Das muitas obras do cordelista Dedé da Pedra, há uma de data desconhecida que chama a atenção desde a sua capa. Intitulado de "Nó Cego e a Caçada do Jaraguá", o folheto narra a peleja do cangaceiro do título e seus companheiros contra uma criatura sem forma descrita nos versos – apesar da xilogravura da capa denunciar a semelhança dela com um dragão, em uma cena de luta contra o que podemos identificar como sendo o cangaceiro Vingança.
Conhecido como uma espécie de planta e o nome de alguns municípios, a palavra Jaraguá tem algumas traduções a depender da fonte. Para uns, ela significa "bicho que pega" em Tupi. Jaraguá é também uma brincadeira, seja no carnaval do Sudeste ou no bumba-meu-boi pelo Nordeste, ele mantém a aparência bizarra de um crânio de cavalo em um poste envolto com um tecido. Talvez essa imagem tenha inspirado o capista de Dedé da Pedra. Ou terá ocorrido o inverso?
Em meus estudos tentando identificar a primeira publicação do cordel, numa tentativa de estabelecer quem inspirou o quê, encontrei uma carta recebida pelo bispo *** da capital das Alagoas. O remetente? O Vigário Joseph Reid, imigrante, asilado nas brenhas do sertão. Traduzo certo trecho da carta que diz:
"E estive hoje (ilegível) com um cego e um homem que se dizia ter sido clérigo na infância para me inquirirem sobre a criatura (ilegível) conselhos para proceder (ilegível até o fim do relato)"
Expomos em capítulos anteriores que Nó Cego, Comadre Fulozinha, Vingança e Muçurana, este um ex-hostiário, uma ordem clerical, perambularam pelas bandas das Alagoas. A próxima menção ao nome do Vigário Joseph Reid nos arquivos da igreja é de seu desaparecimento e provável morte (...).
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