Capítulo 16

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— Eu não sei o que eu quero

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— Eu não sei o que eu quero. Eu não sei, Henrique. — fui sincera.

— Vou deixar você comer em paz — ele se levantou da minha cama, onde ele estava deitado e encostado no meu travesseiro. 

— Olha.. — engoli em seco e mordi o lábio inferior. — Não se sinta mal.. é que eu realmente não sei e isso é tão confuso que.. 

— Elize. Você não me beijou à toa, não tem porque eu ficar magoado se eu sei que você me quer. — ele se aproximou de mim, seu rosto próximo ao meu, ele se aproximou ainda mais de mim, sussurrando no meu ouvido — Eu quero que me diga. Quero que me diga com seus próprios lábios, quero que sua boca se movimente ao dizer e afirmar que você me quer, tanto quanto um vampiro precisa de sangue para viver.

Pisquei incrédula e ele se afastou com um sorriso ladino no rosto. Ele saiu pela janela e eu fui até a mesma depois de alguns segundos, mas ele já estava no quintal, indo para a frente da casa. Ele acenou com a cabeça e saiu rindo. Voltei para o quarto e terminei de comer meu lanche, enquanto tentava entender o que se passava na cabeça daquele garoto. 

Quando terminei e estava arrumando tudo para dormir, percebi que embaixo do meu travesseiro estava o colar que eu havia perdido no porão. O fitei curiosa, como aquilo tinha vindo parar no meu quarto? Eu tinha total certeza de que havia perdido. As paranoias vieram e fiquei imaginando se era Henrique quem havia achado depois que eu subi e a deixou para eu saber que ele sabe sobre ontem. Era a resposta mais compreensível. Fiquei com medo de perder aquilo e o coloquei ao redor do pescoço, o prendendo atrás, colocando por baixo da blusa. 

Eu podia estar sendo uma idiota fazendo aquilo, mas eu sentia que devia. Era da minha mãe.. eu precisava manter por perto, por pelo menos um tempo. Eu queria acreditar que era dela. Peguei o diário que eu havia escondido e me deitei, começando a ler e observar cada detalhe. Li algumas coisas, sobre como o dia estava sendo bom. Ela nunca dava nome para as pessoas e achava isso interessante, ela parecia ser alegre, desafiante, gentil e ao mesmo tempo forte. Parei em uma das páginas, onde li aquilo me sentindo um pouco diferente.

"Enquanto folheava um livro antigo que me obrigaram a ler, fui transportada para um dia enigmático de minha infância, quando a floresta atrás de nossa casa se transformou em um mundo de maravilhas. Era um dia ensolarado, o céu estava claro e azul, sem um único sinal de chuva naquela semana. Lá estava eu, uma criança cheia de curiosidade, brincando de esconde-esconde entre as árvores altas e os arbustos frondosos.

Minha memória me levou de volta àquele momento, quando um lobo cinza, de pelagem macia e olhos azuis penetrantes, apareceu entre as árvores. Ele correu pela clareira, exibindo uma graça selvagem, antes de finalmente parar e me observar de longe. Seu pelo balançava suavemente com a brisa da floresta, enquanto os raios de sol dançavam em suas costas.

Lembro-me de como meus olhos se encontraram com os dele, e por um instante, senti como se houvesse uma ligação inexplicável entre nós. Minha pulsação acelerou, mas, estranhamente, não senti medo. Era como se uma aura de calma envolvesse o ambiente, dissipando qualquer temor que eu pudesse ter sentido.

Enquanto os minutos passavam, percebi que o lobo não era uma ameaça. Ele não se aproximou, mas continuou a me observar com aqueles olhos azuis brilhantes. Senti-me à vontade para sussurrar meus pensamentos, como se ele pudesse compreender minhas palavras. Falei sobre minhas aventuras imaginárias, minhas alegrias e até mesmo minhas preocupações infantis.

Naquele momento efêmero, eu e o lobo compartilhamos algo especial, uma conexão silenciosa que transcende as barreiras entre as espécies. Quando o sol começou a se pôr, ele se afastou lentamente, desaparecendo nas sombras da floresta." 

Onde eu já havia visto tal coisa? Fechei os olhos e suspirei, estava com sono e cansada, fechei o diário e o escondi na segunda gaveta da mesa de cabeceira. Me joguei para trás na cama e desliguei o abajur que estava acesso.

"Eu me lembro de estar lendo um livro que mostrava o lado ruim dos contos de fadas. E ri de mim mesma, balançando a cabeça em negação diante das tolas elucubrações que preenchiam minha mente. 

— Acho que seus pensamentos são estranhos, mas contém sentimento —  uma voz inesperada e misteriosa ecoou ao meu redor, fazendo meu coração disparar. Meus olhos buscaram a origem daquelas palavras, mas não havia ninguém à vista. Eu estava sozinha na floresta, rodeada por árvores majestosas e folhas secas, testemunhas silenciosas do outono que se instalara.

— Quem está aí? — minha voz vacilou, não recebendo resposta alguma. Uma sensação de inquietação se espalhou por mim, embora eu admitisse para mim mesma que minha curiosidade estava despertada. Ignorando o arrepio que percorreu minha espinha, pus-me de pé e tentei afastar a perturbadora sensação que a voz havia causado.

— Não fuja de mim, estou te elogiando. O que custa ser educada? — A voz soou novamente, carregada de um estranho misto de zombaria e mágoa. De repente, a floresta pareceu menos acolhedora, e cada passo que dava era tomado com desconfiança. Um vento súbito acariciou meu rosto, agitando meus cabelos. 

— Pode me ver? — escutei a voz perguntar.

O que vi a seguir fez meu coração bater descompassadamente. Um lobo negro, mais sombrio do que a noite mais escura, estava diante de mim. Sua pelagem parecia absorver a luz ao redor, e seus olhos, oh, seus olhos! Eram tão profundos e intensos quanto as águas tempestuosas do mar. Sua voz ecoava na minha mente, penetrando fundo em meus pensamentos. "Tenho esperado por você", afirmou, lançando-me um olhar que, paradoxalmente, transmitia tanto confiança quanto ameaça.

Minha mente girava em confusão, debatendo entre o medo e uma estranha sensação de conexão. A fera se aproximou, e eu senti uma estranha energia, uma aura que emanava dele. 

— Estamos ligados —  pronunciou com uma certeza que fazia meu coração acelerar. Eu não sabia como responder, e antes que pudesse dizer qualquer coisa, a escuridão tomou conta de minha visão e eu desmaiei, entregando-me à incerteza desse encontro inesperado. "

Quando acordei estava em casa e estava amanhecendo. Foi um sonho que eu tive, bem parecido com o que minha mãe tinha escrito sobre sua infância. Quanto tempo tinha desde o sonho? Acho que foi um pouco antes de vir pra cá. Fechei os olhos e tentei dormir. 

Mentira SilenciosaOnde histórias criam vida. Descubra agora