Pela minha coroa eu já pensei várias vezes em sair dessa vida, mas não é algo fácil e ela tem noção disso. Não vou conseguir minha liberdade tão fácil como nego acha que é, são várias paradas que tu precisa fazer, as consequências são fodas.
- Você largaria tudo isso pra ficar comigo? - perguntou e olhei pra ela encostada na cabeceira da cama - Você pelo menos tentaria?
- Porque disso agora? - perguntei voltando a olhar pra janela.
- Rodrigo, olha a vida que eu levo. - falou apontando pro nada - Agora olha a vida que você leva, como vamos continuar assim?
- Ninguém sabe o que temos, vai continuar assim por um tempo. - falei e ouvi ela bufar - Tudo vai se acertar cara, só ter calma.
- Eu te... - acordei no susto ouvindo os tiros.
Levantei rápido balançando a cabeça e coloquei meu colete, peguei tudo o que eu ia precisar e já saí de casa cortando pelos becos até chegar na boca principal vendo o Marco ali pilhado com o radinho na mão.
- Que porra é essa? - perguntei e ele me olhou aliviado.
- Falaram que viram um carro estranho rodando a entrada, depois jogaram um corpo lá. - falou rápido apontando pra baixo - Depois apareceu um monte de cara já atirando contra os menor.
- Estão por onde? - perguntei no rádio.
- Pararam na contenção chefe. - um garoto respondeu e olhei pro Marco.
- Pega cinco e vai lá pra rua da minha mãe, não deixa ninguém nem chegar perto! - apontei pra ele que chamou os caras e saíram correndo, apontei prós que estavam ali me olhando na espera e apontei pra frente - Limpeza total!
Fui com dois na minha proteção, fui pulando de laje em laje até chegar onde era a contenção, reconheci o Tunin de longe, ele era nosso homem bomba, jogou a primeira e pulei o muro do morador colocando a ponta da fuzil no buraco que tinha ali.
- Aquele ali nunca mais anda. - um dos menor que estava comigo falou.
Fui mirando e atirando, mirando e atirando, pulei o muro de novo e parei do lado do Tunin que jogou outra bomba, eu só conseguia ouvir os gritos, Tunin gritou algo e quando foi jogar outra eu levantei largando o dedo fazendo alguns virarem peneira.
- Tão fugindo patrão. - peguei o rádio - Tão fugindo.
- Deixa irem. - falei - Quero que peguem quem ficou, deixa um só vivo.
- Que porra tá acontecendo, caralho? - Tunin perguntou e recarreguei minha arma atirando nos que ainda estavam ali.
Quando as coisas foram acalmando eu fui conferir o estrago. Dos nossos só três estavam machucados, o resto era tudo os comédias, o rádio não parava um segundo, todo mundo me deixando atualizado de como estava cada área.
Fui na salinha resolver umas coisas e o Marco entrou olhando direto pra mim, cruzou os braços e depois colocou a mão na boca, Tunin apareceu logo depois e ficou só me olhando do mesmo jeito.
- Agora deu. - falei cruzando os braço - O que foi?
- O cara tá vivo. - Marco falou e continuei olhando pra ele - Isso aqui tava com ele.
- O que tem? - perguntei pegando o papel da mão dele - Que porra é essa?
- É o teu pai irmão. - Tunin falou e encarei ele.
Olhei pra foto de novo e neguei, era uma foto da minha mãe sentada no colo de um cara quando estava grávida, esse cara estava beijando a barriga dela, respirei fundo e neguei de novo.
- Mandei levarem o cara pro posto. - Marco falou e olhei pra ele - Tá castigado, pegaram ele pra valer.
- É com vocês mesmo. - dei de ombros colocando a foto no bolso - Já resolvi tudo.
- Não jogariam ele aqui por nada. - Tunin falou e bateu na cabeça com o dedo - Pensa nisso, irmão.
Entrei vendo o Roberto vendo o jornal e acenei, apontou pra cozinha e fui lá atrás da minha coroa. Pra não dizer que eu nunca vi a cara do meu pai, eu vi uma vez só, mas eu tinha uns seis anos, nem lembro da fuça do homem.
- Oi meu filho. - me abraçou forte assim que me viu - Meu peito está apertado desde cedo, Rodrigo.
- Eu tô bem mãe. - retribuí o abraço e tirei a foto do bolso - Preciso te mostrar uma coisa.
- O que? - perguntou e dei a foto pra ela vendo sua cara de surpresa - Onde conseguiu essa foto?
- Esse cara aí é o meu pai? - perguntei e ela concordou - Se a senhora ver ele hoje, consegue reconhecer?
- O que está acontecendo, Rodrigo? - perguntou e puxei a cadeira me sentando.
- Antes dos tiros começar, jogaram um homem lá na entrada. - falei e ela sentou também colocando a mão na boca - Essa foto estava com ele, tu consegue reconhecer?
- Reconheço até se ouvir a voz. - falou e me levantei concordando.
- Então bora lá acabar com isso. - falei pegando a foto de novo - Ele tá no posto.
Uma semana passou e nada, minha mãe não teve coragem de ir e eu não queria, os caras que me atualizam sobre a melhora dele, hoje eu vou acabar com isso de vez, minha coroa falou que reconhece pela voz, então vai ser assim.
- Qual foi? - perguntei depois de fechar a porta e o cara me olhou escaldado - Tu fez o que pra te jogarem aqui?
- Fiz nada não, me pegaram saindo do trabalho. - falou e cruzei os braços encarando ele sério - Minha família deve tá preocupada.
- É da onde? - perguntei.
- Da baixada. - respondeu e concordei.
- Os caras não iam te jogar aqui atoa. - falei e ele respirou fundo.
- Só lembro de estar no ponto do ônibus depois do trabalho e depois de ouvir alguém falar sobre um Rd. - falou e ajeitei minha postura fazendo ele me olhar desconfiado - Você é o Rd, não é?
- Satisfação. - falei e ouvi batidas na porta, sai vendo minha coroa mais branca que o normal - Tá tudo bem?
- O que esse homem está fazendo aqui? - perguntou baixo e olhei pra ele já que a porta estava aberta.
- É ele mesmo? - perguntei vendo ela concordar - Vai pra casa mãe, eu resolvo isso.
- Meu filho, tenha cuidado. - falou segurando o meu rosto e beijei a testa dela.
- O meu Pai não dorme. - falei vendo ela saindo dali.
- Quem era? - o cara perguntou e puxei um banco sentado perto da porta.
- Tu é o Gilberto Silveira? - perguntei e ele me encarou sério - Perdeu a língua caralho, quero ouvir tu falando!
- O que você quer comigo? - perguntou e fiquei olhando sério pra ele.
- Nada, de tu eu não quero nada! - falei vendo ele se ajeitar na cama - Tô tentando entender o motivo de terem te jogado aqui, já que pra todo mundo meu pai tava morto.
•
O que acham do pai dele reaparecer depois de tanto tempo???
VOCÊ ESTÁ LENDO
Minha Calma
Roman pour AdolescentsTô pra te contar que a felicidade depende da gente A verdade é que com a gente, eu me sinto muito mais feliz Tentei ser feliz sozinho, hoje eu me sinto tão diferente A verdade é que hoje eu tenho tudo aquilo que um dia eu quis Livro 1: Minha Calma ...