Ainda não tinha conseguido tirar o roupão. Seus cabelos estavam molhados, sua pele estava úmida e fria. As pálpebras estavam levemente vermelhas pelas lágrimas que irritavam a pele. Ele não chegou a derramar aquelas lágrimas. Tinha sangue em suas mãos, de pessoas escravizadas pela droga que a sua família vendia, se sentia asfixiado em viver com aquilo. Quando construiu sua fábrica de bebidas e a tocou, a fez com um capital inicial recebido daquela rede.
Faziam anos que Sasuke não colocava as mãos no dinheiro do tráfico porque era um empresário de sucesso agora... Mas ele nunca poderia negar o quanto o dinheiro da Valenza o ajudou e o quanto trabalhou para ela. Mesmo agora ele não poderia sair dela, porque os trabalhos da Valenza também eram de sua família. Mesmo que fizesse toda a caridade do mundo, ele também fazia parte do mal que destruía famílias, alimentando um mercado de narcotráfico que aliciava menores e pessoas periféricas para o crime, aquilo também era resultado de políticos podres que usufruíam do tráfico sem morrer por ele.
Ele sabia da sua responsabilidade, investia em escolas, instituições que tiravam crianças periféricas da ociosidade, investia nesses jovens, financiava bolsas para o ensino superior, distribuía alimento, água potável e itens de higiene pessoal em países em calamidade... Sem que ninguém soubesse. O fazia para aliviar sua culpa, o fazia porque podia, o fazia porque apesar do que tinha que fazer Sasuke possuía amor em seu coração... Mas ainda assim... Era um agente duplo. Era bom e era mau, era luz e era escuridão.
E tinha sua Sakura... Que era das periferias em Konoha, com um pai irresponsável e drogado que a venderia para pagar dívidas se tivesse a chance. O que vocês não sabem caros leitores é que na noite do jantar... Soube por seu pai que Kizashi Haruno, ao consumir drogas da Valenza, ofereceu Sakura como pagamento.
Sim, você não leu errado. Kizashi Haruno ofereceu a Fugaku Uchiha, a sua preciosa filha quando ela tinha 16 anos... Sasuke sempre soube da história, a história de um homem que por seus vícios chegou a oferecer ao seu pai, Fugaku, a própria filha, mas Fugaku a negara. Ficou enojado e pode ver de perto o que os seus produtos faziam com os miseráveis. Somente quando o patriarca Uchiha a viu no primeiro jantar que Sasuke a levou que ele pode perceber que a menina era a jovem em questão e por cartada do destino ela era a mesma jovem que também o salvou no hospital. O destino podia ser bem sádico. Depois por ordens do seu pai, a Valenza parou com as vendas a aquele específico e miserável homem e foi então que ele passou a se abastecer com a gangue rival e assim dever a Tramonto. A Tramonto não estava atrás de Sakura apenas pela dívida do pai e sim porque outrora, ela seria o pagamento, e se estava bem e a salvo agora... Era pelo amor do jovem Sasuke.
Como poderia colocar suas mãos nela? Como poderia colocar as mãos na mulher que amava, se ela era uma das maiores vítimas da sua sujeira?
Mas ao mesmo tempo... Estava tão cansado.
Ainda estava parado encarando o mar e a lua lá fora por trás do vidro, estava estático pensando em tudo com as mãos enfiadas nos bolsos, gotas de água ainda caiam pelo seu rosto advindas dos cabelos molhados. Ela deveria ser proibida, mas a perderia se não houvesse intercedido por ela. Estava muito cansado, tudo o que ela disse era verdade... Não conseguia parar de admira-la, não conseguia ficar longe da pessoa doce, divertida e simples que ela era. Sasuke engoliu em seco encarando a praia com convicção, sua respiração passava a ficar mais calma.
Sakura se vestiu com um roupão branco, tomou seu banho mas não lavou os seus cabelos, havia os lavado pela manhã. Ela saiu do ofurô que era mantido limpo e se vestiu. Ela encarou seu reflexo saudável como nunca, ensaiava em sua mente a forma como abordaria as coisas. Abriu a porta do quarto e esperou que Sasuke estivesse longe, mas ele estava ali, com um roupão branco encarando a janela, luzes amareladas advindas de um pequeno abajur era tudo o que iluminava o quarto. Ela deu dois passos até ele, Sasuke instantaneamente virou-se para ela. Sakura parou de andar naquele instante e o que se seguiu foi um clima tenso por seus olhares, encaravam-se olho no olho. Ela esperou que ele fosse discutir, que ele fosse brigar pela primeira vez mas ele andou calmamente até ela, estavam próximos a uma mesa quadrada de mármore perto da sacada que revelava a paisagem serena. Estavam frente a frente agora. Sakura se manteve firme tentando prever e antecipar as reações dele.
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Fragile [Terminada]
RomanceCondenado. Era este o julgamento que o homem no carro preto possuía sobre si mesmo. O jovem Sasuke advinha de uma família amaldiçoada pelo narcotráfico, a máfia Valenza era exclusiva de toda a família Uchiha. Sasuke entendera que estava condenado a...