Um dia me disseram que todo mundo sabe qual o momento exato em que sua vida muda completamente.
Eu acreditei, durante um tempo, pois achei que teria uma vida diferente, que seria alguém. Aos meus treze anos, quando percebi que estava sozinha, deixei de acreditar.
Foi um erro. Porque talvez, se eu tivesse dado ouvidos à minha intuição, tudo teria sido diferente.
No momento em que o vi, soube que nunca seria a mesma.
O sino do café foi o que me fez olhar para ele, mas não foi isso que prendeu minha atenção. Ele o fez.
Era alto, muito alto. Tinha os ombros largos e andava devagar, olhando tudo ao redor. Seu rosto estava sério, focado e todo o seu corpo parecia em alerta, tudo intimidava.
O homem usava roupas simples, escuras e certamente não era da cidade. Não só porque isso aqui era minúsculo e todos se conheciam, mas também porque não havia como um homem daquele morar numa cidadezinha dessa.
O que ele fazia aqui, entretanto, era um mistério. E, definitivamente, não era da minha conta.
O observei caminhar e se sentar na última mesa da lanchonete, segurando o cardápio e parecendo ler as opções. Peguei meu bloco, prestes a atendê-lo, quando Graceline, minha colega de trabalho tomou a atitude.
Tentei tirar minha atenção dele, focar em qualquer outra coisa, mas a lanchonete só tinha mais dois clientes, que já haviam sido atendidos. O movimento não era dos melhores nos dia de semana, principalmente quando já era de noite.
Graceline voltou, destacando a folha com o pedido e pendurando para o cozinheiro fazer.
— Tipo três. — murmurou, se escostando no balcão ao meu lado.
O observei. O cliente tipo três — havíamos feito cinco categorias — era um dos menos piores e quase nunca gostava de ser incomodado, por isso, Grace apenas entrou em contato com ele para entregar seu pedido.
Me levantei quando uma das pessoas das mesas se levantou, saindo da loja. Peguei as notas em cima da mesa, caminhando até o caixa e guardando. Olhei para o lado, vendo que o homem na última mesa olhava para frente, bebendo algo na xícara branca. Ele não olhava para ninguém, mas, por algum motivo, me sentia observada.
Querendo me afastar, entrei no estoque, decidindo limpar e organizar algumas coisas. Foi bom, o tempo passou e eu me distraí, só percebi quando Grace apareceu.
— Camila. — Chamou, a voz baixa, o rosto apreensivo. Me aproximei, preocupada. — Já está na hora de fechar e aquele homem ainda não saiu.
Olhei o relógio em meu pulso. Quase dez da noite.
— Eu acho melhor alguém avisar a ele.
Olhamos uma para outra, sem saber quem o iria fazer. O cozinheiro já havia ido embora, o que nos deixava sozinhas. Aquele homem era um estranho e nunca havia aparecido aqui.
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In The Dark
RomanceQuanto custa a sua vida? A minha valia vinte milhões de dólares. E agora, eu estava fugindo, com a pessoa que deveria ter me matado, esperando o momento em que ele iria concretizar seu objetivo. A pessoas se escondem atrás de peles falsas, que se ra...