O pecado de Siena

9. "Perra Dormida"

- Como esse lugar mudou em um fim de semana? - Espantou-se Siena ao chegar no Syllus Bar às 19h em ponto, ela e Lilly tinham entrada quase VIP.

O pub era um tipo de bar fechado e subterrâneo, cujo o dono era o Sr. Miguel a mais de 15 anos, havia herdado de um milionário rico e sem filhos, enquanto trabalhava de garçom e era seu grande companheiro de jornada. O Sr. Miguel era um homem latino de mais ou menos 50 anos, careca e com um bigode no estilo Frank Zappa, que saiu do Chile para o Brasil quando tinha 28 anos. Seu pub nunca fizera tanto sucesso no centro de Floripa. Sempre estava lotado, as pessoas faziam filas pra entrar, filas quilométricas que demoravam horas. Até que ele começou a perder clientes, pois com a demora, acabavam indo embora. Teve então a brilhante ideia de colocar mesas de espera servindo bebidas lá fora, acabou virando uma festa fora e dentro do pub, ele chamava isso carinhosamente de esquenta.

- Olá, Sr. Miguel. Hoje a casa está cheia, né? - Disse Siena com uma voz doce e amável.

- O-olá, Srta. Siena! É uma honra recebê-la por aqui, está muy hermosa hoje.

- Muito obrigada, Sr. Miguel, são seus olhos!

- O-olhe, lá dentro estão Rafael e Lilly, mi amada Lilly, esperando você!

- Ah muito obrigada, irei encontrá-los. - Disse Siena enquanto descia as escadas que levavam ao bar.

Sr. Miguel sempre tinha uma paciência e gentileza sem igual com os seus clientes. E um cuidado e amor obsessivo pelo seu pub. O Syllus Bar tinha mudado de ares, seu balcão de aço tinha sido substituído por um de madeira maciça com diversos bancos altos, com prateleiras do chão ao teto, cheias de whisky, vodka, rum, gim, vinhos, cervejas e cachaças de todas as qualidades. As luzes amarelas davam destaque aos bartenders devidamente vestidos, com movimentos de Working Flair que surpreendiam qualquer um que pedisse uma simples bebida. As mesas estavam maiores, já não tinham mais cadeiras, agora eram sofás macios e aconchegantes e música muito bem ambientada.

- Aquiiii, Siena! - Gritava e acenava Lilly de uma das mesas.

Rafael havia passado a tarde toda fora da empresa, disse que precisava resolver algumas coisas e aparentemente ainda não havia chegado no Syllus.

- Oi Lilly, caramba... Quase não conseguia chegar até você, o Syllus hoje está lotado! - Dizia Siena impaciente com a quantidade de gente esbarrando nela.

- Augusto... - Lilly chamou um garçom novato. - Tudo bem? Ó, vou querer outra Pina Colada dessa e o drink especial "Perra Dormida", o Sr. Miguel sabe qual é!

- Oh sim, sim... Meu drink favorito! - Siena batia palminhas de emoção pelo seu famoso drink verde com sabor de kiwi.

- Sinta-se lisonjeada, ele foi criado especialmente pra você!

- Perra Dormida é um ótimo drink pra essa noite, Siena! - Uma voz masculina pairou sobre a conversa.

Siena estremeceu ao reconhecer a voz. Rafael tinha acabado de chegar.

- Meu amor!!! - Berrou Lilly levantando-se e dando um monte de beijos em Rafael. - Finalmente você chegou...

- Desculpe a demora garotas... - Olhou pro relógio e viu que já eram 19:30h - Precisei resolver umas demandas urgentes!

Ele deu um beijo discreto em Lilly e dois beijos nas bochechas de Siena.

- Siena, teve algo importante no escritório? - Perguntou com seriedade.

- Não, tudo tranquilo. Fiz o que você havia me pedido!

- Ah meu amor, já organizei tudo pra nossa viagem de fim de semana. - Lilly agarrou Rafael.

- V-vocês vão viajar? - Perguntou Siena espantada.

- Sim amiga, desculpa não ter chamado você e Antony, é que eu nem sabia que vocês estavam ficando e pensei em uma viagem à dois mesmo!

O drink "Perra Dormida" havia acabado de chegar na mesa deles e Siena tomou de uma vez sem fazer cara feia. Rafael e Lilly se assustaram.

- Vai com calma, Siena! - Disse Rafael. - Você tem que beber isso devagar...

- S-sim, pra não passar mal, sua louquinha! - Lilly sorriu sem graça. - Você não ficou chateada por não ter chamado você e Antony né?

- N-não amiga, tudo tranquilo, inclusive eu não tô namorando Antony - Disse Siena acenando pra Augusto. - Só estamos nos pegando muito forte!

Rafael franziu a testa e o garçom chegou à mesa.

- Outro Perra Dormida por favor, mas olha, pede pra ele caprichar no álcool... Hoje eu quero me divertir pra valer! - Siena pediu um pouco alterada.

- B-boa amiga!

- Um Dry Martini por favor! - Pediu Rafael ao garçom.

- Olha só quem está ali... A galera do meu escritório!!! Será que estão dando uma festa e não me convidaram? Calma pessoal eu já volto!

Lilly se levantou e foi até um grupo de pessoas que bebiam animados.

- Então você está pegando forte o cozinheiro? - Cochichou Rafael.

- Então você vai viajar um fim de semana inteiro? - Ela provocou.

O garçom chegou trazendo o "Perra Dormida" e Siena virou o copo mais uma vez.

- Traz outro, Augusto! - Falou sem pestanejar batendo o copo na mesa.

Augusto prontamente foi até o Sr. Miguel solicitar mais.

- Acho melhor você ir com calma!

- Você não manda em mim seu playboy engravatadinho. - Ela se irritou. - Você namora a minha melhor amiga, me provoca de todas as maneiras e fica com ciúmes. O que você quer de mim?

- Siena, esse drink mal tem álcool pra você estar bêbada, é melhor se acalmar.

- Eu não estou bêbada, simplesmente não aguento mais ficar calada, você é um cachorro... - Siena se levantou e foi até perto dele. - Porque você não deixa eu te agarrar aqui? Sabe porque não deixa? Porque você é um covarde, Rafael Baudin!

- A gente conversa melhor em outro lugar...

- Eu não quero ir pra outro lugar com você... E quer saber? Eu vou fazer uma fila de homens e dar pra todos eles. A boceta que você ia comer, não vai mais. Você não vai ter o que quer!

Rafael baixou o tom de voz, agarrou o braço dela e chegou perto do seu ouvido.

- O que você quer? Que eu te foda aqui na mesa? Que eu levante sua saia e meta com você na frente de todo mundo?

Siena se calou e estremeceu. A raiva se misturava com o tesão, o sentimento de culpa se misturava outra vez com o frio na barriga, as ondas e sensações de desejo invadiam todo o seu corpo cada vez mais forte. Ela estava tentando se segurar ao máximo, mas aquelas vontades pareciam ser mais fortes que ela.

- S-seu... Idiota! - Ela se levantou e saiu correndo para o banheiro.

Rafael deu um sorriso no cantinho da boca, tomou dois goles do seu Dry Martini e seguiu atrás dela.