XVI - Comunidade funcional

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Thomas

Escuto batidas na minha porta e bufo enquanto coloco algumas roupas, comidas e materiais em uma mochila. Não tenho muitas coisas para chamar de minhas, então passei na despensa para pegar ao menos produtos e objetos que eu vá precisar na estrada.

Mais batidas.

— James, eu já falei que não quero explicações, nem desculpas e muito menos conversar — falo em um tom sério e irritado.

Consigo ouvir a porta sendo destrancada e percebo que James provavelmente conseguiu a chave do meu dormitório.

— James eu... — falo me virando assim que a porta é aberta, mas ao invés de James, vejo Abigail parada do lado de fora.

— Acredito que a gente precise sim conversar Sr. O'Donnell — Abigail fala com calma e vejo Hunter parado atrás dela com sua cara emburrada de sempre.

— Não temos sobre o que conversar. Vocês são todos um bando de malucos, apáticos e sem escrúpulos. E eu vou cair fora daqui — digo e fecho minha mochila rapidamente.

Passo por Abigail sem olhar em seu rosto e tento sair pelo corredor, porém Hunter para na minha frente me olhando com olhos franzidos e o maxilar cerrado. Tenho que inclinar bem minha cabeça para cima para olhar para ele.

— Vou tentar mais uma vez. A gente precisa conversar — Abigail fala com sua ternura exagerada de sempre — E isso não é um convite — ela completa com um tom mais severo.

                                     ...

Meus pés batem no chão sem parar por causa da minha ansiedade eminente. Passo a mão no rosto e olho para o lado, notando a porta sendo vigiada.

— Isso é para a minha e para a sua segurança. Você não é um prisioneiro aqui Ethan — Abigail fala chamando minha atenção de volta para ela.

— Não é o que parece — retruco.

Abigail suspira e se senta em uma cadeira na minha frente.

Estamos em sua sala, a mesma em que estive quando ela me entrevistou no dia que cheguei aqui.

— Sei que tem perguntas e... — Abigail começa a falar.

— Não tenho perguntas. Sinceramente, não quero conversar com nenhum lunático daqui, só quero ir embora — a corto, falando em um tom rude.

Abigail parece parar para processar o que acabou de ouvir ou tentar achar palavras para me convencer. Por fim ela se levanta e caminha pela sala.

— Sabe qual é a parte mais difícil de se construir uma comunidade? Mantê-la funcionando — ela começa a falar de forma vagarosa — Achar suprimentos, limpar, construir, plantar, cozinhar, proteger, concertar... tudo isso só é possível porque as pessoas funcionam.

A mulher de cabelos já grisalhos para e se vira para mim, com um olhar cansado, e então continua:

— Esse mundo enlouquece as pessoas...

Claramente.

Chega um momento em que não temos mais forças para continuar, porque simplesmente não há algo pelo qual vale a pena viver. Ficamos cansados, desestabilizados e não temos ânimo para continuar fazendo o que precisamos fazer — ela complementa, parecendo disposta a me convencer.

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