Thomas
A cena na minha frente com certeza não é algo bonito de se ver.
Não consigo tirar os olhos da faca cravada na coxa do oficial, com o sangue escorrendo morosamente pelas laterais, apenas aguardando a retirada do objeto para se transformar em uma fonte capaz de extrair a vida do homem em poucos minutos.
Preciso direcionar meu olhar para qualquer outro lugar na tentativa de cessar uma maldita dor psicológica que começa a surgir na minha coxa. Faço isso para então me deparar com Claire ao meu lado, sem nenhum resquício de que está abalada em seu rosto. Seu maxilar está rígido, seus braços cruzados na frente do corpo como uma armadura e seus olhos nem mesmo se movem, fixos no interrogatório que seguiu mesmo com a agitação geral da descoberta de uma possível cura.
— Eu só vou perguntar mais uma vez — Alef ameaça, com sua voz grossa e contundente — Qual é o plano da OISH? Como podemos invadir o prédio?
O homem cospe sangue no chão e desafia Alef com o olhar, tentando mostrar resistência. Seria convincente se seus olhos cheios de lágrimas e suas mãos tremendo não o traissem, entregando que estava prestes a ceder.
E Alef penetrando a faca mais fundo em sua coxa — o que não pensei ser possível até agora — foi a gota d'água para comprovar o que eu já imaginava.
— Está bem, está bem! — ele exclama em desespero e faz uma pausa, ainda hesitante em fornecer informações — O prédio... o prédio é como um forte. Ele possui sistemas de alarmes, barreiras e muita vigilância. Mas há uma brecha.
— E onde exatamente fica essa brecha? — Alef questiona.
— Na parte leste do prédio. Nós últimos meses tivemos problemas na estrutura. Faltou luz, água e por isso foi preciso evacuar a área. Um mês atrás uma parte da construção cedeu quando errantes invadiram o local — o oficial começa a tossir e mais sangue escorre por sua boca, se misturando ao suor que recobre sua face desfigurada — Agora a área está praticamente abandonada, porém ainda é uma conexão subterrânea entre a parte externa e a sede.
— Então se entrarmos por essa área leste nós conseguimos invadir OISH? Sem patrulhas, sem câmeras, um caminho livre?
— Sim.
— Se te mostrarmos um mapa, consegue apontar as direções que precisamos seguir?
O homem inclina o rosto para baixo de forma que seu queixo encosta no peito. Ele está pálido e, dadas as condições, possivelmente fraco, indicando que não está disposto a oferecer resistência.
Um mapa é colocado na sua frente e com um pequeno incentivo ele mostra os locais exatos que Alef pediu.
— É isso? — a morena de cabelos cacheados surge ao lado de Alef — Acha que agora temos chance de acabar com a OISH?
A risada escarnecedora do oficial chama a atenção de todos da sala. O homem balança sua cabeça e encara o grupo na sua frente com uma expressão de incredulidade.
— Vocês são mesmo um bando de rebeldes ingênuos, tolos e cheios de si não é mesmo? — mais tosses e mais sangue — Acham que vão acabar com a OISH se acabarem com a sede?
— Do que você está falando? — Alef pergunta com o cenho franzido.
— Nós somos maiores do que você pensa — o oficial abre um sorriso cínico e estala a língua como se achasse toda essa situação hilaria.
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Jogo de Sobrevivência
Novela JuvenilE se o mundo que conhecemos não existisse mais? E se boa parte da população mundial estivesse morta e aqueles que restaram estivessem em guerra? O mundo não é mais o mesmo. Após um vírus se espalhar, pessoas começam a se transformar em monstros qu...