a minha correntinha, meu coroa que me deu pouco antes de morrer, coloquei pra dentro da camisa e ajeitei o cabelo, o Seu Gabriel é amigo do Roberto que acabou virando amigo da família toda.

Deu o maior apoio quando meu vô morreu, correu atrás das coisas junto com o Roberto porque minha mãe não conseguia fazer nada, busquei os dois em casa e reconheci o mesmo carro que estava andando devagar na garagem.

- Que carro é esse? - perguntei pra minha mãe que me olhou rindo.

- Da filha do Gabriel, falei que poderia deixar aqui. - falou e neguei - Sabe que não confio nos caras daqui, esse carro é a cara do assalto.

- No dia que eu pegar alguém roubando aqui dentro não vai sobrar nem um dente pra fazer reconhecimento. - falei e levei um tapa na cabeça - Ué, é a lei mãe.

- Já falei pra não vir com esses assuntos perto de mim. - falou apontando pra mim e olhei pro Roberto que riu.

Minha CalmaOnde histórias criam vida. Descubra agora