XXIV - O clipe de papel, o apontador, a borracha e o boneco de lego

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Claire

Pedaços de gesso voam em direção ao meu rosto quando o tiro acerta a superfície branca da quina da parede. Se eu tivesse levado mais dois segundos para virar o corredor e me esconder atrás dela eu estaria morta.

Os tiros cessam, porém os passos se aproximam e eu sou forçada a largar minha arma ao notar que estou sem munição. O cheiro de fumaça atinge minhas narinas me deixando enjoada, mas o incômodo vale a pena, já que é graças a ela que os próximos corredores estão vazios.

Ao me deparar com uma bifurcação, pego o corredor da direita, esperando que os guardas se dividam, e isso me dê uma vantagem. Me escondo atrás da segunda porta que vejo e assim que um deles aparece em meu campo de visão, acerto minha faca nas suas costas e o puxo pela manga do uniforme. Em seguida, pego a arma que caiu da sua mão e checo se ela ainda tem balas, agradecendo aos céus por encontrar o carregador praticamente cheio.

Disparo contra dois oficias que aparecem na porta e tomo cuidado para acertar uma região não letal. O segundo se mantém de pé, mas eu deslizo minha perna, languidamente enganchando seu calcanhar, e então seu corpo cai de forma brusca. Observo o símbolo em seu uniforme e a cor amarela ao redor dele é reconfortante.

Olho o relógio no pulso do oficial que alterna seu estado entre desacordado e parcialmente consciente. Suspiro de forma apreensiva e decido que vou seguir o plano e esperar o máximo de tempo que ousar.

Infelizmente, o oficial que aparece na porta com sua arma apontada diretamente para mim impossibilita meu raro momento de paciência. Ainda que ciente de que teria que ter a agilidade de um guepardo para atirar no guarda antes que ele o fizesse contra mim, minha primeira reação é levantar minha arma.

O tiro não foi necessário, pois dois segundos depois o guarda já estava no chão com três tiros em seu peito. Dois segundos são realmente muito tempo. Coloco apenas minha cabeça para fora da porta e dou de cara com Thomas, com o cano da arma ainda apontado para frente.

- Se perdeu pelo caminho Hoffman? - provoco ao entrarmos na sala.

- Estava muito ocupado matando os oficiais da área que você deveria ter limpado - ele retruca, se abaixando ao lado dos oficias caídos no chão - Amarelo?

Concordo com a cabeça e levanto o braço do oficial, logo soltando o membro que cai mole no chão.

- E desacordado.

Com um trabalho em dupla surpreendentemente eficaz, levantamos o oficial e deixamos a sala, seguindo pelo corredor em direção a saída do posto da OISH. O local está vazio e a fuligem já começa a cobrir o chão branco.

Já estamos praticamamente alcançando a porta de saída quando Thomas faz um sinal para paramos e observa com atenção o hall a nossa frente. Ele faz um gesto com a mão para que eu segure o oficial e eu assinto, por mais que já esteja fadigando. O único barulho existente é o de nossa respiração e os passos de Thomas contra o chão.

Algo está errado.

Um objeto metálico desliza pela superfície de cimento queimado em nossa direção apenas para comprovar minha suspeita.

- Se abaixa! - Thomas esbraveja e corre na minha direção.

Ele se joga contra mim e caímos no chão no momento em que o barulho estrondoso da granada e a explosão incandescente nos atingem.

Dois dias atrás

Minhas mãos massageiam minhas temporas enquanto debruço meu corpo contra o parapeito que fica no terraço da construção onde estamos. Consigo escutar passos cauteloses se aproximando, porém não me dou o trabalho de virar o rosto para ver quem é até avistar de esguelha Thomas se recostar ao meu lado, imitando minha posição.

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