Capítulo 7

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Esfrego instantemente a esponja na pele de ambos enquanto uma série de pensamentos sobre a conversa que tive com o inspetor invadem a minha mente.

Não paro de pensar na sua proposta. As coisas não são tão fáceis quanto parecem, como irei arranjar um novo emprego?. E como irei convencer a Úrsula?. Tudo isto não depende de mim desde que concordei com a Úrsula ela decide o que faço ou deixo de fazer.

"Eles irão nos levar para o orfanato?." pedro questiona e rapidamente saio dos meus pensamentos.

"Não, isto não irá acontecer." digo e sorrio para ambos.

"Como convenceu o inspetor?." miguel questiona com curiosidade.

"Não pensem muito nisto." me levanto da borda e caminho em direção ao guarda roupas e pego nas toalhas.

"Dayane?." miguel me chama.

"Hum?." respondo e neste instante encontro as toalhas.

"Como era a nossa mãe?."

Ainda de costas para ambos sinto um aperto em meu peito quando o Pedro me faz está questão. Tinha apenas quinze anos quando os vi sendo assassinados pela Úrsula e os meus irmãos eram menores de idade naquela época. Posso sentir as lágrima clamando por liberdade, mas não pudia dar está permissão as mesmas não na presencia dos mesmos.

"Não estão com fome?." desconversò. Me viro de frente para ambos e sorrio caminhando até eles novamente.

"Por quê nunca fala deles?." desta vez o miguel questiona intrigado.

"Este não é o momento." retiro ambos da banheira e enrolo as respectivas toalhas em seus corpos.

"Mas a mamãe ela..."

"Sem perguntas, está tarde para isto." digo num tom desagradável.

Olho para ambos que simplesmente se encolhe e erguem as cabeças. O que eu menos queria era parecer grossa, mas ambos não me deram outra alternativa.

"Irei terminar de preparar o jantar, venham até a sala assim que terminarem de se vestir." digo sem olha-lòs e caminho a passos largos para fora do banheiro.

Embora tenham se passado anos ainda não consigo esquecer a morte dos meus pais. Houve uma altura em que os odiei. Por quê?. Bem, eu era nova quando tive que pagar pelos seus erros. Comecei a ter responsabilidades antes do tempo, era doloroso olhar para as garotas da minha idade que frequentavam a escola e faziam coisas de adolescentes. Ao contrário de mim que ao invés de frequentar a escola e sair com garotos da minha idade me deitava com homens adultos. Nesta altura os odiava por ambos terem morrido, não é como se a morte fosse uma escolha, mas naquela época eu acreditava que aquilo tinha sido uma escolha, não era como se os meus pais tivessem tido opções, mas diante dos meus olhos era o contrário, eu sempre acreditava que eles deviam ter sido mais responsaveis, talvez se o meu pai tivesse nos tirado da cidade há tempos. Os odiava por isto, por terem me tirado a infância. Aos quinze anos não só me deitava com vários homens como também cuidava de duas crianças de apenas quatro anos.

As lágrimas escorrem no momento em que pico a cebola e de fato não sei se ela é a causa das minhas lágrimas ou se pensar tanto no passado faz com que eu seja incapaz de controlar as lágrimas.

Enxugo as lágrimas quando noto a presença dos meus dois irmãos e agradeço por estar de costas para eles.

"Não é certo que comam a sobremesa antes do jantar mas irei abrir uma exceção, isto porque o jantar ainda não está pronto." digo e caminho até a geladeira. Retiro o pote de sorvete e sirvo os mesmos.

"Acho que devia ser assim todos os dias." Pedro diz entusiasmado e não hesita em dar uma colherada.

"Há mais de onde este veio, se cuidarem um do outro durante a escola irei da-lòs com frequência." digo e volto a atenção a cozinha.

"Se ao menos o Miguel não fosse tão prodígio." Pedro diz e suspira.

"Eu irei conversar com a diretora e o vosso professor para que fiquem atentos, não quero que voltem a sofrer bullying."

"Isto será inútil, pessoas pobres nunca são escutados." pedro diz intrigado.

"Garanto que irão me escutar." digo confiante." Ainda não me explicaram da real causa de terem batido em você Miguel?." questiono e olho para ele que parece quieto.

"Ele estava tentando defende-la." disse Pedro.

"Defender a mim?." questiono confusa e me viro para encarra-lòs.

"Estavam a chamando de prostituta." miguel diz com a voz baixa, me deixando surpresa.

"E o nérde foi bancar de herói, isto não é nenhuma novidade mas ele insistiu em defende-la." Pedro diz e me deixa ainda mais confusa.

"Não fale assim, a Dayane não é nenhuma prostituta." miguel me defende agora com o tom alto e firme.

"De onde tirou isto Pedro?."  pergunto a ele.

"O prédio inteiro sabe disto, por quê acha que querem nos levar para o orfanato?." ele diz diretamente para o Miguel.

"Cala a boca!." miguel grita e se levanta.

Não sei como reagir a isto e não sei o que mais me surpreende, o fato do Pedro saber das coisas ou o fato do Miguel estar alterado neste preciso momento. Eu jamais havia o visto neste estado, ele é o mais quieto e nunca levantou a voz para ninguém.

"Fiquem quietos os dois." repreendo." Eu não sou nenhuma prostituta." nego. Estou mentindo, mas com razões claras, não quero que os meus dois irmãos olhem para mim como a sociedade me encara, mas vale o mundo lá fora me rejeitar ao ter que ser rejeitado pelos meus dois irmãos, isto eu não suportaria.

"Pare de mentir." pedro insiste." Por quê acha que ela nunca está em casa? Você pode até ser inteligente mas não foi o bastante para perceber isto, a Dayane é uma prostituta." adiciona. Ele não tira os olhos de mim, até que eu mesma quebro o contato visual entre nós, não foi preciso dizer muito, seus olhos diziam mil palavras.

Miguel olha para mim e posso ver o seu olhar de nojo. Ele é o mais sensível e incapaz de encarar a realidade, ao contrário do Pedro que normaliza tudo e encara sem dar as costas.

Sem dizer mais nada Miguel da as costas para ambos e corre em direção às escadas, mas antes vejo as lágrimas que escorrem em seus olhos.
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A vigarista e o criminosoOnde histórias criam vida. Descubra agora