— Eu acho que ele vai morrer. — sussurrei para o animal ao meu lado, que encarava o lado fora pela janela.
O homem continuava no mesmo lugar que Shawn o há dois dias atrás. Ele estava acordado, olhava ao redor, mas estava fraco e, apesar de usar roupas de frio, não tinha nada que protegesse o rosto. Provavelmente já estava com os lábios rachados, pupila seca e o nariz cortado.
— Seu dono é maluco. — Continuei. — Eu não o vi levar sequer um copo de água...
— Levei hoje de manhã enquanto você dormia porque é preguiçosa demais para levantar cedo.
Olhei para trás, vendo que Shawn se encontrava desperto, as duas mãos apoiadas atrás da cabeça e o lençol cobrindo parte do corpo desnudo.
— Achei que você estivesse dormindo.
— E resolveu falar mal de mim pro meu próprio cachorro? — Ergueu as sobrancelhas.
— Eu não estava... — Ia me defender, mas desisti, sabendo que era tudo parte da sua provocação. — Você realmente vai deixar ele ali? — Indiquei a janela com a cabeça.
— Vou. — respondeu com simplicidade.
Engatinhei pela cama, até ficar de frente para Shawn.
— Ele vai morrer se continuar ali.
— Não. Não vai.
— Como você tem tanta certeza? — indaguei, sentando-me. Monstro logo se acomodou nas minhas pernas, atraindo o olhar do seu dono.
— Você está transformando meu cachorro em um gatinho carente. — disse, observando o animal fechar os olhos quando acariciei sua barriga.
— Coisas grandes também podem ser sensíveis.
— Ele arranca a garganta da pessoas. — lembrou.
Dei de ombros.
— Todo mundo comete erros. — falei, coçando a parte de baixo do queixo do animal, que se esticou, balançando o rabo. Shawn balançou a cabeça em negação, desaprovando o comportamento do seu animal.
Talvez sentindo os ciúmes do dono, ele se esticou, até que estivesse deitado em cima de nós dois. Shawn também o acariciou, olhando-o com um carinho que eu sabia que só era direcionado ao cachorro.
— Você ainda não respondeu minha pergunta.
Shawn suspirou, me olhando como se eu fosse a pessoa mais chata com quem ele foi obrigado a conviver. Ergui as sobrancelhas, esperando.
— Ele provavelmente já passou por coisas piores. Ele tem treinamento, Camila, não é alguns dias no frio que vai matá-lo.
Assenti, me preparando para fazer a pergunta que estava em minha mente desde que ele havia chegado com esse cara.
— Vai... Torturar ele?
— Não. — respondeu. Foi como se um peso tivesse sidi tirado dos meus ombros. Não conseguiria lidar com uma pessoa, mesmo que ruim, sendo torturada à poucos metros de distância de mim. — Eu não faço isso.
— Por que não quer?
— Porque eu não gosto.
Franzi as sobrancelhas. Não gosta de quê? De ferir pessoas? Ele não gostava do que fazia? Então por qual razão o fazia?
— Aquele apartamento em Toronto era realmente seu?
Shawn bufou, revirando os olhos e jogando a cabeça para trás.
— Você ativou o "modo perguntas" hoje? — perguntou, parecendo entediado. Fechei a cara.
Nunca o havia visto tão relaxado assim. Acho que eu deveria fazer oral mais vezes.
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In The Dark
RomanceQuanto custa a sua vida? A minha valia vinte milhões de dólares. E agora, eu estava fugindo, com a pessoa que deveria ter me matado, esperando o momento em que ele iria concretizar seu objetivo. A pessoas se escondem atrás de peles falsas, que se ra...