Capítulo 4

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Encarei Shawn pela quinta vez nos últimos dez minutos.

Ele comia, concentrado e, como sempre, em silêncio. Cortava a carne habilidosamente e de forma refinada.

— Você vai falar o que quer ou só vai ficar olhando?

Tirei os olhos das suas mãos, constrangida, focando agora em seus olhos, que me encaravam.

— Como assim? — perguntei, bebendo um gole do suco. O olhar que ele me lançou dizia que não estava a fim de enrolação. — Onde vamos hoje?

— Um evento. Eu já disse.

— Evento de quê? — insisti.

Shawn suspirou, largando os talheres e apoiando as duas mãos na mesa.

— Um evento beneficente.

— Das pessoas que estão atrás de mim. — Ele afirmou com a cabeça. Empurrando meu medo dele para o fundo da minha mente, decidi continuar: — Por que vai se arriscar tanto indo lá?

— Se eu me esconder, eles vão pensar que estou com medo. Se eu aparecer demais, vão achar que sou burro. Mas se eu aparecer em um evento da sociedade, onde eles não podem fazer nada suspeito, com você, vão saber exatamente o que eu quero que eles saibam.

Pisquei. Isso era assustadoramente calculista.

— O que você quer que ele saibam? — perguntei, engolindo em seco.

— Que eu não estou brincando. — respondeu.

— Quem são "eles"?

Shawn se levantou, pegando o prato e levando para a pia.

— Vá se arrumar. Sua roupa está em cima da cama. Seja rápida, eu preciso passar umas instruções antes de sairmos. 

E saiu, com Monstro atrás, obviamente. 

Terminei a refeição, indo para o quarto. Um embrulho de plástico estava no colchão e dois saltos brancos no chão. Peguei, abrindo-o e encarando o vestido ali presente. Era preto, com a gola até o pescoço, sem mangas e tinha uma fenda na perna. As costas eram totalmente livres de tecido e minha parte traseira só ficaria coberta a partir do cóccix. O material era leve e marcava a silhueta. 

Era elegante e provocante. Chamava atenção. Era isso que Shawn queria.

Ficando cada vez mais ansiosa, tomei meu banho, passei uma maquiagem no rosto, agradecendo por ter colocado por acidente na mala, e, por fim, vesti a roupa. Caiu como uma luva. Me virei de lado, vendo que parte do volume da lateral dos meus feios ficava marcada, mantendo o ar chamativo do vestido. 

Eu parecia outra pessoa com os olhos marcados pela sombra escura, naqueles saltos e vestida como nunca estive. Minhas roupas eram simples, baratas e poucas, pois era o que dava para pagar.

Aquele vestido era macio, confortável e parecia ter qualidade. Saí do quarto, caminhando até a sala de estar, onde Shawn se encontrava, já devidamente vestido. Durante o tempo que passei com ele, só o vi com camisetas de manga e calças jeans e, no máximo, um camisa de botões. Eram roupas normais, mas nada naquele homem ficava normal. Agora, com um terno e camisa pretos, perfeitamente alinhados em seu corpo, Shawn parecia maior e mais imponente. 

Ele deu um passo na minha direção e, por impulso, dei um para trás.

— Não faça isso. — disse.

— Isso o quê? — perguntei. Shawn avançou mais uma vez e eu me afastei.

— Isso. — Apontou para mim. Se aproximou e, desta vez, fiz um esforço para ficar onde estava. Ele ficou na minha frente, me encarando de cima. Seus ombros ficaram maiores com o volume do terno e era estranho eu parecer tão pequena perto dele. — No lugar onde vamos, você não pode demonstrar medo, ou nervosismo. Se eles notarem que você hesitou por um momento, você morre.

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