XIV- Talvez

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Hayley

Talvez. Essa é a palavra que reverberou em minha cabeça quando pensei que teria uma chance de sair daqui. Talvez eu consiga despistar a doutora; talvez eu consiga passar pelos guardas; talvez eu consiga achar uma saída; talvez...

Não. Devia saber que as coisas são bem mais complicadas que isso. Devia saber que o mundo sempre acha uma forma de brincar comigo. Se apenas eu tivesse aprendido a me contentar com isso antes, não teria passado por mais uma decepção.

Uma, duas, três horas.. Um, dois, três dias. E nada. Nada além de um monte de perguntas e momentos de ansiedade que me assolam. O mínimo que eu deveria receber é uma explicação, porém nem isso eles se dão ao trabalho de fazer. Enquanto isso, tudo que posso fazer é criar teorias em minha cabeça e uma vez ou outra tentar fechar os olhos e dormir mais do que duas horas.

Sou algo, sei que sou. Importante ao ponto de eles pararem todos os experimentos? Pensei que não, mas aparentemente sim. Anne me pareceu surpresa, atônica e... contente? Não sei dizer. Tudo que eu quero é saber o que está acontecendo, mas eles não me dizem, nem mesmo abrem a porta. Cada barulho que eu ouvia do lado de fora, e não eram muitos, me deixava com o coração acelerado, querendo saber, esperando o momento de finalmente me contarem que merda está acontecendo e...

— Psiu. Hayley. Tá acordada? — escuto a voz de Joey na cela ao lado.

— Estou sempre acordada. — falo passando as mãos no rosto.

— O que você acha que eles descobriram? — ele pergunta da mesma forma agitada de sempre.

— Você já me perguntou isso milhares de vezes e eu vou responder da mesma forma que respondi todas as milhares de vezes: não faço a menor ideia. — respondo fechando os olhos.

— Mas e se... — Joey continua, mas eu o interrompo.

— Olha... não quero mais falar sobre isso, beleza? Já não basta minha cabeça remoendo isso o dia inteiro, pensando e pensado até meu cérebro cansar ou fritar. — digo um pouco irritada.

— Tá legal. Me desculpa. — ele diz parecendo entender do que estou falando — Podemos falar de outra coisa se quiser. Para distrair a sua cabeça de... você sabe... o que ela fica remoendo e seu cérebro fritando pra pensar.

Solto um suspiro alto, cansado. Não sei se quero conversar agora. Parece que nem tenho tempo ou forças para mover minha boca, pois meu cérebro está mais ocupado ruminando tudo que aconteceu a três dias atrás, tentando juntar peças que não parecem se encaixar. Porém talvez eu precise de distração, e Joey é ótimo nesse quesito.

— Tudo bem. Sobre o que quer falar? — pergunto me aproximando da parede — Por favor não venha com essa coisa de "De volta para o futuro" e suas teorias sobre viagem no tempo.

— Ei! Qual é o problema com minhas teorias, muito bem construídas por sinal, sobre viagem no tempo? — ele diz parecendo ofendido.

— Isso não existe — respondo de forma breve e concisa.

— E apocalipse zumbi também não até dois anos atrás.

— É justo — aponto concordando com a cabeça.

— Sabe de uma coisa? Eu sempre vivo falando de mim... — Joey começa.

— Talvez porque você fala demais... — eu complemento.

— E você nunca fala quase nada sobre sua vida — ele termina.

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