O fruto proibido

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“Só ligue se tiver vontade,
só venha se quiser me ver.
Mentir é pura vaidade,
de quem precisa se esconder.”
Nando Reis.

Los Angeles — Bel Air.
3:10AM.

    – E qual é a história? — Perguntou Nama ao cruzar os braços, aproximando-se da mais velha.

    – Um homem era obcecado por sua arte, sua bela esposa a detestava por ser ela a causa de tanto tempo longe do amado. Mas por ama-ló tanto, decidiu aceitar a proposta de pousar para o marido. Ele passou horas pintando seu rosto, dias, semanas, se duvidar, anos ele passou pintando sua face, desejando que a beleza peculiar de sua mulher fosse transmitida com êxito. “Passados alguns meses, quando quase nada mais restava a ser feito a não ser uma pincelada sobre a boca e um retoque de cor sobre os olhos...” — Gakya se aproximou mais de sua irmã, levando a mão até seu ombro enquanto olhava para o quadro acima. Ela pegou o castiçal e o levantou, iluminando mais ainda a pintura, – “espírito da jovem reacendeu-se ainda uma vez, tal qual chama de uma vela a crepitar por um instante. E então executou-se o retoque necessário e deu-se a pincelada final e, por um momento, o pintor caiu em transe, extasiado com a obra que criará. Porém, no momento seguinte, ainda a contemplar o retrato, estremeceu, ficou lívido e, tomado de espanto, exclamou com um grito: 'Mas isto é a própria vida!' E quando virou-se para olhar a própria amada... estava morta!” – Gakya fingiu uma cara de espanto para a outra, logo iniciando uma risada e deixando o castiçal no local de antes, ela voltou a caminhar até o quarto ao lado. – As vezes os humanos até são admiráveis, devo admitir isso.

    Nama andou até o quarto observando-a se aproximar de uma banheira que estava no centro do local, molhando os dedos na água rasa, Gakya se acaixou encostando o queixo na borda da banheira, sem se importar com a sujeira ao redor dela, deixando a sua pele junto a porcelana áspera e suja, com algo que parecia ser areia molhada.

    – Eu não consigo entender o porquê esses seres com tantas imperfeições, ganharam algo como isso. — Gakya passou o dedo na areia que estava grudada na banheira, espalhando-a mais, – Eles não sabem aproveitar nada do que lhes foi dado, e eles, — ela olha para o alto, referindo-se ao céu, – insistem em mantê-los aqui, como se fossem dignos de vida. — ela leva novamente os dedos para a água, retirando a areia. – O que a mulher mais queria era alguém para amar, e quando o encontrou, encontrou alguém que não a amava na mesma intensidade, mas que amava mais o que fazia do que a pessoa que faria tudo por ele. — ela virou o seu rosto para ver o rosto de Nama, que observava-a falar com seriedade. – Eles ganham o que querem e junto o que não querem. É como se soubessem que estão aqui para sofrer, e continuam crendo que serão salvos por quem dita as regras. Que conseguirão amar sem obstáculos, que serão amados sem obstáculos.

    – O que quer dizer com isso? — Perguntou Nama de braços cruzados, encostada na parede.

    – Não consegue ver como são ingênuos? É tão fácil manipula-lós e mata-lós, assim como é facil existir. — Gakya se levantou virando-se para ela, – Traga o saco aqui. — ela pediu, fazendo com que Nama puxa-se o plástico até ela, soltando-o ali. – Eles ficam vivos por tão pouco tempo, — ela se abaixa novamente pegando na borda do saco, – não tem diversão nenhuma em extermina-lós assim. É só sussurrar no ouvido da pessoa certa na hora certa, — ela ergue o olhar para Nama, – que eles explodem e somem! — Ela abri o saco abaixando o olhar para vê o cadáver desfigurado, fazendo com que algumas moscas saíssem de dentro, deixando o cheiro podre no ar. – O que é isso?

    – O corpo que você pediu. — respondeu Nama.

    Gakya pegou um membro de dentro do saco, o que parecia ser um antebraço.

Em Teus Sonhos [EM RETA FINAL]Onde histórias criam vida. Descubra agora