Cerimônia para a liberdade.

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Já havia acabado com um pequeno e modesto copo de whisky. Sua gravata estava frouxa e o álcool havia deixado suas bochechas levemente vermelhas naquele dia que começava a voltar a esfriar. Sasuke esfregava seus dedos, inerte nas lembranças de suas mãos percorrendo a pele macia. Sakura era um doce, mas... Seus toques ávidos por ele, toques de mulher experiente o enlouqueceram e mesmo agora ele se controlava para não ir até ela e completar o que ele iniciou, aquele beijo avassalador.

Porém, uma coisa o impedia. Sua culpa, era certo que Sakura estava viva por conta dele, mas também estava em perigo maior por conta dele. Seus olhos negros se voltaram as suas mãos, mãos "sujas de sangue que jamais poderia sair delas. Sangue de pessoas que teve de executar. Suspirou. Não sentia-se digno dela, queria protegê-la e iria, mas não a contaminaria com a sua existência repugnante. Sorriu amarelo, sôfrego.

Sakura fazia skin care no tapete do quarto, Sakura dançava com Muffin algumas vezes a noite escutando músicas que ele não apreciava, Sakura colocava muito açúcar no café. Seus empregados a amavam, ela era sempre gentil, sempre procurava algo para ajudá-los e sempre lhe direcionava um sorriso grande com os olhos cheios de carinho. Ele podia ver isso... como ele poderia merecê-la com mãos como aquelas? Suas mãos grandes lhe causavam ojeriza pois seu subconsciente as correlacionava com as mortes realizadas por elas. A criança frágil no subconsciente do homem forte e imponente se culpava por ter que matar. Por nascer amaldiçoado em uma família em que ou você mata ou morre. Antes que pudesse perceber suas próprias emoções, se privou de sentir pena e tristeza de si fumando seu típico cigarro de menta. Concertaria seu erro anterior com Sakura. Suas mãos e seus lábios não eram dignos de se grudarem a ela e isso estava decidido. Ele não era para ela!

No andar de cima em seu quarto, Sakura havia tomado banho, usava uma calça verde e xadrez feita para dormir com uma simples camiseta branca. Ela se sentia um perfeito duende irlandês com a vestimenta mas ainda assim era confortáveis. Dessa vez ela estava passando um esmalte incolor de glitter de estrelinhas pelo simples fato de que a lembrava de como era a vida sem preocupações na infância, de como ela amava ver o brilho das estrelinhas. Usou isso para se distrair do que havia acontecido pois quando se lembrava, seu rosto ficava mais vermelho que tomate e ela sentia que estava prestes a explodir de vergonha. O que Mikoto estaria pensando dela ter sugado a alma de Sasuke com um beijo daqueles? Sakura se derretia só de pensar, fora um dos beijos mais avassaladores de sua vida. Suspirou voltando a pintar a unha do dedo mindinho.

-Sakura... -Ele entrou no quarto depois de uma breve batida que mesmo anunciando sua chegada a fez dar um pulinho de susto. O rosto dela corou violentamente e Sasuke notou se lamentando apesar daquilo sempre o derreter.

-S-Sasuke! -Ela se levantou em um pulo. Ele ficou parado a encarando com uma seriedade desconcertante que ela sentiu em poucos minutos. Os olhos escuros a encaravam, pararam em seus dedinhos gordinhos pintados com estrelinhas. Ele riria... Seu semblante relaxou por alguns segundos ao achar fofas as unhas dela e o seu susto. Ao lado dela tudo era espontâneo, divertido... mas ele logo respirou fundo recompondo-se. A repulsa que sentia de si era constante.

-Eu... -Ele manteve os olhos nela agora. Seu olhar era cortante e Sakura o sentiu dolorosamente.

-Quero me desculpar pelo meu comportamento repulsivo mais cedo. Não acontecerá novamente. Eu lhe asseguro. -Disse ele com firmeza encarando os seus olhos. Sakura sentiu uma confusão mesclada com tristeza a assolar. Pensou em dizer que ela havia gostado do que haviam feito, pensou em pedir que ele não se desculpasse... Pensou em lhe perguntar qual era o seu problema. Mas seu semblante era tão sôfrego que continha até certa repulsa que Sakura não disse o que gostaria.

-Gostaria de poder usar a frase "não sei o que deu em mim" mas com tantas mulheres sofrendo agressões por conta dela, sinto que seria uma vergonha. Apenas... Me perdoe. Serei mais cuidadoso de agora em diante. Com as minhas indelicadezas e impulsividades. -Assegurou ele como um verdadeiro cavalheiro com seus olhos fixos sobre ela.

Fragile [Terminada]Onde histórias criam vida. Descubra agora