𝟐: Padaria "Pai & Filho".

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Amigo?... Era o que pensava, e até sonhava, enquanto estava deitado no sofá ainda. Tinha já pegado no sono, e só acordaria com a gritaria do povo, em comemoração à volta da energia. Ele se senta, esfrega seus olhos, e percebe que está sozinho em casa, provavelmente sua mãe estava na rua aquelas horas, cuidando da vida dos outros. Ela já estava se adaptando ao novo ambiente. Mas Jotaro não.

Só de pensar que teria que ver todos do ensino fundamental e médio de novo, para ficarem falando sobre os 500 filhos que tiveram, embrulhava o seu estômago. Ter filhos era um tema que Jotaro não gostava de pensar. E um tema muito pior era trabalhar. Ele tinha passado a adolescência inteira sem encostar nem pensar em jovem aprendiz, somente pensava em animes, lol, e claro, punheta.

Ao falar em trabalho... sua mãe chegava toda feliz em casa, por algum motivo, dizendo:

- "Arranjei um trabalho para você e para mim enquanto estava fora! Precisamos de dinheiro para manter essa casa, não?"

Droga Holly. Isso era tudo que o Jotaro não queria. De um emprego a esse patamar. Ele até pensa em xingar a própria MÃE, mas lembra que se fizer isso, é melhor fazer suas malinhas, pois estaria morando com ela de favor, depois de trancar a faculdade de biologia marinha.

Por algum motivo não lhe satisfazia mais. Faculdade, amigos da faculdade, professores, Villa Mix... ele estaria cansado disso. Decidiu parar tudo, e sair de onde estava morando, nos alojamentos do ensino superior, e decidiu voltar para a casa de sua mãe.

Anos depois, voltava pro lugar de onde tinha saído que nem uma fênix. Lugar no qual agora estaria trabalhando numa padaria, aquela mesma padaria que tem em todo bairro, Pai & Filho. Padaria do seu Zé, que não tinha pai, e nem filho.

🐬 + 🍒 = ♡

Se passaram alguns dias, eles teriam chegado lá segunda-feira. Por incrível que pareça, os dois haviam se adaptado. Fizeram novos amigos, reencontram outros... e Jotaro ainda via Kakyoin, com suas roupas estilosas. Parecia que ele sempre fazia questão de ir lá, antes de fechar, seja para conversar com as outras pessoas, ou até comprar pão.

- "Bom dia, o que deseja?"

- "Dois reais de pão de sal. Nem muito moreno, nem muito claro."

Jotaro suspirava. Não tinha mais nada do que ele odiava agora do que essa exigência, sendo que os pães teriam o mesmo gosto. Ele só pegava a sacola e começava a fazer o seu trabalho de sempre, que era interrompido por um velho amigo.

- "Ou, Jotaro! Ainda trabalhando aí?! Pensava que ia sair mais cedo hoje." - Chegava ele, Jean, Jean Pierre Polnareff, mais conhecido como "Jean do espetinho" por aquelas bandas. Sim, esse lugar tem algumas afeições por apelidos estranhos. Jotaro estava com medo desse fenômeno o pegar. Nem conseguia pensar em um apelido bizarro.

- "Ah, bom dia Dono do Morro! O que faz aqui essas horas?"

- "Bom, acho que vim comprar pão, não?"

- "Ah sim..." - Polnareff ria com um certo nervosismo, e voltava a olhar ao Jotaro - "Bom, vai ao baile hoje?"

- "Baile? Eu nem sei aonde vai ser."

- "Eu sei onde é, se esse é o problema." - Noriaki interrompia a conversa, tentando socializar. Jotaro finalmente entregava a sacola com os pães a ele, e lhe respondia:

- "E como vou falar com você? Você me parece bem ocupado por aqui não? E ele pode me levar."

- "Ah, não posso." - Polnareff dizia, como se estivesse montando algum plano mentalmente. Kakyoin continuava a conversa - "Posso abrir exceções a pessoas novas por aqui. Eu não sou tão mal como todos pensam, e nem mordo."

Jotaro se perguntava se aquilo era uma aproximação amigável, plano de vingança, ou um flerte. Ele dizia sem pensar muito:

- "Passa seu número, para conversarmos melhor depois".

E Kakyoin concordava, e anotava o número dele em um saquinho de papel. Jotaro o guardava no bolso, e dizia: "Obrigado". Ele apenas saia com a sua sacola de pão, meio que desfilando aos dois, como se tivesse ganhado algo. Era estranho, mas Jotaro não conseguia tirar os olhos dele. Talvez fosse por nostalgia, ou outra coisa que não sabia descrever. Ele não era bom com palavras e sentimentos, nunca foi na verdade.

- "Incrível... já conseguiu o número dele no primeiro dia! Eu não consegui pegar nem em um ano."

- "Grande merda. Só quero ver como vai ser esse baile. Se for uma bosta volto pra casa, finjo que nem fui."

- "Pois aproveite. Eu vou estar descansando nessas horas, quem sabe outro dia não? Tchau Jotaro, só queria te ver mesmo!" - E ele saia avoado. Kujo tentava entender o que estava acontecendo, enquanto limpava o balcão da padaria.

Seu Zé descia as escadas, apressado, parecia que sabia quando Jotaro ia embora, e pedia para ficar mais, para ver se o movimento aumentava.

- "Já vai a essas horas?"

- "Sim. Oito e pouca da noite. Já passei até demais do meu horário. Preciso ir. Tenho compromisso."

- "Hm... certo certo. Mas... saiba que amanhã o quero aqui cedinho. Para assar os pães. Pode ir."

Jotaro revirava os olhos, tacava o avental no balcão e saía de lá. Odiava receber ordens do que já ia fazer na manhã seguinte. Mas estava com mais receio do que podia acontecer nesse baile. Droga. Estava com nenhuma vontade de ir. Mas só iria para ver o fluxo, não para ver o Dono do Morro, o qual qualquer compromisso feito, e descumprido, iria procurar a pessoa nos lugares mais fundos do inferno. Era essa pessoa que ele tinha se envolvido naquele dia.

Dono do Morro ★ JotaKak 「Crackfic」Onde histórias criam vida. Descubra agora