"Eu gosto de você."

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As crianças corriam animadas pelo orfanato. Todas estavam felizes por Norman, que, naquela noite, seria “adotado”. Elas esperavam ansiosamente por Norman, que agora estava arrumando suas coisas no quarto.

Norman encarava uma mala em cima de sua cama, a mala que levaria consigo até o portão para disfarçar que seria enviado para uma nova família. Não havia nada na mala, apenas um copo que, na sua infância, foi usado como telefone na época em que estava doente.

Ele conseguia se lembrar perfeitamente daquele dia. E por mais que soubesse que toda aquela realidade em que vivia não passava de um teatro, gostava daquela época. Sentia falta dela. Sentia falta de quando ele e Emma achavam que aquilo tudo era apenas um lugar que ficariam até serem enviados para novas famílias. Norman pensava que Ray também achava isso, mas acabou descobrindo que não, acabou descobrindo que Ray sabia de tudo desde o início.

Norman respirou fundo, tentando não se aprofundar mais em seus pensamentos. Olhou para o interior da mala mais uma vez e a fechou. Pegou a mala e andou até a saída do quarto, saindo de lá em seguida e começando a andar até a sala principal, onde todas as crianças que viviam no orfanato estariam, apenas lhe esperando.

Ficou andando pelo corredor, não dava passos rápidos e nem lentos. Mesmo demonstrando para seus amigos que estava tudo bem e que tinha lidado muito bem com aquela situação, Norman estava com medo. Estava com medo do que iria acontecer depois. Estava com medo de morrer.

Ele queria viver, fugir com sua família, arranjar um local para morar junto com a sua família, viver junto com a sua família. Queria ficar ao lado de Ray e Emma.

Mas, na sua mente, se ele fugisse, poderia estragar todo o plano que tinha feito. Poderia jogar no lixo todo o esforço que ele, Ray, Emma, Don e Gilda teriam feito para fugir. Na sua mente, se ele fugisse, o plano seria um completo fracasso, resultando na remessa de seus amigos.

Então, como não queria prejudicar sua família, apenas aceitou que iria morrer. Aceitou pelo bem deles que iria morrer. Aceitou que aquele era seu destino, mesmo não querendo isso.

Quando chegou nas escadas, respirou fundo. E após colocar o pé no degrau, sentiu alguém pegar no seu ombro. Olhou para o lado e viu Ray com a mão no seu ombro. Norman conseguiu perceber que ele estava sério, mesmo que aquilo não fosse tanta novidade.

— Podemos conversar? — Ray perguntou, olhando para Norman com uma expressão neutra.

— Não vai para a sala principal ficar com os outros? — Norman perguntou, ignorando a pergunta de Ray. — Mama avisou que eu seria enviado agora para todos da casa.

— Podemos conversar? — Ray repetiu a mesma pergunta, ignorando a pergunta de Norman.

Norman olhou para Ray por alguns segundos, percebendo a insistência dele em o chamar para conversar. Então, apenas balançou a cabeça positivamente, indicando que poderia conversar com Ray.

— Vamos para a enfermaria? Não acho que seja bom conversar sobre isso aqui. — Ray falou e olhou para a escada, se referindo à possibilidade de alguma criança procurar por Norman e interromper a conversa.

— Vamos.

Ray tirou a mão do ombro de Norman, virando de costas para ele e começando a andar até a enfermaria. Norman o seguiu, pensando sobre o que Ray queria conversar.

Quando chegaram na enfermaria, Norman entrou e viu Ray entrar depois dele, fechando a porta e começando a olhar para ele.

— Você... — Ray respirou fundo. — Você realmente aceitou que vai morrer?

Norman olhou para Ray normalmente, mesmo estando um pouco surpreso por dentro. Ele não sabia exatamente o motivo de estar surpreso, afinal, já esperava que Ray iria tentar o fazer mudar de escolha novamente.

One - Shots (NorRay)Onde histórias criam vida. Descubra agora