-cap 32-

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Íris esperou Bucky dormir para poder se levantar e pegar o notebook na mochila escorada na parede.

Ela se sentou na mesa da cozinha, ainda com o homem no campo de visão e ligou o aparelho.

O fundo de tela era uma foto dela e de Morgan sorridentes brincando na beira do lago, a mulher colocou seus óculos, olhando a imagem mais nitidamente.

O contato de Mary estava aberto com mais mensagens do que ela poderia contar, a maioria eram relatórios das garotas do santuário, mas também haviam fotos.

Ela quase sempre ignorava essa parte das coisas, mas sua curiosidade falou mais alto naquela noite.

Íris ainda sabia o nome da maioria das ex viúvas abrigadas, reconheceu Amélia e Asty, as duas meninas de 6 anos inseparáveis brincando no balanço de pneu.

Viu Angeline dançando Ballet em uma das salas da grande casa.

Viu as mais de 40 garotas sentadas em um grande circulo no jardim ao redor de uma fogueira, elas pareciam felizes.

Segundo os relatórios, Anna se formaria em direito em Julho e havia enviado um convite para ela, esperando uma confirmação.

Ela seria a primeira das meninas a se graduar.

Íris, sem pensar muito, mandou a confirmação que estaria lá.

Tinha 5 meses para se preparar psicologicamente para conversar com alguém igual a ela.

A mulher encarou as fotos por mais um tempo, todas as pessoas ali um dia foram afetadas pela sala vermelha.

Todas vitimas do tráfico humano, todas traumatizadas, todas carregando um passado feio e doloroso, todas sem documentos e sem mesmo se lembrar de sua família biológica.

Nos últimos meses, Yelena havia enviado mais de 15 viúvas já fora de controle mental para o santuário, mas nunca o visitado.

Nunca a procurado também.

Íris escorou a cabeça na mesa, deixando os pensamentos voarem de sua cabeça.

A mulher se atentou que Bucky murmurava alguma coisa enquanto dormia, logo se levantando e se aproximando 

 — é só um sonho ruim — ela segura a mão do mesmo, que suava frio, se sentando novamente no chão — só memórias ruins, não vai acontecer de novo — fala fazendo um carinho leve com o polegar na palma dele — ...não vai acontecer de novo—.

Bucky voltou a dormir tranquilamente, mas ela continuou lá por um tempo.

A respiração pesada dele sendo um compasso confortável e previsível.


O relógio na parede indicava que já passava de uma da madrugada.

A mulher se levantou novamente, indo buscar a pequena caixinha em sua mochila, talvez, só talvez, ela não pudesse mudar o horário de sua medicação, mas estava funcionando nos últimos meses.

Os seis comprimidos brancos e redondos na palma da mão, ela os engoliu de uma vez, sentido toda aquela droga legalmente permitida descer por sua garganta.

Seria uma hora bem confusa.

Dormir não era uma opção, tudo em sua mente ficava confuso de mais e os pesadelos atingiam outro patamar de realidade.

Íris andou até a janela, observando o mar escuro e convidativo.

O som das ondas batendo contra o barco ainda quebrado.

Saiu da casa em silêncio, sem se importar com o frio cortante que pairava.

O vento zumbiu em seus ouvidos quando ela se aproximou do limite das docas, os cabelos voando com o ar salgado.

Uma euforia inexplicável a atingiu.

Íris subiu no degrau fino que delimitava o fim do caminho de madeira, o frio tocando seus pés descalços

  — arabesque — ela murmurou se apoiando apenas em uma das pernas, estendendo a outra para trás e alongando os braços de forma graciosa.

A força acumulada em um só ponto do corpo para o resto parecer leve, ativando a memória muscular de seu corpo.

Natasha havia comentado sobre o quão relaxante aquilo era quando não tinha ninguém gritando ou com uma vara pronta para te corrigir.

Íris riu consigo mesma ao perceber que havia sim algo de relaxante naquilo, algo bonito.

 — grand Jeté— preparou o salto, tirando os dois pés do chão, sempre lhe pareceu interessante como a abertura fazia parecer que o pulo era mais alto.

Ela pousou, firmando os pés na linha fina de madeira novamente, ouvindo o barulho oco da tábua reclamar.

As sapatilhas de ponta não faziam falta alguma, o frio em contato com a pele pareceu libertador.

— Échappé — murmurou saltando com as duas pernas — e pilé — pousou flexionando levemente os joelhos, o olhar direcionado para suas mãos, a forma como até o metal escuro parecia gracioso.

Ela estendeu a mão para cima, formando um meio arco sobre sua cabeça, o olhar a seguiu, reparando na lua erguida no céu.

Um preparo simples para o giro, Íris flexionou as pernas no pouco espaço que tinha, subindo na meia ponta enquanto a outra perna foi suspensa, o pé descansando acima do joelho em uma pirueta.

O mundo pareceu borrado ao seu redor, ela tomou a casa de Sam como ponto de referência

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Ela desceu da meia ponta, usando a outra perna e o tronco para ter impulso novamente, perdendo a conta de giros e pousando na mesma posição em que começara.

A respiração ofegante fez seu peito subir e descer.

Algo chamou sua atenção em meio ao oceano.

Uma luz vermelha distorcida pela distância.  

Distante, bem distante.

Íris riu, sentindo a euforia extrema tomar conta de seu cérebro.

distante, distante, distante.

Poderia ser apenas um delírio 





continua...

dando leves spoilers do rumo que o livro vai seguir rsrs.

Entendam que comigo, nada nunca é por acaso...

Prontos? assustados? 

votem e comentem <3

Iris // Bucky Barnes {livro 02}Onde histórias criam vida. Descubra agora