Cap. 4

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Durante o caminho para casa vou refletindo sobre tudo que ouvi, era muita informação pra processar. Feitiçaria, maldições...
Colégio novo? Só de pensar minhas mãos soam, meu corpo começa a ficar agitado, é uma grande mudança na minha vida, depende de uma escolha com responsabilidade, não tenho uma mãe nem um pai sequer pra ajudar nessa decisão. Sou menor de idade e moro sozinha mas pelo menos consegui desviar da enorme burocracia que isso podia gerar, com muita ajuda de dinheiro.
Meu pai achou melhor gastar uma nota para apagar as evidências de que sou menor de idade perante as autoridades do que morar sob o mesmo teto que eu. Disse que não aguentava olhar para a minha cara porque eu simplesmente era a cópia da minha mãe. Tudo que eu sei sobre minha mãe é que ela morreu quando eu era ainda nova, não tenho tantas lembranças dela. No relógio marcavam exatamente 18:40, não faz muito tempo que sai do encontro dos esquisitões, a noite está cada segundo mais fria. Aperto os braços e os esfrego quando de repente ouço passos apressados atrás de mim.
–Oi, até que enfim consegui te acompanhar.
Diz Yuuji já ao meu lado.
–O que quer?
–Bom, achei que seria mais seguro te acompanhar até em casa. Se você não achar um incômodo, claro.
–Já que está aqui, né?
–Dessa vez trouxe um guarda-chuva, só por precaução.
Rimos.
Continuamos andando e durante vamos conversando sobre vários assuntos, até que temos algumas coisas em comum, ele é uma pessoa muito alto astral, gostei dele.
Chegamos à portaria do pequeno apartamento onde eu morava.
–Vamos entrar, fiz torta hoje, tá com sorte.
–Sério? Torta de que?
–Maçã.
–Não brinca, é a minha favorita.
–Então vamos.
Entramos, ele se senta no sofá. Sirvo a torta num prato e o entrego, continuamos conversando e conversando, esquecemos do tempo. Era muito bom conversar com ele, eu ficava o encarando fixamente e ele fazia o mesmo.
–Que horas são?
Ele pergunta.
–Nossa! São onze!
Nos olhamos espantados e em seguida caímos na risada.
–Não acredito que não percebi o tempo passar, vai ser difícil pra voltar pro colégio agora.
Fiquei em silêncio por um instante.
–Pode dormir aqui, amanhã de manhã você pode voltar pro colégio.
–Tem certeza? Sua mãe pode achar ruim ou sei lá.
Olho pra ele com o cenho franzido.
–Eu moro sozinha.
–Ah, desculpa. Peraí, quantos anos você tem?
–Dezesseis.
–Tá de brincadeira.
–Ué, por quê estaria?
Ele fica em silêncio e fita o chão com as mãos juntas.
–Nada, pensei alto.
Diz e depois sorri de canto. Continuo o encarando e me levanto.
–Enfim, você pode dormir aí no sofá. Vou pegar algum cobertor.
Saio da sala e vou até o meu quarto procurar uma coberta. Volto e ele está com a cabeça apoiada na mão, já cochilando, onde foi parar toda aquela energia de mais cedo? Fico o encarando novamente, me perguntando o que são essas marcas abaixo dos seus olhos. Não parecem marcas comuns.
–Ei, toma aqui.
Entrego a coberta, ele agradece e se deita. Vou pro banheiro e tomo um banho rápido, em seguida vou para o quarto, coloco alguma camiseta enorme que tenho guardada e me deito. Percebo que a chuva começa a cair descontroladamente lá fora, as gotas caem contra o vidro da janela, pode-se ver a água escorrendo devido à fraca luz de um poste que tem a pelo menos 10 metros da janela. O único fio de luz que entra no quarto. Logo adormeço.

𝕷 𝖚 𝖝 𝖚 𝖗 𝖞 Onde histórias criam vida. Descubra agora