Enredo ou desejo?

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“Predestinação ou livre vontade,
eis duas correntes que se debatem,
arduamente, em busca da verdade.”
Domingas Stella B. dos Santos Lellis.

Parados no tempo.

    O rosto de Lucca estava paralisado. Ele não tinha noção alguma do que estava acontecendo nesse momento, na sala de sua casa. O seu rosto estava virado para o lado, com a expressão espantada por Gakya ter se aproximado no momento em que tudo congelou.

    Aquilo era inesperado para ela. Tudo já havia sido planejado em sua cabeça. Mas agora, com a ilustre presença de um anjo, tudo iria por água abaixo.

    A porta estava sendo escancarada aos poucos enquanto rangia, fazendo Gakya se virar para olha-lá. E quando abriu-se por completo, tudo estava silenciado, nenhum som, nem carros ou vizinhos. Apenas um completo silêncio torturante enquanto Gakya observava com desdém, temendo que fosse levada de volta para o inferno mas escondendo isso com maestria. Ela não poderia voltar de jeito nenhum, Samael jamais permitiria que voltasse antes de cumprir com as suas ordens.

    – “Qual o nível de importância que o Lucca estaria?” — Ela olha para o rosto dele de relance, logo voltando a olhar para a porta. – “Se for um Serafim, estarei fudida.” — pensou, logo imaginando o pior.

    – Esse muleque maldito. — ela murmurou cerrando o punho.

    Um som, finalmente um som podia ser ouvido. O primeiro passo do anjo havia sido dado, a sola do sapato em que usava deixou isso explícito para Gakya, deixando-a em alerta máximo. O som da madeira oca, por algum motivo fez ela encontrar semelhaça no ecô que os gritos do inferno dão. Com isso, ela sabia que era a forma do anjo de lembrá-la o que ambos são. E que ela, nunca conseguiria o que quer.

    Talvez ela não precisasse se preocupar tanto. Apenas anjos comuns conseguem transmitir mensagens com apenas a sua presença. O que significa que não era um Serafim, e Lucca não era tão importante assim, aparentemente não.

    A mensagem que ele mandava para Gakya, era clara: você nunca será bem vinda aqui. Só poderia ser um anjo próximo aos arcanjos, pois eles são os únicos que andam na terra por motivos pouco importantes. Ela imaginava que Lucca seria um desses casos, de pouca importância.

    Ela deduziu que o anjo estaria em um corpo humano, e, quando ele aprontou o próximo passo permitindo-a enxergar o rosto do homem escolhido, ela teve a certeza que não precisaria se preocupar tanto.

    – Um cupido?! — sorriu de canto. – Isso é alguma piada?

    O anjo permaneceu em silêncio, sério e calmo, como se quisesse encerrar aquilo rapidamente e com tranquilidade. Ele levou as mãos para dentro do cassaco de frio preto, semi-fechou os olhos passando-os por Gakya até chegar em Lucca, ainda parado no mesmo lugar. 

    – O que você acha que está fazendo aqui? — Ele perguntou com tom de voz firme.

    Gakya não disse nada. Poderia ser um dos anjos mais fracos, mas ainda tinha o dom de levá-la de volta ao inferno. Ainda assim ela não poderia deixa-lo perceber o quanto conseguia intimida-lá.

    – Você não tem permissão para andar aqui. — disse o anjo.

    – É que isso de limitar onde os outros podem e não podem ir é meio chato, sabe? Por isso resolvi mudar um pouquinho as regras. — ela debochou.

Em Teus Sonhos [EM RETA FINAL]Onde histórias criam vida. Descubra agora